sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Amarga Morte de uma Deusa

O teu rosto está dizendo tudo/ Tudo o que foi feito/ A tua maquiagem não existe mais/ Se mistura com o suor/ Suor que está te entregando/ Mostrando que a/ Noite foi virada do avesso/ Avesso e desgraçadamente embriagante/ Não precisa dizer mais nada.../ Você saiu para dançar/ Dançou a tua despedida/ Despedida desta vida/ Vida que nunca valeu a pena/ Pena que tenho/ Da mulher que fez da noite/ Uma transa sem fim.../ Até mesmo os teus cabelos/ Loiros e longos/ Suaves como seda/ Ontem arrumadinhos/ Hoje totalmente despenteados/ Amassados e quebrados.../ Agora caminha lentamente/ Cansada e desnorteada/ Sem rumo.../ Bafo de cerveja com vodka/ Bebida que sempre foi a tua água/ Água que mata a tua sede/ Sede que você tem/ De noites depravadas/ E sem limites.../ Sem norte e sem fim/ Não explique mais nada/ Porque não adianta/ Para uma mulher/ Dona de todos os homens de ocasião/ Ocasião que fará de você um dia/ Uma mulher de plantão/ Numa esquina de uma cidade qualquer/ Porque os anos irão desmanchar/ Esse lindo corpo/ Enfeitiçado rosto/ Rodeado de curvas fatais/ Assediado e admirado/ Por homens que precisam/ Saciar os mais sedentos desejos/ Desejos que você não tem/ Tem somente vontade de ter dinheiro e poder/ Poder que chegará ao fim também.../ Aproveite enquanto a idade/ Está te fazendo a deusa da noite/ Porque quando tudo terminar/ A porta que hoje de acolhe/ Estará fechada.../ A janela trancada/ O portão com cadeado/ Outra estará em teu lugar/ Porque lugar de mulher da noite/ Não entra mais.../ Mas nada disso precisou/ O destino fez justiça/ O repórter da noite anunciou/ A loira e deusa da noite morreu/ De forma violenta/ Em alta velocidade/ Com seu carro envenenado/ Totalmente desgovernado/ Entrou embaixo de um caminhão/ Na saída de uma balada/ Ela encontrou o fim/ Fim que sempre procurou/ Fez de tudo para encontrá-lo/ Levou junto os sentimentos jogados/ Nos uivos e na ventania das madrugadas.../

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Louca e Linda

O calor do teu corpo/ Esquenta as emoções frias/ Da minha vida/ Vida que as paixões/ Sempre foram os motivos de tudo/ Tudo que quase sempre/ Virou em nada.../ Nas sombras das nuvens/ Que caminham pelo céu/ Descanso pensando que/ Os caminhos por mais/ Longos que sejam/ Sempre se encontram.../ Corpo que muitas vezes/ Faz de mim o homem mais feliz/ De todos os homens/ Rosto que nas horas tristes/ Deste poeta caminhante/ Sorri com a minha intensa presença/ Na sua vida.../ Olhos verdes/ Pequenos que me guia / Nos momentos de dependência mundana.../ Que em noites/ Que o sono desaparece/ Vejo vindo ao meu encontro/ Para me fazer dormir/ Nos seus braços.../ Lábios carnudos/ Suculentos e apimentados/ Que desde o primeiro beijo/ Nunca mais senti outro igual/ Igual que faz de mim/ Um toro nas invernadas das noites sem fim/ Boca quente.../ Língua fatal.../ Que a cada beijo/ O meu corpo fica arrepiado/ Arrepio que faz a pressão aumentar.../ Aumento esse que fica a noite inteira!/ Sem que possa descansar/ Descanso que nunca acontece/ Quando estamos juntos.../ Quente e bela/ Corpo branquinho/ Pele lisa.../ É assim que vejo você!/ Que ao dançar comigo/ Tem prazer intenso/ Cada passo é um orgasmo/ Cada compasso/ Vai as nuvens/ Ao retornar.../ Se gruda nos meus braços/ As vezes perde o compasso da dança/ Os olhos se perdem.../ Vão ao infinito da sensualidade/ Que só as mulheres/ Quentes e apaixonadas/ Conseguem entender/ E perceber o valor de uma/ Doida paixão/ De estar dançando/ Com o homem da sua vida.../ Caminhando pela rua/ É uma mulher séria/ Que até parece rezadeira/ Mas ninguém imagina.../ Que o corpo daquela mulher/ Se transforma/ Toma forma/ Vira uma puta enlouquecida/ É uma fêmea com muita sede / De dança...de longos beijos/ Enfim... É/ Uma leoa!/ Que me arranha...!/ Me morde...! Uiva pelos quatro cantos da cama/ De um quarto de um motel qualquer/ Que chega ficar muito pequeno!/ Para suas doces loucuras.../ Tudo é um profundo/ E desvairado prazer/ Nos braços do seu doido amor.../ Depois de tudo.../ Ainda tem tempo para lamber/ Gostosamente e de forma silenciosa/ Comportada...!/ O suor derramado no corpo/ Do seu homem.../

