terça-feira, 27 de setembro de 2011

Poetas

Florbela Espanca As almas dos poetas Não as entende ninguém São almas de violetas Que são poetas também Andam perdidas na vida Como as estrelas no ar Sentem o vento gemer Ouvem as rosas chorar Só quem embala no peito Dores amargas e secretas É que em noites de luar Podem entender os poetas E eu que arrasto amarguras Que nunca arrostou ninguém Tenho alma pra sentir A dos poetas também!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Meus Oito Anos

Autor: Casimiro de Abreu

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

domingo, 18 de setembro de 2011

A Fossa

Estou sentado nesta pedra há um bom tempo, quero encontrar o fio da meada, o começo de tudo. O horizonte abriu o seu arquivo e pacientemente está mostrando algumas páginas da minha vida que ficaram grudadas. Não importa o tempo que leve, simplesmente preciso ler cada frase que foi motivo de algumas emoções e de desgraças. Às vezes tenho dificuldade em conversar comigo mesmo, em outras ocasiões sou pressionado para abrir o livro. Tenho medo do meu passado. Se ele vier à tona, muita coisa vai aparecer. Confesso com toda a humildade, sou uma pessoa contraditória, perigosa e deixo o vento do destino me levar.
Estou aqui há mais de trinta anos, hoje com 58. Fui condenado a viver nessa clínica psiquiátrica. A justiça determinou a minha internação. Acusaram-me de ter dado um sumiço em minha esposa e no pedreiro. Até agora ninguém encontrou o corpo de nenhum dos dois. Sobre o pedreiro, eu não lembro direito. Eles é que precisam encontrar as provas. Mesmo assim afirmam que sou um perigo para a sociedade. Sempre soube fazer as coisas de tal forma que nunca deixei rastro. Sou detalhista em tudo. Gosto de guardar segredo, me alimento dele. Considero o mistério algo fascinante.
Felipe era uma pessoa solitária, de poucos amigos, e reservado. Desde que mandou para os quintos dos infernos a sua linda mulher, preferiu ficar distante, mais próximo do silencio, talvez com receio do que pudesse acontecer. Ele carregava um segredo muito bem guardado, que levaria para a sepultura. Os detalhes da morte do pedreiro ainda é um mistério. Será que alguém vai acreditar nele no dia em que resolver falar a verdade? Talvez não, porque os loucos não são levados a sério.
Conheci Felipe na primeira vez que visitei uma clínica psiquiátrica do Governo, em janeiro de 2006. Fui fazer uma pesquisa para escrever um livro sobre mentes perigosas. Conversei com ele durante duas horas, ouvindo atentamente a sua trágica história. Os seus olhos pareciam de uma pessoa amargurada pela vida. Tão logo soube que eu era escritor e que estava ali para escrever um livro sobre a vida dos residentes da clínica, veio ao meu encontro dizendo:
- Você é jornalista?
- Sou. – respondi.
- Quer ouvir a minha história? Vai acreditar? Porque até agora ninguém acreditou.
- Vou ouvir você e com certeza irei acreditar. – disse.
Era outono e as folhas caíam mansamente no chão. O sol não se fazia presente, tornando o clima escuro e misterioso. Sentamos num banco do jardim da clinica. Durante quatro dias ouvi e anotei a história da vida de Felipe. A princípio, não parecia ser de uma pessoa perigosa, mas com o decorrer do tempo percebi que se tratava de alguém com uma imensa sede de vingança. Queria se vingar do mundo e dos homens. Segundo informou, possuía planos para matar várias pessoas, incluindo eu, se não escrevesse direito a história dele. Revelou que o plano de seu suicídio já estava em andamento, mas preferiu não entrar em detalhes. Na oportunidade, também escondeu sobre o sumiço do corpo do pedreiro, mas sobre a vida do seu grande amor relatou algumas passagens que anotei, e consegui montar uma pequena história.
Na época em que conheceu Márcia, achou que estava iniciando uma longa vida de marido e mulher, mas não foi isso que aconteceu. Pensou em construir uma bela família, ter netos, enfim, viver e envelhecer juntos. Ela era de uma beleza fora do comum. Por onde andava era notada pelo físico exuberante. Muitos amigos diziam para ele que ela não era sincera, gostava em demasia de dinheiro, vivia de aparência. Mesmo com várias ponderações, ele pagou para ver. Pagou muito caro, e o que viu foi profundamente triste e constrangedor, e quando constatou, resolveu dar o troco e pagou caro pela segunda vez.
Num final de semana, como sempre fazia, Márcia disse-lhe:
- Querido, estou indo para a casa dos meus pais.
Felipe, mostrando desconforto respondeu:
- Você já foi na semana passada, este mês é a terceira vez que visita os teus pais. Gostaria de aproveitar o final de semana para ficarmos juntos. Afinal, precisamos curtir a vida de casados, pois faz somente quatros anos que estamos juntos.
- Já ficamos a semana inteira. Estou com saudades deles e você não pode me proibir de visitá-los.
- Claro que não! Mas...
Não adiantou. Márcia arrumou as coisas, pegou o seu carro e viajou. O que mais chamou à atenção de Felipe foi a forma como Márcia se arrumou. Usou uma roupa sensual e colocou um perfume provocante. Não parecia que ia visitar os pais. Naquele momento, Felipe sentiu algo diferente, alguma coisa estava errada com a sua mulher. Não pensou duas vezes: seguiu Márcia.
