domingo, 28 de agosto de 2011

Árvores Retorcidas


A pedra foi colocada no caminho
Os nossos passos estão obstruídos
Não vamos ficar admirando o obstáculo
É preciso dar a volta pelo lado
Continuar a caminhar com desenvoltura

Se a estrada é longa
Não importa o cansaço
Não adianta chorar
Muito menos lamentar
Precisamos tirar lição dos percalços
Se for preciso andar descalço
Com os pés sangrando
Não vamos jogar pedra ao vento

O caminhante não pode reclamar do tempo
Que muitas vezes demora a passar
A vida é uma escola
Onde somos alunos repetentes
Dependentes do humor do tempo
Mesmo castigados
Maltratados com a fúria da tempestade
Levantemos a cabeça
Observemos as nuvens
Para que lado elas estão viajando
Assim podemos pegar carona
Para combater o temporal da vida
Mas nunca correr sem lutar
Se for preciso
Vamos morrer lutando
Não importa
Porque o importante é
O final da caminhada

Devemos observar as árvores retorcidas
Elas suportam a selvageria do vento
Não quebram o tronco
Vivem combatendo os loucos ventos
Espalham as raízes pela terra
Procuram se fortalecer

Em vez de reclamar da sorte
Suavemente sempre balançam seus galhos
Como num bailado de alegria
Agradecem a fúria do vento
Assim tornam-se cada vez mais fortes