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Almas Peregrinas

Somente o barulho do mar e do vento era possível ouvir. Batiam violentamente no grande rochedo que protegia a pequena casa de madeira, construída há mais de cinquenta anos, por um jovem cigano. Só existia um caminho que levava à simples morada: a velha estrada de chão batido, que a poeira e o mato tomavam conta. Ali, onde foi palco de grandes acontecimentos, hoje é um local guardado pelo tempo. Ao olhar as paredes da velha casa é possível sentir as energias que ainda pairam no ambiente. As tábuas, separadas e retorcidas pelas agressões da chuva, do sol e do vento, mostram fotografias cinematográficas de um tempo de pura magia existencial. As telhas, que apesar das tempestades de granizo, ainda suportam a ventania do vento sul. Ao longe é possível ver um majestoso farol, que nos temporais avisa aos navegantes que é região de rochedos. A casa foi construída no início dos anos cinquenta, quando o cigano Pedro e a alemã Letícia resolveram construir uma nova vida. As terras pertenciam ao tio de Letícia, dono da maior parte das fazendas e sítios do Pontal do Grande Rochedo. Pedro era um jovem forte e moreno, com longo cabelo preto e amarrado, tipo característico de um verdadeiro cigano. Tão logo chegou ao Brasil, vindo exilado da Iugoslávia, procurou um local mais distante para começar uma nova vida. Quando caminhava pelo Porto de Itajaí, Pedro passou por uma moça loira, muita bonita. O olhar foi tão profundo, que fez com que ela desse dois passos para frente e parasse. Parou e ficou pensando: por que esse moço olhou tanto para mim? Será que ele me conhece? Como foi educada para não conversar com estranhos, seguiu em frente, mas com o coração batendo forte. Pedro não suportou o som dos passos da linda moça desaparecendo em direção à praça e gritou alto: - Você pode me dar uma informação? Não sou desta cidade e quero que alguém me oriente. Nesse instante, a moça de olhos verdes e cabelos loiros, ao ouvir a voz do rapaz, parou por um instante e deu meia volta. Nesse momento os olhos se cruzaram, energias foram trocadas, alguma coisa aconteceu entre esses dois jovens. Ela voltou alguns passos na direção dele e, ao chegar perto, perguntou: - Em que posso te ajudar? Não conheço quase nada, sou do interior, estou aqui com a minha mãe para fazer compras. Pedro, com o olhar profundo nos olhos dela, perguntou: - Você conhece alguma terra para vender? Eu vim de bem longe e quero recomeçar a vida, distante de onde nasci. - Primeiro: quem é você? Não te conheço, e fui criada para não dar informações a estranhos, muito menos para um homem que fala muito mal a língua portuguesa e usa cabelo igual ao de mulher... – acrescentou, com sorriso nos lábios. - Mas você também não fala bem o português, arrasta as palavras, mesmo assim gostei da tua voz. Eu me chamo Pedro Ionovak e vim da Iugoslávia. Fugi do comunismo e do ditador Tito. Deixei os meus pais lá, e quando eu comprar uma terra boa, pretendo trazê-los para morar comigo. - Eu sou Letícia, filha de alemães de Pomerode, que vieram para o Brasil quando eu era criança. Eles fugiram da guerra e hoje vivem da agricultura. Parece que somos filhos das guerras e dos sistemas que violentam os seres humanos. Na medida em que a conversa ia acontecendo, os jovens, em momento algum, tiraram os olhos um do outro. Uma química forte e profunda os uniu. Ele, moreno, com os olhos pretos, e ela, de pele branca e olhos verdes, pessoas