De Florianópolis à Itajaí, residência dos pais dela, a distância era curta. O tempo estava bom e ideal para viajar. Passou por Balneário Camboriú, em seguida o trevo que entrava para Itajaí, mas Márcia passou direto. Felipe ficou intrigado, mas continuou a viagem. Já estava viajando há quase duas horas e, pelo horário, o destino dela era Blumenau. Foi exatamente isso que aconteceu. De repente, o carro de Márcia parou na frente de um hotel. Ele permaneceu um pouco atrás, cuidando para não ser reconhecido. Para sua surpresa e tristeza, um homem, aparentando 50 anos, desceu do seu carro e veio ao encontro dela. Trocaram longos beijos e entraram na recepção do hotel. O mundo caiu sobre a cabeça de Felipe. A sua linda esposa estava lhe traindo com um homem desconhecido, mais velho que ela, e, pelo jeito, muito rico.
Por uns longínquos minutos, Felipe permaneceu sentado no banco do carro, pensando no que ia fazer. A noite chegou e ele, ali parado, montando um plano para a sua vingança. Deu meia volta no carro e retornou para Florianópolis. Aquele final de semana demorou a passar. Chorou, analisou no que errou com a sua amada. Sexo não podia ser, pois a procurava todos os dias. Lembrou-se dos avisos dos amigos da faculdade com relação à Márcia. No final das contas eles tinham razão, ela não prestava. Não merecia o seu sincero amor.
Vinham-lhe à mente algumas histórias, e a sua era parecida com a de João de Barro, traído por sua amada, que construiu uma casinha no alto de um poste, colocou-a lá dentro e fechou a porta por fora. Passou por sua cabeça também a letra da música, “cabocla Tereza”, que traiu o seu caboclo com um homem da cidade. No seu caso, teria que bolar um plano perfeito para que ninguém pudesse um dia descobrir.
No domingo à noite, lá pelas 22 horas, ouviu o carro de Márcia entrar na garagem da casa. Ficou sentado na sala esperando por ela.
- Você não foi dormir? – perguntou Márcia com um olhar de felicidade.
- Não, querida. Estava esperando por você. Precisamos conversar.
- O que você quer conversar?
- A nossa fossa está com problema. Será necessário construir outra.
- Novamente? Você não chamou a empresa desentupidora na semana passada?
- Eles vieram, mas não resolveram. Vou contratar um pedreiro para construir outra fossa bem grande e concretada pelos lados, assim ficará para sempre.
- Faça o que você achar melhor. Agora quero dormir que estou cansada da viagem. Adoro visitar os meus pais, mas eles me dão um grande cansaço.
Felipe ouviu as últimas palavras dela em seco. Não passava de uma grande mentirosa e vagabunda, pensou. O cansaço deveria ser do sexo e bebida com o amante mais velho e rico.
No dia seguinte, telefonou para Manuel, o pedreiro que construíra a sua casa e o contratou para resolver o problema do esgoto. Marcaram o dia para conversarem para tratar do preço da empreitada.
- Maneca, quero que você abra uma fossa com quatro metros de profundidade e três de largura.
- Mas, para que tão grande?
- Será preciso meu amigo. Quero que as merdas depositadas na fossa nunca mais saiam pelo ladrão. Outra coisa: concrete os lados, deixe somente o chão. Faça também uma tampa de concreto.
- Nossa! Nem parece uma fossa e sim uma sepultura para enterrar o filho do demônio. – falou o pedreiro intrigado.
Maneca, pedreiro de longa data, obedeceu às ordens de Felipe e iniciou a construção da nova fossa do seu amigo. Depois de trinta dias de trabalho duro, a obra foi entregue.
- Querido, que coisa estranha a fossa que você mandou fazer. – falou Márcia, sem desconfiar de nada.
- O que não presta precisa ser enterrado para sempre e nem mesmo cheiro tem que exalar. – disse Felipe com ar estranho e ao mesmo tempo de alegria.
Como era sábado, dia da viagem de Márcia, Felipe ao se despedir dela, disse:
- Quando você chegar da casa dos teus pais, no domingo, terei uma surpresa para você. Espero que goste.
- Tudo bem. Se não for coisa cansativa. Como você sabe, toda vez que vou visitar os meus pais volto muito cansada. – lembrou mais uma vez.
- Fique tranquila. Não será cansativa, apenas uma comemoração pelo aniversário do nosso casamento.
Felipe organizou tudo. O seu plano até aquele momento estava indo bem. Não mudou a rotina. No domingo, no horário de sempre, preparou o jantar e ficou à espera da sua esposa. Não demorou muito e ela chegou.
- Cheiro bom! Você preparou um gostoso jantar. Adoro frango à milanesa. Ainda mais que estou faminta e muito fraca.
- Tudo está do jeito que você gosta.
O jantar foi servido, assim como a bebida preparada. Em seguida do jantar, Márcia adormeceu sentada no sofá. Felipe, chorando muito, pegou a sua amada e colocou-a no fundo da fossa. Ligou os canos dos banheiros e pias da casa diretamente no lugar onde seria a eterna sepultura do seu grande amor. Depois, tampou o buraco e lacrou com cimento. Para disfarçar, jogou terra em cima da laje. Teve o trabalho de plantar algumas mudas de grama. Já passava das duas horas da madrugada. A noite e o silêncio eram cúmplices.
No dia seguinte, friamente, ligou para os pais de Márcia para saber do paradeiro dela. Ninguém sabia de nada, muito menos para onde tinha ido a mulher da sua vida.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Florbela Espanca