domingo, 21 de agosto de 2011

Maldade Vampiresca


A casa noturna que eu frequentava era a minha segunda casa. Natal e Ano Novo e as demais datas importantes eu passava ali, no lugar dos meus sonhos, pesadelos e desesperos amorosos. Chegava primeiro e saía por último. Conhecia todos e todos me conheciam. As mulheres de todas as idades e de todas as cores adoravam sentar na minha mesa e beber comigo até a madrugada desaparecer no horizonte. Não vou dizer o nome da casa, porque o importante foram os acontecimentos que ali ocorreram. O mundo até podia acabar, mas quem frequentava aquela casa noturna, vivia momentos inesquecíveis e o inesperado sempre se fazia presente.
Foi nesse ambiente que conheci Marlei, mulher adorável, misteriosa, má, e de beleza física excepcional. Por onde andava sempre acontecia alguma coisa na área da maldade. Ela pulava de mesa em mesa, bebendo ora com um, ora com outro, e no final da noite sempre saía acompanhada. Até adentrar na vida íntima dela, fui um atento observador de suas andanças amorosas e dos bárbaros crimes que praticava. A presença dela naquele ambiente era sutil, lenta e fatal. Aparecia de surpresa e se retirava sem dizer nada.
Lembro-me da relação que ela teve com Cláudio, mulato, filho único de uma família rica do Mato Grosso. Cláudio se relacionou com Marlei durante três meses. Numa derradeira madrugada, ele apareceu morto no seu apartamento. O corpo dele estava em pedaços e sem sangue, parecendo que alguém o havia sugado. A polícia não encontrou nenhuma pista do assassino. Até um investigador de polícia desapareceu quando chegou perto das pegadas de Marlei. Seu corpo foi encontrado duas semanas depois no fundo do mar, amarrado numa pedra.
A misteriosa loira nunca falou de sua vida para os seus amantes. Omitia ou mentia e poucas pessoas, talvez ninguém, era convidado para visitar a sua residência. Gostava de fazer amor nos locais públicos e perigosos, principalmente dentro de carros, ou até mesmo nas ruas escuras de Florianópolis. Dependendo da situação escolhia casas antigas e abandonadas para executar seus planos sensuais e macabros. Depois de uma longa noite de bebida e dança, Marlei pegava pela mão o seu escolhido e saía pela porta discretamente.
Os meus olhos sempre estiveram atentos nos passos da loira, que para mim, mais parecia ser a noiva do diabo. Até hoje não consigo tirar da memória a fatal sexta-feira do dia 10, do mês de agosto de 2001. Já passava das três horas da manhã, a noite estava escura, quente e abafada, quando Marlei pagou a conta da despesa da noite, sorriu e pegou pela mão o alegre Paulo. Aliás, ela sempre pagava as suas despesas.
Naquele dia, ela vestia uma calça bem justa, deixando a mostra o volumoso bumbum. Rebolando, Marlei saiu para mais uma aventura. Não perdi tempo, segui o casal que foi rapidamente na direção de um estacionamento perto dali. Desta vez, ela não quis ir para o casarão abandonado que ficava no final da Rua Conselheiro Mafra.
Fiquei escondido atrás de um carro observando atentamente os movimentos amorosos dos amantes. Marlei levou Paulo para dentro da guarita do cobrador do estacionamento. Cheguei mais perto para ver melhor o que estava ocorrendo. Ela, sem dizer nada, tirou lentamente a calça, ficando só de calcinha. Paulo, agoniado, não perdeu tempo, penetrou Marlei ali mesmo. Eu fiquei olhando e percebia os seus movimentos e gemidos. Depois de uma hora, Marlei, aparentando cansaço, vestiu a calça e deu um forte beijo na boca do Paulo. Ficaram ali abraçados por uns longos cinco minutos. Num piscar de olhos, ouvi um grito. Era Paulo, sendo golpeado por Marlei. A cena era tão forte que fiquei espantado e ao mesmo tempo paralisado. Mesmo caído no chão, ela continuava ferindo-o mortalmente. A arma usada pela assassina era uma navalha, que ao passar pela carne do moribundo, fazia cortes profundos. O sangue jorrava por todos os lados. Depois do ato criminoso, Marlei cortou o corpo de Paulo em vários pedaços. Na medida em que cortava o corpo do pobre diabo, sorria e cantava uma canção que nunca ouvi na vida. Em seguida, colocou os pedaços do corpo dentro de um saco de lixo que trazia na bolsa. Arrastou o saco com o corpo até um bueiro, jogando-o em seguida. O que mais me enojou foi a cena de despedida. Marlei bebeu todo o sangue da vítima.
Levei mais de uma hora para voltar ao normal. Não estava acreditando no que presenciei. A minha intenção era simplesmente ver a cena de sexo entre aquela linda mulher e um homem de meia idade. Eu tinha uma tara em observar casais fazendo sexo para depois me masturbar. Assim como Paulo foi rápido na forma de transar, Marlei foi ligeira na penetração da navalha. A guarita do cobrador do estacionamento foi palco de cenas violentas e sensuais de dois seres da noite. Sem olhar para trás, Marlei foi embora, rebolando a bunda e sem demonstrar nenhum arrependimento. Eu, ainda sem acreditar no que tinha visto, fui para o meu apartamento.
Depois de algum tempo sem aparecer na referida casa dos prazeres e agora de crimes misteriosos, resolvi voltar. Logo que adentrei no recinto, para a minha surpresa ou alegria, Marlei estava sentava na primeira mesa, olhando para mim. O seu olhar era direto nos meus olhos, parece querendo adivinhar os meus pensamentos. Fiz de conta que não a tinha visto, mas não foi possível, ela se levantou e parou de pé na minha frente. Disse secamente:
- Precisamos conversar. Sei que você viu tudo. Você é doente tanto quanto eu e cúmplice dos meus crimes.
- Não sei do que você está falando.
- Não se faça de tolo. Sente aqui na minha mesa. Vou pedir uma bebida.
- Está bem. Mas não vou demorar muito, logo vou-me embora.
- Hoje a noite será longa; ou melhor, a nossa noite, seu masturbador da madrugada. – sorriu ironicamente.
Marlei, após vários copos de Martini seco, convidou-me para dançar. Fomos para o centro do salão. Como sempre, ela era pura sensualidade. Naquela noite, vestia uma saia bem curta e um decote que deixava os seios quase a mostra. A música tocada era bem lenta, convidativa para emoções fortes. Depois de alguns minutos, rosto colado, ela disse ao meu ouvido:
- Querido, eu sei que você viu o que aconteceu com o Paulo e com outros namorados. Há muito tempo que você me vigia. Já vi você se masturbar olhando eu sendo penetrada de quatro. O que você quer comigo? Por que não me denunciou para a polícia?
- Eu não quero nada com você e não sou dedo duro. – respondi.
- Nada não! Você tem desejo e quer me possuir. Estou sentindo na tua respiração, está ofegante. Não se preocupe, eu não vou matar você, somente quero sentir o teu gosto. –revelou, demonstrando autoridade sobre mim.
Não consegui deixar de demonstrar os loucos desejos que tinha por aquela bandida dos infernos. O meu corpo queria ter Marlei de qualquer maneira. Aos poucos, toquei os meus lábios na sua boca. Ela sabia beijar, tinha uma língua saborosa. O beijo da morte, ou do desejo macabro, acabou acontecendo. Senti a língua da mulher misteriosa, remexendo dentro da minha boca. Tremi dos pés a cabeça. Depois do beijo algo estranho aconteceu comigo. Parecia que estava sendo levado para dentro de uma caverna escura. Tentei me largar dos seus braços, mas não foi possível. Por uns longos minutos senti as minhas energias sendo sugadas. De repente, tudo passou. A música terminou e fomos para a mesa. Ao sentar-me, me senti fraco e com uma imensa vontade de beber.
- Beba, você precisa de muito líquido. – disse, como se já conhecesse o que estava ocorrendo.
- Como você sabe que preciso de líquido? – perguntei.
Ela sorriu para mim e revelou:
- Meu querido Valmor, agora você faz parte da minha misteriosa vida. Relaxe e me deixe ser tua eternamente.
Não lhe disse nada, apenas respirei fundo. A madrugada estava chegando e logo um novo dia iria surgir. O meu desejo pela Marlei era grande, selvagem, intenso. Entre beijos e mãos pelo corpo, fomos direto para a guarita do estacionamento. Chegando lá, logo fui tirando a sua roupa. A noite estava maravilhosa, principalmente a lua que brilhava intensamente. A claridade que vinha da lua deixava o bumbum dela mais bonito ainda. Encostei Marlei na parede e fizemos sexo de forma extremamente selvagem. Num determinado momento ela pegou a minha mão e colocou na sua boca. No início sugou e em seguida, deu uma forte mordida, tirando sangue. Mesmo assim continuou sugando. Como estava gostosa a nossa transa, não percebi e muito menos senti o que realmente ocorria. Era uma mistura de dor, desejo, e uma lenta fraqueza começou a tomar conta do meu corpo. Quando gozamos, caí sentado no chão, ela não. Simplesmente levantou a calcinha e saiu no meio da noite. Não me disse nada, nem olhou para trás. Parecia feliz com o que tinha acontecido.
Fiquei ali sentado até amanhecer. Não conseguia me levantar. Olhei para o meu dedo, estava inchado e dolorido. Aos poucos comecei a entender o que tinha se passado. A coisa foi longe demais. Não sei com quem transei se era uma mulher ou coisa do inferno, a única certeza era que eu estava fraco e sem nenhuma força para caminhar. Naquele momento, meio perdido e sem condições de chegar até a minha casa, resolvi rezar e pedir ajuda aos céus. Depois de alguns minutos em oração, e então mais descansado, consegui dar alguns passos. Com dificuldade, aos poucos, cheguei a minha casa. Joguei-me na cama e só acordei um dia depois.
Na minha cabeça, Marlei era um fantasma que sai à noite para sugar o sangue de suas vítimas. Resolvi continuar a perseguição, só que agora com mais preparo. Foi isso que eu fiz. Na sexta-feira seguinte, fui até a casa dos mistérios. O mais interessante é que todos que frequentavam aquele local se pareciam, tinham algo em comum. Chegando lá, pensei que iria encontrar com ela, mas não foi isso o que aconteceu. Perguntei para o garçom se a mulher misteriosa já tinha aparecido. Ele olhou-me com os olhos arregalados e sentenciou:
- Valmor, fique longe da Marlei! Ela é mulher do diabo. Todos que se relacionaram com ela acabaram boiando na Baía Sul, ou apareceram embaixo da Ponte Hercílio Luz.
- Eu sei que ela é coisa do demônio. Mas, fique tranquilo, vou acabar com a raça dela.
Ele deu um sorriso amarelo. Balançou a cabeça e afirmou:
- Ela esteve aqui e saiu com o Luís. Você quer acabar com ela?
- Quero sim. – respondi com determinação.
- Então vá até o Casarão abandonado do Governador Hercílio Luz, na Avenida Mauro Ramos. Ela mora lá. No ano passado aconteceu uma grande festa, com muito sexo e droga com pessoas de fora, vindas do exterior, criaturas esquisitas. A maioria era de políticos. – informou.
Agradeci as palavras do garçom e me dirigi ao velho Casarão. Chegando lá, percebi que tudo estava tomado por ratos e baratas, que circulavam de um lado para outro. Teias de aranha dificultavam o caminho. Estava escuro e somente a luz da lua clareava o local. Depois de percorrer todos os aposentos, observei que nos fundos do casarão, existia uma porta semiaberta. Entrei e logo vi um caixão de madeira nobre. O meu coração bateu forte. Fiquei com medo. A minha vontade era correr e desaparecer daquele lugar. De repente, ouvi uns passos. Escondi-me atrás de uma porta. Era a Marlei que chegava da sua caçada. Estava com a boca suja de sangue e nua da cintura para baixo. Antes de entrar no caixão, olhou para todos os lados, parece que estava sentindo a minha presença. Mas como o dia estava surgindo, entrou e deitou-se no caixão, fechando-o em seguida.
Esperei o dia clarear e fui ao posto de gasolina mais próximo. Comprei dois litros de gasolina. Voltei no velho Casarão para dar fim naquele monstro. Sem esperar muito, derramei os dois litros de gasolina em cima do caixão de madeira. Risquei um palito de fósforo e o fogo tomou conta de tudo. Ouvi um grito vindo dos infernos. Um forte cheiro de enxofre tomou conta do local. Não demorou muito e somente cinzas restaram do caixão e consequentemente da Marlei.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O Meu Vicio

