quinta-feira, 31 de maio de 2012

O Punhal

A rua estava deserta e profundamente melancólica, até parecia dia de finados. A Rua João Pinto da velha Desterro, com seus paralelepípedos lisos de tanto receber transeuntes, carroças e carros ao longo da história, estava totalmente encharcada pela intensa chuva que caía aproximadamente há trinta dias. Essa rua guardava inúmeros segredos, vários amores que se iniciaram, e brigas que ainda hoje fazem parte do imaginário das pessoas. Com seu casario em sua volta, a João Pinto possuía certo ar de nostalgia e mistério. Caminhar por ela na década de 1950 fazia bem em todos os aspectos, exceto à noite. Mesmo com lua cheia e o céu repleto de estrelas, e com o barulho do mar, deixava qualquer um com os sentimentos à flor da pele. Era inverno de 1957, o vento sul assoprava sem parar, o frio era intenso, fazendo com que as pessoas nem pensassem sair de casa, principalmente durante a noite. O mês de julho prometia, seria um dos mais friorentos da história climática da Capital. No primeiro domingo do mês, numa noite gelada e de chuva, a prostituta Vânia precisava fazer ponto na Rua João Pinto, pois no dia seguinte tinha que pagar o aluguel da pensão. Isso porque Francisco, esposo da rica Fernanda, seu amante, morrera no ano anterior, numa briga com um marinheiro. Vânia era considerada a mais bela prostituta da cidade, só saía com homens ricos e poderosos. Mas fazia tempo que essa fama já não estava mais trazendo dinheiro e sim desamores. Para ajudar, aquele domingo, chuvoso e frio, não iria trazer grandes expectativas financeiras. Quem iria ter a coragem de sair à noite, atrás de uma prostituta para fazer um programa? De qualquer maneira precisava arriscar. Quem sabe alguma esposa se negasse a fazer amor com algum marido e assim, ele iria desafogar as mágoas com ela. Com esse pensamento Vânia colocou um sobretudo feminino de cor preta , por baixo usou somente um pequena calcinha vermelha. Assim, estaria pronta para qualquer posição sexual que o cliente exigisse. A chuva era fina e caía lentamente, acompanhada de um forte vento. A Rua João Pinto parecia a boca do inferno, pronta para engolir qualquer um que se atravesse a caminhar sobre ela. Vânia andava de um lado para o outro, à espera de alguém para fazer um programa. Naquele dia até que ela estava com vontade de fazer sexo, não acontecia sempre, mas quando acontecia, Vânia se realizava profundamente. Já passava da meia noite, quando enfim, um homem se aproximou dela dizendo: - Boa noite Vânia. Como vai você? - Olá, boa noite! Quanto tempo! – Respondeu. Era o médico Paulo, grande amigo do falecido Francisco. Fazia tempo que ele não aparecia, era respeitado na cidade, mas vez por outra procurava os serviços sexuais de Vânia. Sempre generoso financeiramente com ela, exigindo sexo de todas as formas, principalmente um lado que ela não gostava. Isso porque ela tinha um belo traseiro, despertando imenso prazer em Paulo. - Faz tempo sim, como você sabe, hoje é dia apropriado para uns momentos de sexo, e da forma que aprecio. - Você de novo querendo o meu traseiro. A tua mulher não deixa fazer? - Não deixa. Para fazer sexo com ela tem que ser com a luz apagada e pela frente. Na verdade foram poucas as vezes que fiz sexo com a luz acesa. Deixemos de conversa e vamos lá para o teu quarto. Adoro o teu traseiro, que, aliás, é o mais bonito da cidade. Vânia obedeceu ao médico e o levou para o quarto da pensão. Como sempre, Paulo foi bondoso com o dinheiro. Chegando lá, Vânia levantou o sobretudo feminino, tirou a calcinha, ficou de quatro e deixou o médico penetrá-la do jeito que ele mais gostava. Não foi dessa vez que ela se satisfez, porque a forma que o cliente gostava não era a sua. Depois de ter acabado, Paulo pagou Vânia e foi-se embora. A noite continuava escura, chuvosa, fria e cúmplice dos amantes. Alguma coisa estava no ar. Alguém iria morrer de forma violenta. Os olhos negros da morte estavam à espreita, e o silêncio reinava na cidade, exceto pelas prostitutas e velhos marinheiros