Hoje vou fazer uma homenagem a grande e bela poeta Florbela Espanca, cujos poemas registram as angústias e as contradições da modernidade e apresentam o amor como sentimento efêmero, passageiro.

Em muitos de seus sonetos, estão presentes: amargura, dor, solidão, angústia e, principalmente a morte.

Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

sábado, 10 de setembro de 2011

Poesia Quentinha

A Revista Língua Portuguesa, de setembro, publicou uma matéria interessante. Informa que Projeto Literário publica poemas em sacos de pão na capital mineira. Se a literatura é mesmo o alimento da alma, os mineiros estão diante de um verdadeiro banquete. A Revista revela ainda que mais do que o pãozinho com manteiga, os moradores do bairro de Barreiro, em Belo Horizonte (MG), estão consumindo poesia brasileira no café da manhã.

Graças ao projeto Pão e Poesia, que faz do saquinho de pão um espaço para veiculação de poemas, escritores como Romano de Sant Anna e Fernando Brant dividem espaço com estudantes que passaram por oficinas de escrita poética. São ao todo 250 mil embalagens, distribuídas em padarias da região de Belo Horizonte, que trazem a boa literatura para o cotidiano de milhares de pessoas, além de dar uma chance a escritores novatos de ver seus textos impressos.

Criado em 2008 por um analista de sistemas apaixonado por literatura, o Pão e Poesias já recebeu dois prêmios do Ministério de Cultura. Para conhecer detalhes do projeto, basta acessar o blog htt://paopoesia.blogspot.com/.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Poema da Noite

Charles Chaplin

Já chorei vendo fotos e ouvindo música
Já liguei só para ouvir uma voz
Me apaixonei por um sorriso
Já pensei que fosse morrer de saudade
E tive medo de perder alguem especial...
e acabei perdendo
Já pulei e gritei de tanta felicidade
Já vivi de amor e fiz muitas juras eternas...
quebrei a cara muitas vezes!
Já abracei para proteger
Já dei risadas quando não podia
Já fiz amigos eternos
Amei e fui amado
Mas também já fui rejeitado
Fui amado e não amei.

NÃO VOU ADORMECER SEM DEGUSTAR OS MEUS SONHOS

Ninguém prende um pensamento. Ninguém aprisiona uma alma ou um coração. O amor é livre e o gostar caminha junto com a liberdade. O desejo ...