quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Inusitada Despedida

O baile era bom, mas tão bom, que as horas eternizaram o momento. Todos os casais estavam dançando carinhosamente, apertados de tal forma, que nenhuma agulha passava entre eles, as mágoas do passado desapareceram de forma imediata. Os passos eram dados de forma ordenada, ninguém cometia erro, os pés não se chocavam, somente obedeciam ao som da música. O violeiro em cima do tablado fazia a gaita chorar uma inesquecível valsa, evocando a boemia e a traição do caminhoneiro. A concentração era total, as pessoas que estavam sentadas na mesa, tomavam lentamente uma cerveja bem gelada. O garçom andava de um lado para outro, observando se havia algum cliente a ser atendido.
                A música mudou de rumo, o tango de Carlos Gardel se fez presente. O dono da Bodeguita, em obediência ao pedido de um cliente, deixou o ambiente mais escuro ainda. Dois casais deixaram a pista de dança, eram iniciantes no tango, precisavam de algumas horas a mais de dança. Oito casais permaneceram dançando, mostravam a arte dos passos mágicos. O clima tornou-se mágico, a emoção ficou forte, a música de Gardel abriu o coração dos dançarinos, ninguém queria que a música terminasse. Aliás, há momentos na noite, na dança, que nunca deveriam terminar.
                Fátima e Paulo, um casal vindo do interior de Santa Catarina, mais precisamente de São Miguel do Oeste, era o que mostrava competência no vai e vem das pernas e dos braços, obedeciam ao ritual do tango argentino. Rosto colado, olhos semi-fechados, o casal deslocava-se pela pista de dança como se estivesse no ar, sem encostar os pés no chão. Já Salete e  Fernando, casal menos experiente na dança, percorria a pista observando os outros casais, como forma de aprender. Assim, todos iam ao infinito, deixando o tango acariciar a face da alma de cada um, abrindo o coração, relaxando as partes rígidas do corpo, tudo em nome da arte da dança.
                No canto do salão estava Jorge, em pé, esperando que Maria chegasse para que os dois participassem de mais uma noite de dança. Ele era frequentador assíduo da Bodeguita há mais de dez anos, sem perder um final de semana. Fazia da noite a sua casa, era viúvo e não pretendia viver com mais ninguém. Enquanto viveu casado, foi um homem caseiro, fiel, mas o destino escreveu a sua vida de outro jeito. Os seus olhos mostravam ainda a saudade de sua companheira, mesmo dançando e ficando com outras mulheres, Jorge não assumia nenhum compromisso.
                Já meio cansado de dançar, agradeci Marlene pelos momentos apaixonantes em trocar os passos ouvindo Carlos Gardel e me aproximei de Jorge, para trocarmos algumas palavras. Naquele dia, ele estava mais triste, fazia exatos dez anos da morte de Juliana, a sua eterna mulher. Jorge era o melhor amigo que eu tinha na noite, éramos confidentes em tudo. Em muitas brigas que provoquei foi Jorge, que no final de tudo, sempre me defendeu. Após cumprimentá-lo, disse-lhe:
                - Hoje você está mais triste, os teus olhos não estão aqui. Devem estar em outros cantos, talvez distantes, tão distantes que somente os teus pensamentos alcançam.
                - Amigo, você me conhece. Hoje, 23 de dezembro de 2005, faz dez anos que a minha companheira foi morar no segundo andar da vida. E para completar, ao chegar neste recinto, era a música de Carlos Gardel que tocava. Vou dizer uma coisa para você: eu aprendi a dançar tango com ela, viveu muitos anos na Argentina. Trabalhou nos melhores cabarés portenhos, chegando a dar aula de tango.
                - Mas você não pode ficar parado no tempo, é preciso sair do lugar, dar os passos em direção ao amanhã, a fila anda amigo, por mais que a gente não queira. – disse a ele tentando mostrar o outro lado da moeda.
                - Companheiro, você é diferente de mim, é poeta, conhece melhor a alma da mulher, sabe administrar melhor a perda de um amor. Eu não sei e ninguém me ensinou esquecer a pessoa que a gente ama. Eu nunca disse isso para você, eu tenho pouco tempo de vida. Carrego comigo uma doença, talvez não chegue até o próximo natal.
                - Não fale bobagem amigo, você não fuma e não bebe. Pratica esporte todos os dias e leva uma vida tranquila, sem exageros.
                - A saudade é uma doença, amigo, silenciosa, mata aos poucos, como cupim. Às vezes eu tenho uma forte dor nas costas, já fiz todos os exames e nada foi encontrado, é o mal que trabalha silenciosamente.
                Tentando mudar o pensamento de Jorge, fiz uma revelação:
                - Vamos mudar de assunto. Eu tenho uma novidade para você. A Terezinha revelou-me que está apaixonada por você e até me pediu para que fizesse a ponte entre vocês. Como você sabe, a Terezinha foi um caso meu há dois anos, mas não progrediu. Agora quer fazer parte da tua vida. Ela é gente boa, honesta, dança muito bem e é muito bonita.
                - Você não tem jeito mesmo! Chico, amigo Chico, você é um grande coração. Você é quem deveria ficar com ela, não eu. Você não gosta de loira?
                - Claro que gosto, é o meu tipo de mulher. Adoro me perder num imenso cabelo loiro!
                - Então?
                - Eu não sou um homem fiel. – respondi.
                - Ela não faz o meu estilo, até mesmo na cama, para mim ela é meio desajeitada. Nada contra, mas o sexo é importante numa relação. Quando não há química, o sexo vira uma formalidade, o melhor é sair de mansinho. O amor e a química necessitam profundamente estarem juntos. Um não vive sem o outro. Assim é com a Terezinha. A mulher tem que ter desejo pelo homem que vive, se não tem é porque não vê o homem como sendo seu.
                - Concordo com você. Assim foi o meu caso com a Janete. Vive pelos cantos chorando de amor por mim. Quando fazia amor com ela, parecia uma tremenda chateação, sem emoção alguma. Às vezes é preferível viver sozinho, morrer nos braços da noite.
                O papo com Jorge estava bom, até ajudou-lhe a sair da saudade em que se encontrava. Ficamos ali de pé, ouvindo a música do competente violeiro, que naquele instante começou a tocar uma música gaúcha. A melodia que estávamos ouvindo falava do cheiro da terra e dos pampas. Para completar o clima, procurei por Rose, uma gaúcha de primeira. Peguei-a pela mão e fomos para o centro do salão. Rose era uma linda loira, com um corpo espetacular, sabia dançar, parecia uma pluma. O Jorge não se fez de rogado, foi atrás de Terezinha e se jogaram na pista. Nenhum outro casal ousou nos atrapalhar. Tomamos conta da pista e, o violeiro, acostumado em nos ver dançar, aumentou o sacolejo da gaita. Dançamos por mais de meia hora, e as pessoas que estavam sentadas nos aplaudiram de pé. Éramos os reis da dança, em total harmonia com a música, com o universo, deixando a alma comandar nossos passos. Nesse momento, a emoção foi às alturas, os meus olhos ficaram marejados e Rose me beijou, dizendo:
                - Chico, hoje, eu, você, o Jorge e a Terezinha poderíamos até morrer, tamanha é a emoção. Esse salão de baile não é nada sem nós. Mostramos, da nossa forma, do nosso jeito, como se dança, mesmo trazendo dentro do coração um pesado fardo de sofrimento. Quando dormir, ao amanhecer, vou pedir a Deus, que me leve no final de um baile, assim irei para o céu, carregada pelos anjos que tocam viola. Como escritor que você é, vai saber escrever o que está se passando entre nós.
                Não disse nada para Rose, apenas mostrei pelo olhar, que a noite tem uma mágica que nos torna pessoas resignadas perante a morte, que eu também gostaria de morrer logo após um grande baile. Jorge e Terezinha juntaram-se a nós e disseram:
                - Chico, hoje é um dia especial! Talvez não haja um amanhã, mas o dia de hoje é tão bonito, que não haverá necessidade de outra noite. Os momentos não deveriam ser comparados entre eles, porque sempre haverá um inesquecível. Não se esqueça da conversa que tivemos hoje. E, se porventura, um dia eu venha a sair da noite, escreva sobre os nossos momentos, porque jamais serão esquecidos. Você, amigo Chico, tem um missão: contar para todos o que é viver na noite.
                Olhei para eles e o meu coração sentiu tudo, a minha alma sorriu. Lá no fundo, o violeiro, observando, recomeçou o baile tocando a música “O último Encontro”. A noite continuou até o amanhecer, e eu acabei o meu baile na casa de Cláudia. Há muito esperava por esse momento. Jorge levou Terezinha em casa e, em seguida, iria deixar Rose no seu apartamento. Assim que chegamos à casa da Cláudia, ouvimos uma ambulância gritando por todos os cantos, estava indo atender um acidente no trevo da BR 282, onde um carro havia se chocado, em alta velocidade, contra a traseira de um caminhão parado na pista.
                O baile para Jorge e Rose tinha finalmente terminado. Hoje eles estão dançando como dois mestres no além, ouvindo os anjos violeiros cantar as belas canções, que somente os cantadores da noite entendem e compreendem.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Tributo à Noite

