quarta-feira, 28 de março de 2012

Brasileiro Lê Muito Pouco

Segundo Jornal o Globo,em notícia publicada nesta semana, a média de leitura do brasileiro é de apenas 2,1 livros por ano, segundo a 3ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada nesta quarta-feira. O estudo revela que, no total, a média de leitura do brasileiro é de 4 livros anuais, dos quais dois não são lidos até o final. O número é menor do que o registrado em 2007, quando foi feita a 2ª edição da pesquisa. Na época, a média de livros lidos por ano era de 4,7. O levantamento foi feito pelo Ibope Inteligência com 5 mil entrevistados em 315 municípios entre junho e julho de 2011. A pesquisa, encomendada pelo Instituto Pró-Livro, mostra ainda que metade da população - cerca de 88,2 milhões de pessoas - é considerada leitora, ou seja, leu ao menos um livro nos últimos três meses. O índice é menor do que o registrado em 2007, quando 55% da população havia declarado ter lido ao menos um livro nos três meses que antecederam a pesquisa. O Centro-Oeste é a região com melhor média de livros lidos, seguido pelo Nordeste, Sudeste, Sul e Norte. A Bíblia é o livro mais lido no Brasil, seguido por livros didáticos, romances, livros religiosos, contos e livros infantis. As mulheres leem mais do que os homens. Enquanto 53% delas são leitoras, entre os homens o índice é de 43%. Ainda segundo a pesquisa, 75% da população nunca frequentou uma biblioteca na vida. Presente à abertura do seminário Retratos da Leitura no Brasil, no qual o levantamento foi divulgado, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, disse que o governo trabalha para zerar o número de municípios sem biblioteca. - A leitura, quando vai além do livro didático, vai permitir a formação do cidadão, vai dar ao cidadão as ferramentas do conhecimento, permitir a ele desenvolver a capacidade de reflexão e análise, de questionar e desenvolver seu pensamento e sua opinião. A literatura tem essa capacidade. A televisão não permite tanto a reflexão quanto o livro - afirmou a ministra. Durante o evento, fez-se um minuto de silêncio em homenagem ao escritor Millôr Fernandes, que faleceu na madrugada desta quarta-feira. Ana de Hollanda considerou a morte do escritor uma “perda irreparável”.

terça-feira, 27 de março de 2012

Fragmento de um poema de Facundo Cabral

“E me chamas estrangeiro, porque cheguei aqui por um caminho que não conhecias, porque nasci em outra cidade, e conheci outros mares. Chamas-me estrangeiro porque não estás acostumado comigo, já que eu zarpei de um porto distante, e tu pensas que as despedidas existem apenas para que se agitem lenços e se encham de lágrimas os olhos, e acreditas que, quando se vai para longe, todos pensam apenas no dia do regresso, e nas orações que os entes queridos ficam repetindo, dia após dia, anos a fio. Mas eu não sou estrangeiro. Porque despertei em minha alma o que antes não conhecia, e descobri que todos os homens são iguais, que houve uma época em que o mundo não tinha fronteiras. Todos nós trazemos o mesmo grito, as mesmas perguntas, o mesmo cansaço das viagens muito longas. Os que dividem, os que dominam, os que roubam, os que mentem, os que compram e vendem nossos sonhos, são eles que inventaram esta palavra: Estrangeiro. Olha-me no fundo de meus olhos, além do teu ódio, do teu egoísmo, do teu medo, e verás que sou apenas um homem, que precisa de tua ajuda. Não posso ser, nunca fui um Estrangeiro”.