que se atreviam a andar pelas ruas. A Praça XV parecia um grande bordel, onde homossexuais e putas circulavam à procura de prazer. Vânia não estava contente e necessitava acabar a noite feliz, como mulher. Paulo não fora homem o suficiente. Lavou-se e desceu para a rua. A sua noite tinha que terminar bem gostosa. E foi isso que ela fez. Ao sair do prédio de dois andares onde morava, Vânia deu de cara com um cachorro preto, que ao vê-la, latiu furiosamente. Nunca tinha visto aquele animal. Ficou assustada e saiu correndo. O cachorro ainda deu algumas latidas e desapareceu noite adentro. Esse episódio quase fez com que ela desistisse de procurar alguém para fazer sexo. Com vontade de ser possuída de qualquer jeito, Vânia prosseguiu a sua procura. Quando chegou à Praça XV, ouviu uma voz: - E aí Vânia! Está difícil encontrar algum cliente? Para uma mulher gostosa como você não será complicado encontrar. - Não será, mas o tempo não está ajudando. Eu saí com o Paulo esta noite, mas quero alguém para me satisfazer sexualmente. - O Doutor não deu no coro? - Ele dá no coro sim. Mas gosta do meu traseiro. Eu preciso de um homem que queira fazer a minha “coisinha” e assim ficarei feliz. A conversa estava sendo travada com o marinheiro Douglas, que estava de folga. Ele tinha um belo porte físico, acostumado a exercícios pesados em alto mar. De cor escura, Douglas era pau para toda obra no que diz respeito a sexo. Famoso por ser pé de mesa, o marujo pegava qualquer mulher e até mesmo homossexual que aparecesse na sua frente. Ele nunca tinha feito sexo com Vânia porque ela cobrava caro. Mas naquela noite iria provar do corpo que muitos homens da cidade se babavam. - Vânia, se você cobrar barato eu quebro o teu galho, apesar de já ter pegado a ricaça Fernanda. - Como assim? Que dizer que você traçou a mulher do falecido Francisco, o meu querido amante? - Isso mesmo! Ela me procurou há pouco lá no cais querendo um momento de sexo com um pé de mesa. Ela me pagou bem. Deixei-a toda esfolada de tanto sexo. Agora tem uma coisa que me deixou cabreiro. - O que ela disse? - Sei lá. Achei estranha a conversa dela. Quando acabei o serviço, a ricaça levantou a calcinha dizendo que mataria todas as prostitutas da Rua João Pinto e iria assumir o papel delas, dando para todos sem cobrar nada e que, se for preciso até pagaria para ser comida. A conversa preocupou Vânia, mas deixou o assunto para trás e pegou o marinheiro pelo braço, levando-o até o seu quarto. Ela não tinha sentido a força e o tamanho de um membro tão grande quanto o dele, mas sentiu-se realizada completamente. Depois de uma hora de sexo selvagem, Vânia abriu a porta do quarto e dispensou o amante negro, pois a essas alturas só queria dormir. A madrugada já estava chegando. Tudo estava quieto na Rua João Pinto, exceto os passos da viúva misteriosa. Nua por baixo do sobretudo feminino, e sentindo-se molhada nas coxas, devido ao vigoroso ato sexual com o marinheiro, encaminhou-se até o prédio onde Vânia dormia o sono tranquilo das prostitutas. Cada passo que dava, Fernanda imaginava quantas vezes o marido dela tinha subido aquelas escadas para ter intimidades com a vagabunda da Vânia. Seria o seu primeiro crime, outros estavam a caminho. Iria limpar a rua e a cidade. Ela seria a única prostituta, isso sem cobrar nada de nenhum cliente. Fernanda era filha única de um rico imigrante alemão e herdou uma grande fortuna. Casou-se com o pobretão do Francisco na esperança de constituir uma família exemplar. Não foi isso o que aconteceu. Ele ou ela não podiam ter filhos. Logo após o casamento, Fernanda foi violentada pelo irmão de Francisco. Contou para o marido, mas ele não acreditou. Isso sem falar do episódio que aconteceu quando ela tinha dez anos de idade: um amigo de seu pai, aproveitando-se da ausência de familiares, estuprou-a de todas as maneiras. Essas imagens vinham a sua mente na medida em que subia os degraus da escada. Lá fora o silêncio era total, somente o demônio reinava. Não bateu à porta, ela já estava