Quem traz dentro do ser a semente da noite
Nunca desaparece
Apenas adormece
Dá um descanso para que as raízes da boemia
Se fortifiquem
Voltem com força renovada
Pronta para mais um período de profundas noitadas

Viver na noite é como sentir o aroma dos deuses
Beber água cristalina
Ou mesmo degustar um vinho seco
Ao lado de uma linda mulher
Perto de uma lareira em dia de chuva e frio
Fazendo amor com toda sensualidade possível

Quem inventou a noite
Sabia que os seres humanos necessitam da escuridão
Para ouvir a musicalidade do universo
O som do infinito
Porque as coisas do coração
Da mente
Acontecem no período em que o Sol fecha os olhos
E a Lua caminha pelos recantos da terra
Clareando as mentes dos amantes

Imagine uma noite de outono
Dançando com a mulher amada
Ouvindo as declarações de amor
Sentindo o perfume do seu corpo
Pedidos de prazer...

Imagine uma conversa com as estrelas
Ouvir as histórias sobre viagens siderais
Promessas de casais apaixonados
Que nunca foram concretizadas
Segredos dos amantes que foram embora
Com a chegada
Da inevitável morte

Pense como é gostoso sentir o vento fresco
Numa noite de Verão
Escutar a conversa vinda
Das suaves rajadas
Que viaja centenas de quilômetros para
Dar um meigo beijo no rosto das pessoas
Que vivem no encanto da madrugada

Noite insaciável
Madrugada sem fim
Ainda morrerei nos teus braços
Na calada de uma inesquecível escuridão
Sendo levado pelos deuses
Criadores da sombra...