Fui resgatar você na noite
Na perdição da vida
A noite trouxe você para mim
Levei muito tempo para te encontrar
Gostaria de ter encontrado você muito antes
Que o mundo fizesse de mim
Um homem perdido

Você é a minha imagem
É o meu som ouvido na sombra de uma árvore
É a doce sombra nos dias de sol forte
Sou o teu acompanhante
Você é a minha amante
Nas noites quentes de verão
Sigo o teu pensamento
Persigo os teus passos
Eles se confundem com os meus

A tua voz é a canção
Que embala a solidão do meu destino
Você é a minha flor da noite
Que perfuma a paixão
Guardada no fundo da alma

Você é igual a uma carta guardada
Repleta de lindas palavras
Que nem mesmo o tempo
Consegue fazer desaparecer
Quanto mais tempo
Estivermos juntos
Mais seremos eternos
Ou mais perdidos
Um pelo outro

Somos dois viciados
Dois drogados
Eu pela noite
Pela lua...
Você por mim
Pelos meus beijos...

Você é a minha noite
É a minha seresta
Porque sou o teu seresteiro
É a minha boemia
Que não abandonei

É o vício
Que nao consegui deixar
Quem sabe um dia
Possa morrer ao teu lado
Para acordar no outro lado
De uma perdida noite
Somos como dois ciganos
Que perambulam pelas madrugadas
Trocamos os passos nos salões
Do tango à valsa
Tudo é emoção
Porque os nossos corações
Foram feitos somente para as lindas canções

Poeira do Passado

Ninguém entende
Poucos compreendem
O que significa saudade
Tão falada e escrita
Ao longo do tempo

É algo que surge de repente
Vem vindo...
E o coração emite os
Primeiros sinais
De desespero

A saudade é uma música triste
Uma melodia que fala do passado
Uma canção repleta de palavras
Ditas em vão
Porque não traz de volta o passado
Para as nossas vidas

A saudade é invisível
Como um vento gelado
Que ao bater no rosto
Corta e machuca
A saudade pode até matar
Se não for medicada
Com o remédio chamado presença
Ela não bate à porta
A porta se abre para ela

Ninguém pode dizer que nunca sentiu saudade
A saudade nasce dentro do coração
É irmã da emoção
Age silenciosamente
Não vem acompanhada
Prefere trabalhar sozinha

A saudade é um amor que
Morreu dentro do nosso peito
Pulsa com o tempo
De vez em quando
Faz a gente chorar

A saudade não morre
Vai junto para o além-túmulo
Talvez aumente
Nunca adormece
Só comparece para dizer que o
Amor ainda vive
Mesmo perdido na poeira do tempo

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Saudade

Saudade é a solidão acompanhada
É quando o amor ainda não foi embora
Mas a pessoa já

Saudade é amar um passado que ainda não passou
É recusar um presente que nos machuca
É não ver um futuro que nos convida

Saudade é o inferno dos que perderam
É a dor dos que ficaram para trás

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade
Aquela que nunca amou

E esse é o maior dos sofrimentos
Não ter por quem sentir saudades
Passar pela vida e não viver

O maior dos sofrimentos
É nunca ter sofrido


Pablo Neruda

NÃO VOU ADORMECER SEM DEGUSTAR OS MEUS SONHOS

Ninguém prende um pensamento. Ninguém aprisiona uma alma ou um coração. O amor é livre e o gostar caminha junto com a liberdade. O desejo ...