semiaberta, costume da época. Olhou para Vânia, deitada, enrolada em coberta quente, dormia um sono profundo, nem iria sentir a penetração do fino punhal no peito. Fernanda cursou anatomia no Rio de Janeiro, sabia onde ferir mortalmente com o punhal. Levantou suavemente o cobertor e chegou a admirar o belo corpo de Vânia, que dezenas de vezes fora instrumento de prazer do canalha do Francisco. Sem esperar muito, penetrou fortemente o punhal no peito de Vânia, que deu um suspiro, tremeu um pouco, e parou de respirar. Pegou a coberta e cobriu totalmente o corpo da prostituta. Nada atrapalhou o silêncio da noite, somente a morte fazia o seu trabalho. Fernanda desceu suavemente as escadas, perdendo-se na noite. A notícia da morte de Vânia percorreu a cidade inteira. O delegado Juarez fez perguntas para várias pessoas, mas ninguém indicou alguma pista que o levasse até a viúva assassina. O marinheiro Douglas embarcou no seu navio. Ele poderia dar alguma pista sobre a assassina da João Pinto. O inverno acabou e logo chegou a primavera e consequentemente o verão. Nada de novo aconteceu na cidade. Tudo corria normalmente à espera do próximo inverno, momento onde o diabo descia para a terra. O frio fazia com que as pessoas não saíssem de casa, somente em casos excepcionais. O crime de Vânia já estava caindo no esquecimento, até porque era apenas mais uma prostituta que tinha sido morta. Douglas voltou da viagem que realizou pelos grandes mares e estava ansioso para sentir um corpo sendo subjugado sexualmente. O outono logo iria embora, e as noites frias e chuvosas com o vento sul assobiando na ilha de Santa Catarina, seriam os cenários dos próximos crimes. O marinheiro saiu à procura de alguém e foi até a rua João Pinto, local indicado para as belas aventuras amorosas. Douglas já sabia do assassinato de Vânia, mas não havia lembrado das ameaças de Fernanda. A única coisa que passava pela sua cabeça era sexo e mais nada. Ao dar os primeiros passos em direção à Rua João Pinto, Douglas defrontou-se com uma bela loira, nova, de olhos verdes. Uma joia de menina. Colocou os olhos nela e disse: - O que faz uma linda menina a estas horas da noite? Não tem medo do bicho papão? - Não tenho medo. E não sou uma menina. Tenho 18 anos e já sei o que é ser devorada por um bicho papão. Pietra tinha vindo de Blumenau há dois meses, atrás de emprego. Logo que chegou à rodoviária na Rua Hercílio Luz, não sabendo para onde ir, pediu informações a um taxista. Este, por sua vez, levou-a até a casa do Juanito, um gigolô que morava na Rua Major Costa. Ela saiu dali empregada, mas, não sem antes ter que dormir uma noite com o seu novo patrão. Era o teste do emprego. Daquele dia em diante Pietra trabalhava à noite para aumentar a riqueza do espanhol Juanito. Juanito era procurado pela polícia da Espanha por ter assassinado o Delegado de Madri. Com a ajuda da máfia italiana fugiu para o Brasil no ano de 1954, refugiando-se em Florianópolis. Logo que chegou aqui, fez o que sempre soube fazer: trazia meninas do interior do Estado para se prostituírem e assim ganhar muito dinheiro. Pietra era mais uma, fisgada no seu anzol. - Hoje eu sou o teu bicho papão e quero você inteirinha... - falou Douglas, já imaginando a bela noite que teria com Pietra. - Mas, primeiro você precisa pagar pelos meus serviços. - adiantou a menina de Blumenau. - Isso é de menos. – respondeu Douglas, pronto para mais um gostoso embate sexual. Naquela noite tudo correu como o marinheiro e Pietra tinham combinado. Nenhum dos dois imaginava que algo pairava no ar. Certa noite, quando Douglas saía do quarto de Pietra, esbarrou com Fernanda, que disse: - Por onde andavas velho marinheiro? Estou com saudade da tua grande ferramenta. Está comendo carne nova? Douglas sorriu e falou: - A minha ferramenta está sendo usada no corpo de uma linda menina, que chega a ser coisa de outro mundo. Tudo nela é pequeno, delicia de mulher! Fernanda não disse nada, simplesmente pegou o marinheiro pela mão e o levou até sua casa. Durante todo o restante da