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A Dívida

Não acredito no que estou vendo, já passa da meia noite, nem mesmo a claridade da lua apareceu. Poucas estrelas no céu, tudo está muito escuro, talvez mais escuro que a minha alma. Para ajudar na sensação de medo que toma conta de mim, uma névoa paira sobre o lago, que até ontem era possível ver o fundo, os peixes nadando. O vento que soprava na copa das árvores em volta do lago, foi soprar em outro canto. Não tenho sossego, percebo que algo está para acontecer. As trevas estão presentes, anunciando a cobrança. A minha saída daquele lugar é o motivo da reviravolta que não sei aonde vai dar. A coruja preta volta a cantar em cima de um galho seco de aroeira, não sei se está contente ou com receio do que está por acontecer. Uma cobra está rastejando a caminho do lago, está com sede, ou em busca de comida. Procuro uma pedra para sentar, não tenho forças para continuar correndo, estou fugindo do medo, quero me esconder, alguém me cobra não sei o quê.
            De repente, ouço um grito pedindo ajuda e dizendo que não vou conseguir sair do lamaçal. Tento tapar os ouvidos, mas não adianta, o grito vem de dentro da minha alma. A voz me diz que preciso cumprir a promessa, os anjos negros precisam de mim. Vou até a beira do lago, sinto o cheiro de podridão. Engraçado, até ontem a água desse lago era limpa e com perfume de natureza. Quando tento molhar as mãos na água, uma voz grossa e forte diz:
            - Não encoste a mão na água! Você não merece se lavar, a limpeza não te pertence! Você é mais sujo que essa água!
            Olho para todos os lados e não vejo ninguém, somente o barulho da jararaca nas folhas secas, correndo atrás de um camundongo para se alimentar. A coruja continua cantando, como se fosse uma orquestra infernal, parece que ela está fazendo um fundo musical. Num galho seco, mais na frente, dois corvos abrem o bico, querem carne fresca e me olham com os olhos avermelhados. Tento mais uma vez molhar as mãos e a voz reafirma:
            - Não tente! Porque se você colocar a mão na água será engolido pelo lago, assim como aconteceu com a maioria dos endividados que ousaram descumprir o meu aviso.
            - O que eu faço aqui? Por que estou na beira do lago, em vez de continuar o caminho? – perguntei para a voz que a cada momento se mostrava mais sombria.
            - Você sabe porque está aqui. Não cumpriu a promessa, e todos aqueles que não cumprem o prometido, serão cobrado nos quintos dos infernos e irão apodrecer no fundo do lago. Nós fizemos a nossa parte, hoje você é um homem rico, deixou de fazer parte dos favelados do morro. Tem tudo que quer: dinheiro, mulheres bonitas, carros importados, viaja para todos os lugares, enfim, é o cara!
            - Não me lembro de promessa alguma! – respondi sem pensar muito, apenas queria sair dali, o cheiro do lago estava me amedrontando, com vontade de vomitar até as tripas. Ratos vinham beber daquela água imunda.
            - Você é engraçado! Quando era pobre e passava fome, pedia ajuda aos céus e aos infernos. Acendia vela para tudo que é santo, nunca se preocupou em saber para quem estava rezando e para quem estava suplicando. Eu estava quieto no fundo da caverna, brincando com as minhas mulheres. Gostei da forma que pediu ajuda e resolvi te ajudar, montei uma equipe para fazer de você um homem rico e poderoso. Achei interessante a forma do pagamento do meu serviço, mas até o momento, depois de vários anos, nada de concreto veio da tua parte.
            - Não sei do que você está falando! – falei - já cansado e com receio do que poderia acontecer comigo.
            - É bem isso mesmo! Todos os ricos do mundo são assim. Pedem ajuda para ganhar dinheiro e quando conseguem, esquecem das promessas feitas na agonia da miséria. O dinheiro, meu caro, é coisa do mal, não traz felicidade e sim uma falsa satisfação que aos poucos vira melancolia. Alguém já disse há muito tempo que é mais fácil um camelo passar num buraco de uma agulha do que um rico se salvar. Lembra dessas palavras? Acredite em mim, assim, você vai saber que estou presente na tua vida. Eu existo, cara! Não duvide do que sou capaz de fazer!
            - Lembro de alguma coisa sim, mas eu não tenho nada a ver com isso! Eu sou rico graças ao meu trabalho e não recebi ajuda de ninguém.
            - Então eu vou refrescar a tua memória!
            A voz ficou mais violenta, até parecia que o lugar era comandado por ela, o som se tornou mais agudo e a água do lago virou lama, e várias cabeças de pessoas apareceram, suplicando ajuda. Ela ria loucamente e o eco dispersava-se pelo lago. Aos poucos comecei a entender a razão de tudo, mas já tinha provocado a ira da estranha voz. As árvores que circundavam o lago mudaram de forma, ficaram retorcidas, secas e esquisitas. Para mim, aquela paisagem era coisa de filme de terror, ainda mais que começaram a ficar violentas e agressivas para comigo. A cada momento jogavam folhas secas, que mais pareciam espinhos machucando a minha pele. Ali tudo tomava forma de vida, olhavam-me com raiva.