domingo, 18 de março de 2012

A Moça da Lua

Lembro-me como se fosse hoje. Não é possível esquecer aquele momento. Foi muito intenso o que aconteceu comigo. Era início de outono e a temperatura estava amena, depois de um verão forte e chuvoso. Todas as noites, principalmente durante a lua cheia, eu ficava várias horas sentado na varanda da minha casa, de frente para o mar, admirando a lua beijar suavemente a lâmina do oceano. De onde eu estava era possível observar as ilhas Ratones Um e Ratones Dois, meio que perdidas no centro do canal da baía norte. Eu tinha e ainda tenho uma grande admiração pela figura da lua, vejo-a como uma linda mulher admirada pelos poetas do mundo inteiro. Desde criança essa magia me contamina e persegue. Às vezes chego a pensar que no dia em que eu morrer será na lua a minha sepultura eterna. Certa noite, de uma sexta-feira de abril de um ano que não pretendo revelar, estava sentado na minha cadeira, observando os raios lunares, quando uma fina brisa tocou o meu rosto. A princípio pensei que fosse uma pequena folha seca que tivesse caído das árvores ao meu redor, mas não era. Esse toque foi aumentando, e ao mesmo tempo, senti um leve sono tomar conta de mim. Aos poucos, me recostei da cadeira e deixei que os meus olhos se fechassem. Lentamente, fui acordando e me vi sentado no banco do jardim que ficava na frente da minha casa. Dali eu ainda podia ver a bela lua a refletir seus raios sobre o mar. Ao meu lado, vi uma bela moça de cabelos longos e olhos pretos, sorrindo, que disse: - Boa noite, caro amigo! A noite está linda, principalmente com a claridade da lua tomando conta da terra. - É verdade. – respondi, para em seguida perguntar: - Como vim parar aqui? Eu estava sentado na varanda da minha casa e agora estou me vendo no jardim ao lado de você, que nunca havia visto antes. Parece que passei por um sono... - Eu sou aquela que você sempre admirou. - Como assim? Não estou entendendo. - Preste atenção no que vou falar. Durante anos, eu estive acompanhando os teus passos lá de cima, da varanda da minha casa, ao lado do lago lunar, próxima também da grande montanha. Fui testemunha do que você fez e deixou de fazer. - Vamos como calma! Eu não estou ficando maluco. Esta conversa é coisa de doido. Não pode ser! Seja mais clara, por favor! - Eu serei. Hoje iremos conversar bastante. O tempo no sonho é diferente. Muita coisa pode ser dita em segundos. Mas, vamos por etapas. Começaremos quando você era adolescente. Você lembra aquele dia lá na velha rodoviária da tua terra natal? Quando esperava o ônibus rumo à capital? - Lembro sim! Já se passaram vários anos... O que tem a ver a velha rodoviária com a minha vida? - A tua sobrinha chegou correndo e te entregou uma rosa vermelha e um livro. Pediu que você colocasse a rosa dentro do livro, pois representaria a tua vida futura. Pois então: a rosa representava uma linda vida, cheia de alegria, paz e conforto, e o livro, a tua profissão. Mas para que isso acontecesse seria necessário que a rosa morresse no meio das folhas do livro, virasse pó com o tempo. Isso não aconteceu. Depois de oito meses você jogou fora a rosa e o livro. Todas as tuas alegrias, amores, empregos, conquistas se perderam, como a rosa e o livro. A magia foi para o lixo e a dificuldade abraçou o teu destino. - Eu não podia imaginar, e muito menos entender, o toque do destino. Nunca tive nenhum dom, e os deuses não me avisaram que deveria guardar para sempre a rosa e o livro. – acrescentei com pouco entendimento. - O céu mostra sutilmente o rumo de nossa vida. Muitas vezes não damos importância aos pequenos detalhes. Deixamos de lado o aviso e o silêncio nos olhares do universo, que tenta de todas as formas mostrar que estamos errados e precisamos corrigir o curso. Depois disso, o universo concedeu a você outras oportunidades e novamente foram para o lixo. - Por que você, que viu tudo lá de cima, não me avisou? Já que tinha certo sentimento por mim? - Porque era preciso que o encanto se completasse e respeitar o teu livre-arbítrio. - O que farei agora? – perguntei. - Calma, que ainda temos algumas coisas para falar. - Logo depois do teu casamento foi aberta para você uma linda estrada