noite, eles fizeram sexo e mais sexo. Ela já não aguentava mais, mas, Douglas era insaciável. Enquanto ele a penetrava, ela perguntou: - Quem é essa menina que tem tudo pequeno? Onde ela mora? O marinheiro no auge de seu tesão, falou: - Ela reside no mesmo prédio onde morava a Vânia, assassinada no ano passado e, por incrível que pareça, no mesmo quarto. A viúva do “sobretudo feminino” ouviu tudo, deixou o marinheiro terminar o serviço e foi-se embora. No dia seguinte, ou melhor, na próxima noite, Fernanda foi ao quarto de Pietra e mais um assassinato virou notícia. O fino e longo punhal comprado no oriente entrou mortalmente no lindo corpo de Pietra, que nem sentiu o perfume da morte. Douglas soube do assassinato da menina de Blumenau e não se conformou. Ele estava gostando da menina e até pensava em tirá-la da rua, quem sabe constituir uma família. Caminhando pela Praça XV, lembrou-se das palavras de Fernanda quando transaram pela primeira vez. Não havia nenhuma razão, Vânia e Pietra terem sido assassinadas brutalmente. Alguma coisa estava errada e era preciso tomar alguma providência. Para Douglas, o crime deveria ser desvendado e vingado da mesma forma. A Rua João Pinto já não era mais a mesma. Depois das duas mortes, os frequentadores da noite ficaram mais precavidos. Mas, Douglas matou a charada: Fernanda era a responsável pelos assassinatos. Certa noite, quando o silêncio tomava conta da cidade, o velho marinheiro resolveu sair para investigar as razões dos crimes. Permaneceu um longo período na frente do prédio onde vivia Fernanda, queria observar os movimentos dela. Já passava da meia noite, quando ouviu o barulho de alguém descendo as escadas. Não teve mais dúvidas, era a Fernanda que saía para aprontar mais uma. Ele tentou escapar ou se esconder, mas não conseguiu. A viúva ficou a sua frente e disse-lhe: - Meu adorado marinheiro, está fugindo de mim? - Não estou! Apenas não sabia que era você. – desconversou o marinheiro. - Fiquei sabendo que andas fazendo perguntas sobre o assassino das duas vagabundas que foram mortas? – perguntou Fernanda. - Preciso saber quem foi o bandido ou a bandida que tirou a vida das meninas. Por sinal, eu estava gostando de Pietra e queria montar uma família com ela. - Montar uma família com uma puta que se deita com qualquer um? – questionou Fernanda. - E você? Por acaso não abre as coxas pra todo mundo? – perguntou Douglas A conversa entre os dois estava tomando um rumo perigoso. Douglas queria dar um fim em Fernanda, sabia que era ela a assassina das duas prostitutas. Fernanda percebeu no olhar dele que estava em perigo. Era necessário tomar uma providência. No mundo da noite da Rua João Pinto, tem um momento que existe um limite. Ele entendia as razões de Fernanda, soube que ela fora violentada quando mocinha, mas, fazer disso uma ponte para a vingança vai um longo caminho. Com determinação, numa mistura de ódio e prazer, Douglas encostou Fernanda contra a parede, levantou o “sobretudo feminino” preto, tirou a calcinha vermelha, numa só estocada penetrou a assassina de forma violenta. Com os olhos arregalados, sentindo o cheiro de mofo da parede, Fernanda tremeu de dor e prazer. Não era a primeira vez que sentia o tamanho da ferramenta do marinheiro. Enquanto a noite e a névoa da escuridão reinavam na Rua João Pinto, o casal, entre gemidos e sussurros, esqueciam vingança e ódio, deixando o prazer tomar conta de tudo. Logo após terminarem a selvagem relação sexual, Fernanda, com as pernas bambas, cansada, abaixou-se para levantar a calcinha. Sem perceber, ela sentiu uma dor profunda no lado esquerdo do abdômen. Percebeu que estava sendo golpeada por um punhal fino, longo e afiado. Era o seu punhal sendo usado contra ela. A lâmina entrou no fígado, rasgando-o totalmente e indo na direção do coração. Fernanda, conhecedora de anatomia humana, sabia que o golpe era fatal, mas levaria alguns minutos para morrer e muito sangue iria escorrer. Deixou-se cair suavemente, como se estivesse se arrumando para o leito da morte. Encostou-se