            - Fale então: o que eu fiz ou prometi para você que não cumpri? Mas seja breve, pois não tenho tempo para ficar ouvindo besteiras de alguém que não tem coragem de se apresentar. Eu acho que você é covarde, porque se esconde atrás de uma voz grossa e medonha.
            - As tuas palavras me fazem rir. Os ricos e poderosos realmente são criaturas que dão pena na gente, acham que podem tudo, mas na verdade são escravos da ilusão e pertencem a nós. Outra coisa: não sou covarde, e não tenho que dar satisfação dos meus atos a você! Você vai fazer o que eu estou mandando!
            Nesse momento, a risada da voz me amedrontou ainda mais. Coisa louca, a voz mais se parecia com um som vindo do inferno. Não acredito no que estou ouvindo! Não pode ser verdade, para mim é um grande pesadelo. A voz iniciou o melodrama assustador:
            - Há muito tempo, você morava num morro, cercado por traficantes e assassinos de todas as estirpes, vivia com a tua mulher, que toda noite te traía com o chefe do tráfico e não podias fazer nada. A miséria era latente, a fome fazia parte da tua vida. A vagabunda da tua mulher vivia mais tempo na cama do traficante do que na tua. A vergonha de ser corno deixava você triste e melancólico, e a gozação era grande entre os favelados.
            Na medida em que a voz ia dizendo coisas sobre a minha vida na favela, a memória foi sendo refrescada. A ficha caiu de vez. Já com semblante mais calmo, continuei escutando o que a voz tinha para falar de mim. Estava me sentindo num tribunal, sem condições de reagir. Como se fosse um juiz da época das cruzadas, a voz revelou:
            - Numa longa e triste noite, após ter ouvido, no outro lado da parede do teu quarto, os loucos gemidos de prazer da cadela da tua mulher, e sentindo profunda fome, você foi até o alto da grande pedra e pediu aos moradores das cavernas que te ajudasse a ser um homem rico, poderoso, e clamavas por vingança contra a esposa adúltera. Em troca, darias a tua alma e a das tuas filhas pequenas para o chefe da penumbra. Eu aceitei o desafio, até porque gosto de missões impossíveis, porque não é e não foi fácil ajudar você. Transformar um tolo em um homem inteligente e esperto é complicado.
            Nesse momento eu já tinha entendido tudo. Realmente havia esquecido a minha promessa, o dinheiro anestesiou a minha consciência, ou, quem sabe, o sofrimento foi mais forte do que o entendimento da resignação. Mesmo assim, permaneci em silêncio, ouvindo a tenebrosa voz espumar a cobrança:
            - A primeira coisa foi fazer de você o chefe do morro, inventando uma armadilha para assassinar o chefão e a tua mulher. Com o tempo e com o dinheiro da venda da droga, você dominou todos os morros do Rio de Janeiro. A segunda coisa que fizemos com você foi a mudança de endereço, residir numa bela e linda mansão na zona nobre da cidade, no lugar dos ricos e poderosos. Até empresário de renome nacional você se tornou. A terceira decisão foi influenciar você para que se cercasse das mulheres mais bonitas e sensuais. Por último, para coroar o nosso trabalho, ajudamos a te eleger senador da república. Todo o serviço tem um preço, nunca te esqueça disso.
            Agora que já entendeu tudo, ao acordar do nosso encontro, quero que as tuas duas filhas sejam amantes do novo chefe do tráfico num morro em Florianópolis; do contrário, você jamais vai se acordar do pesadelo e será jogado nesse lago. Olha que no lago já têm inúmeros devedores, pagando as promessas feitas. A maioria é político e empresário, ambiciosos e arrogantes, que um dia pensaram em nos enganar. Por trás de um poderoso na terra, sempre tem alguém mais poderoso que ele!
            Concordei com a voz e entendi o que se passou na minha vida. Num momento de pura dor, evoquei energias das profundezas do inferno e fiz um acordo para me tornar um homem rico e poderoso. Agora, não adianta mais, serei escravo para sempre dos chefes da escuridão. Aos poucos o lago voltou ao normal. Esse lago, na verdade, ficava no fundo da minha mansão.
            - Papai, acorda! Já é tarde e o senhor tem que pegar o avião para ir à Brasília, hoje é segunda-feira, dia de trabalho no Congresso Nacional. Na semana passada o Senhor não fez nada, ficou o tempo todo pescando no lago. Outra coisa: eu e a Fernanda vamos passar o verão em Floripa, vamos ficar na casa do Jonas, o cara é gente boa, manda muito, sabe de tudo, é um gato! Qualquer coisa ligue para nós! Beijos!
            Era a minha filha caçula, a Eliane, linda, rosto de anjo, tinha apenas 16 anos, parecida com a mãe dela em tudo, até mesmo quanto a homens. Tudo estava nos conformes, a dívida para com as sombras estava sendo paga. As minhas filhas seriam amantes do chefão do tráfico, assim como a minha atual mulher, que não sai da mansão do Rodrigo. E quanto a mim, vou fazer tudo o que os homens das cavernas determinarem!
            Bem, preciso tomar banho. Brasília, a capital da hipocrisia, dos desmandos, do roubo, enfim, o encontro dos escravos do inferno me espera.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Amante