de prosperidade distante de onde você vivia. Organizou-se uma estrutura que transformaria a tua vida numa das mais belas e promissoras. Longe daqui, lá no norte, no meio das grandes árvores e dos grandes rios, onde os deuses das matas protegem os guerreiros, você iria construir um império. Inúmeros guerreiros foram convocados para ajudá-lo na tarefa. Não adiantou. Novamente, e de uma forma brusca, renunciou a oferta do universo e jogou-se nas aventuras mundanas. A frustação foi geral e ninguém entendeu. Eu mesma, certa noite, me aproximei de você e tentei avisá-lo, mas não adiantou. Os teus ouvidos eram para as vozes da escuridão e das trevas. Aos poucos, fomos saindo com tristeza no coração. Enquanto a Moça da Lua ia conversando, o meu pensamento transportava-se para àquele tempo. Por incrível que pareça, realmente ela estava certa. Estava em minhas mãos, a chave do destino, a chave de outra situação, talvez de outra vida, muito diferente dessa que estou vivendo. - As tuas palavras estão me deixando triste. – revelei com muita emoção. - Não fique caro amigo. Demoramos a entender as razões das tuas fugas dos presentes do universo. Também, não estou aqui para te criticar, e sim para te lembrar das oportunidades que perdestes ao longo da jornada. Tem outra situação. Quer que eu lembre? - Fale, agora não resta mais nada, a não ser fazer da vida um longo enredo de fracassos e compromissos que se perderam. - Você não perdeu, são lições que precisam ser apreendidas. Tudo na vida tem um sentido, até mesmo as fugas existenciais. A covardia tem várias facetas. - Diga então: o que resta de revelação? - Depois desse último episódio, você passou por inúmeras dificuldades, perambulando por situações constrangedoras. Os filhos vieram. Como se fosse um arrependimento da fuga dos presentes dos céus, você seguiu o caminho do álcool, tornando-se um alcoólatra doentio. Foram necessárias várias internações para que a cura se realizasse. Após esses tormentos, mais uma vez a bondade do Arquiteto do Universo se apresentou. Um emprego que seria a garantia da tua aposentadoria foi dado a você. A conversa com a Moça da Lua era emocionante. Um filme estava sendo passado para mim. Ninguém cobrava nada, as cenas eram reais, até mesmo as sensações dos momentos vividos eram sentidas. Ela continuou falando, de forma clara e suave: - Os anos se passaram... Algumas dificuldades amorosas aconteceram. Sem ouvir os sinais da tua alma, com soberba e apego ao dinheiro, jogasse fora o que seria a loteria dos céus. Tentastes te aventurar na vida dos jogos de azar. O azarado foi você. Deu bingo contra o teu destino. Depois de tudo, era necessário um tempo, um bom tempo para que algumas lições fossem apreendidas, mesmo que para isso fosse necessário dor e sofrimento. Era importante deixar a água clarear e assim enxergar o leito do rio. Dez anos se passaram, entre noites e boemia, mulheres e sexo. Você, poeta da noite, viveu intensamente a orgia e uma vida voltada ao submundo da sensualidade. Agora, algumas rotas foram corrigidas por você, tirou lições, jogou fora o pesadelo da noite, aceitou humildemente as lições do passado. Esperamos que estejas pronto para a última e grande cartada da tua existência. Com toda certeza não haverá outra chance além dessa que está para acontecer. No meio da conversa a Moça da Lua segurou a minha mão. Senti uma forte energia ser passada, talvez um aroma de esperança, fé, carinho e humildade. Quando ela terminou de expressar as suas últimas palavras, olhei para o lado, para fazer-lhe uma pergunta, mas tinha desaparecido. Deixou-me sozinho no jardim. Acordei. A madrugada já se fazia presente. No mar, um pescador organizava seu barco para iniciar mais uma pescaria. Olhei para o alto, a Lua continuava lá, linda, forte e clara. Tentei por todos os meios enxergar o lago onde mora o meu anjo protetor, mas não foi possível. Eu sei que ela está lá, sentada na varanda da sua casinha branca, cuidando dos meus passos, enquanto eu permanecer aqui na Terra.

NÃO VOU ADORMECER SEM DEGUSTAR OS MEUS SONHOS

Ninguém prende um pensamento. Ninguém aprisiona uma alma ou um coração. O amor é livre e o gostar caminha junto com a liberdade. O desejo ...