na parede, olhou para o chão e viu uma grande poça de sangue se formar. Douglas estava de pé, ainda com as calças no chão, segurava o punhal coberto de sangue. Ele havia roubado o punhal de Fernanda no momento que faziam sexo. Parecia feliz por ter desfechado o golpe final na mulher que matou cruelmente as suas duas amantes. Nesse instante chegou a ver as imagens de Vânia e Pietra sorrindo para ele, como num gesto de agradecimento. O mar, que estava calmo, criou ondas e tornou-se violento. As estrelas desapareceram do céu e nuvens escuras se formaram. O vento que não tinha dado o ar de sua graça assoprou levando os papéis da Rua João Pinto. Ele olhou para Fernanda e disse: - Eu sempre soube que foi você. Agora vai descansar no inferno, numa mistura de prazer mortal. Você não merece viver na terra e sim ser a esposa do demônio, ou melhor, a puta dele. – sentenciou o velho marinheiro. - A morte até que está sendo gostosa. O ferimento no fígado não traz dor e sim desfalecimento. Mas, por que você? – perguntou Fernanda, já com a voz engasgada pelo sangue. - Porque tinha que ser. Não tenho ninguém que chore por mim e já matei várias pessoas ao redor do mundo. Nos portos que desembarquei já tive inúmeras amantes e muitas delas me contratavam para assassinar os maridos em troca de dinheiro. Sou como um animal selvagem, que se alimenta com a dor dos outros. Mas nunca tive a intensão de fazer isso com você. E você não precisava ter matado Vânia e Pietra. - Eu só queria ser a única prostituta da Rua João Pinto. A única forma de atingir o prazer era sendo uma vagabunda, penetrada por qualquer homem, principalmente da forma que acabamos de fazer. A riqueza nunca me trouxe prazer. Fui casada com um homem que nunca se preocupou em me oferecer algum momento de alegria na cama. As damas não são felizes, são apenas instrumentos de seus maridos, cornos e incompetentes. Estou morrendo feliz, atravessada por um punhal que comprei quando visitei o Marrocos há cincos anos. Dizem que esse punhal foi feito para matar os amantes traídos. - Agora está tudo acabado para você. Descanse na Rua 66, no centro do inferno, onde o teu futuro amante vive. Com essas palavras, Douglas despediu-se de Fernanda. Fernanda sorriu com as últimas palavras de Douglas. Sentiu um gosto de sangue que escorria pelo canto da boca. A morte estava descendo a mando do diabo, o seu futuro marido. Douglas levantou a calça, limpou o punhal na roupa de Fernanda e saiu caminhando, desaparecendo em direção à Praça XV. Logo o dia iria nascer e ele precisava embarcar para mais uma longa viagem, só que desta vez, não voltaria nunca mais.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Antigo Aposento

(Delio e Delinha) Fui rever a minha terra/ Pra matar minha saudade/ Cheio de felicidade/ Meus amigos encontrei/ A noite estava clara com o seu luar de prata Fui fazer a serenata invés de cantar chorei/ Percebi logo a saudade na memória uma lembrança/ Dos meus tempos de criança que brinquei na cachoeira/ Saracura no banhado bem-te-vi lá no pomar/ Quero ouvir o gorjear do sabiá laranjeira/ Naquela grande varanda na janela debrucei/ E na rede do passado muitas vezes balancei/ Comparando a minha infância com tudo que já passei/ Só da minha meninice que jamais esquecerei/ Quem me dera se voltasse pelo menos aos 15 anos/ Sofri tantos desenganos que nem gosto de lembrar/ Perdi minha mocidade após tanto sofrimento/ Meu antigo aposento regressei pra descansar/ Fiquei triste pensativo no recanto bem sozinho/ Para ouvir os passarinhos num cantar apaixonado/ Parece que eles diziam por que você foi embora/ Hoje é você quem chora recordando seu passado/ Gavião piava triste lá no centro do cerrado/ Pintassilgo no gramado, arapongas lá na mata/ Eu também cantava triste no braço de uma viola/ Não há nada que consola essa dor que me maltrata/

NÃO VOU ADORMECER SEM DEGUSTAR OS MEUS SONHOS

Ninguém prende um pensamento. Ninguém aprisiona uma alma ou um coração. O amor é livre e o gostar caminha junto com a liberdade. O desejo ...