Não posso arrancar o coração do meu peito
Jogar fora as emoções que sinto pelo tempo que perdi
Perdi e me perdi na contramão da história
História que demorou a acabar
Acabou por não ter encontrado a razão de existir
Se existiu por algum momento
Foi porque insisti tanto que cheguei a pensar
Que um dia serias eterna amante

Amante dos meus devaneios
Devaneios que se tornaram pesadelos
Olhando para a estrada vejo alguém vindo pelo escanteio
O caminho está livre
Livre do vento que varre sem piedade
Piedade de um amor que um dia
Foi tão forte que nem mesmo
A ventania vinda do norte
Foi capaz de derrubar o alicerce da paixão
Que sempre pensei que sentia

Não posso arrancar o teu coração do teu peito
Fazer da tua vida uma cachoeira de águas cristalinas
Não consigo enfrentar o destino sozinho
Colocar as pedras que faltam para construir
A estrada que foi projetada por nós
Não posso abreviar o tempo de vida
Vida que ainda tenho que passar
Passar assim tão devagar
Faz com que a tristeza vire uma melodia
Que ao cair da tarde
Se torne uma canção
Na direção da montanha dos nossos encontros

Amante por que andas perdida?
Não foi o que dissestes um dia
Que seria a sombra da minha vida?
Por que foges da minha sombra?
Sombra que ainda ontem
Serviu de abrigo para o teu triste coração
Coração que por tão pouco
Briga com a minha emoção
Emoção tão bela e tão linda
Que só vais encontrar em outra vida
Vida que não temos certeza que

Não posso servir de abrigo
A um amor tão desprovido de sensualidade
Sensualidade que se esvaiu com o andar da vida
Que por alguma razão se perdeu pelo caminho
Caminho que nunca foi prometido
Que seria belo como uma noite de verão
Verão que passamos juntos
Porém não emociona mais o teu coração
Amante por onde andas?
Perdestes o encanto?
Não quisestes esperar a chegada do desencanto?
Desencanto criado por ti
Na esperança de conhecer outros beijos
Beijos que ainda hoje não encontrastes

Não posso de jeito algum
Aguardar o desfecho que amarra o meu peito
Peito cansado de ouvir a palavra não
Não hoje e não amanhã
Quem sabe um dia
Depois de tudo
E de todas as tentativas
 Venhas a querer me amar
Quem sabe eu já não esteja mais aqui
Quem sabe estarei longe de ti
Cansei de lutar pelo teu amor
Lutei tanto que decidi procurar outro amor
Distante de ti

Amante siga longe de mim
Fique perto da ilusão
Só assim entenderás o que é
Amar sem ser amado
Só assim compreenderás
Que a estrada da paixão é cheia de buracos
Buracos que servem de prova
Prova que um grande amor
Precisa ultrapassar sem medo de cair
Cair na desilusão de uma paixão fortuita
Vá embora sem dizer adeus
Porque muitas vezes com as tuas atitudes
Procurastes se despedir de mim
Vá e encontre o que sempre buscastes
Mas fique longe
Tão longe que os meus olhos
Não possam te enxergar

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A Fúria do Vento no Oriente Médio

O que está acontecendo no Egito e nos demais países árabes, é uma demonstração de que quando o povo quer mudança, não há regime que suporte. O ditador Mubarak, governando há trinta anos, com apoio explicito dos Estados Unidos, não quer largar o osso de forma alguma.
                Os ecos da Revolução dos Jasmim que derrubou o ditador Zine AL-Abidine Ben Ali, na Tunísia, no mês passado é a prova mais cabal que se possa ter, de que uma ditadura por mais violenta que possa ser, o povo na rua, forma uma violenta tempestade e derruba qualquer regime autoritário.Chega ser encantador e repleto de glamour ver nos meios de comunicação o povo gritando, mesmo apanhando, por liberdade e democracia.
                Não há ditadura no mundo que tenha sobrevivido quando a sociedade se organiza e pede mudanças, assim foi na América Latina e principalmente no Brasil. Como em toda revolução, há mortos e feridos, até porque não existe outra forma de luta, a não ser através da violência. Quando não existe democracia e canais de escape de uma sociedade, o caminho é a luta em todos os sentidos.
                Ainda ontem, a televisão mostrava o protesto de um milhão de pessoas no Cairo, clamando democracia, a minha memória voltou nos tempos da luta no Brasil, quando em São Paulo, na praça da Sé, os movimentos democráticos, reuniram mais de um milhão de pessoas pedindo eleições diretas já. A força foi tão grande que o regime militar foi afogado e morto pela encantadora magia do povo brasileiro.
                 Mas nunca devemos esquecer que tudo começou com a famosa novembrada aqui em Florianópolis, em 30 de novembro de 1979, ocasião em que o general Figueiredo quase acabou apanhando do povo, reunido na Praça XV.
                Segundo este poeta, num poema sobre a fúria do vento, na obra, “Loucos Pensamentos”: “Povo é igual um vento forte/Que vem da montanha/Uiva quando quer/Sopra quando quer/Da forma que quer e derruba o que quiser”. Diante disso, estamos assistindo o vento quente das areias do deserto no Oriente Médio, varrendo a podridão das ditaduras muçulmanas.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Bandida

Por onde anda
Amada e sensual bandida?
Por que fugiu deixando meu peito
Amargurado...
Embriagado...
Torturado...
De tanta vontade de
Sentir o último
Suspiro fatal da
Tua boca quente de
Prazer...

Não finjas
Porque sei que nas
Noites claras de lua cheia
Quando a madrugada termina
E a aurora se aproxima
A paixão explode
Corpo treme...
Boca fica seca...
Louca para ser molhada
Pelos meus lábios
Encharcados de tanto prazer...

Não tenha medo
Doce e amarga bandida
De ser uma assassina
Deste doce e amargo bandido...
Que te espera
Para travar
O mais cruel
Dos prazeres carnais
Que dois confessos
Fora da lei fazem
Em detrimento
Da hipocrisia reinante
Nas elites dominantes.

Olhe no espelho...
Linda de todas as mais lindas e
Poderosas que habitam este mundo...
Veja se não tem
Alguma marca
Deixada “involuntariamente”
No teu corpo...
Admirado por todos os homens
Que um dia tiveram o
Privilégio de sentir o
Teu estonteante orgasmo...
Venha...!
Estou sentando aqui na esquina...
Local das nossas
Brigas sensuais...
Esperando por você...

Sei que
Continuas linda
Pronta para pegarmos
Carona com a noite
Desaparecendo na névoa da madrugada...

NÃO VOU ADORMECER SEM DEGUSTAR OS MEUS SONHOS

Ninguém prende um pensamento. Ninguém aprisiona uma alma ou um coração. O amor é livre e o gostar caminha junto com a liberdade. O desejo ...