diferentes, de regiões distantes, mas com algo estranho que fazia com que os seus destinos jamais os separassem. O coração do cigano Pedro batia como nunca bateu em toda a sua existência. Letícia, arrastando as palavras, tentava se controlar. Era preciso segurar a emoção, mas com toda a certeza alguma coisa mudou depois que o conheceu. Como o sol estava forte, Pedro convidou Letícia para conversarem na sombra, mais precisamente embaixo de uma figueira, perto de uma grande praça. Mais tranquilos, eles reiniciaram as indagações. - Que tipo de terra você pretende comprar? –voltou a perguntar Letícia. - Eu pretendo adquirir um local perto do mar, onde eu possa todos os dias acordar e adormecer admirando as ondas baterem na praia. Ou, quem sabe, um rochedo, onde as ondas brigam todos os dias com as pedras... - Humm... Você é romântico. Olha, não tenho certeza, mas eu acho que o meu tio pretende vender uma parte de suas terras, que fica no Pontal do Grande Rochedo, numa cidadezinha do Sul do Estado. É parecida com as descrições que você fez de forma linda e romântica. - Como posso fazer para conversar com o teu tio? Eu posso ir com você? - Não é possível. Eu estou com a minha mãe, mas chegando lá eu converso com ele. Você pode aguardar por aqui. As coisas aconteceram e os negócios foram concretizados em quinze dias. Pedro, o cigano, foi morar na ponta do grande rochedo. Era exatamente como ele sempre sonhou. Dali era possível admirar o mar, o grande lago solitário, e muitas vezes, perigoso. Com o resto das economias que trouxe, ele comprou algumas dúzias de canela preta e construiu a sua casa. Era simples, com um quarto, sala, cozinha e banheiro. Parecida com a casa feita na Iugoslávia, mais ou menos dentro do padrão das vilas dos ciganos. Enquanto era construída a casinha, Pedro e Letícia trocavam cartas, porque a saudade era grande. Todo final de semana, Letícia ia aos correios da cidade de Pomerode, para ver se tinha alguma carta. Nunca perdia a viagem, sempre tinha uma cartinha para ela. Da mesma forma, Pedro nunca perdia a viagem, quando se deslocava às sextas-feiras até a cidade de Laguna. O inverno estava chegando e já fazia seis meses desde o último encontro. O mar estava violento e o vento brigava, com raiva das pedras. O jovem cigano recebeu uma carta de Letícia, que revelava que seus pais tinham sido assassinados e que ela tinha tomado uma decisão. Estava vendendo tudo e estava de malas prontas para viver com ele. Pedro ficou engasgado e ao mesmo tempo emocionado. Não sabia se saía correndo pelas ruas, gritando de alegria, ou se pegava o primeiro ônibus para se encontrar com a sua amada. Logo que a noite começou a desaparecer, bem cedinho, Pedro embarcou para Pomerode. A viagem levaria dois dias e duas noites, mas não importava. O importante é que estava indo ao encontro da sua loirinha, a mulher dos seus sonhos, menina dos olhos verdes, pele branquinha, pequena em tudo, mas com um grande coração, que era todo seu. Letícia, por sua vez, não queria esperar mais a resposta de Pedro. Iria ao seu encontro, porque sabia que o amor entre eles era forte o suficiente para suportar todas as tempestades da vida. E, para sua surpresa, Pedro desembarcou... Novamente os olhos dos dois conversaram longamente. Trocaram palavras através das emoções e dos corações. As almas dialogaram por muito tempo. Lentamente, deram alguns passos em direção um do outro. - Letícia, desculpa, mas eu não iria esperar por muito tempo. Resolvi vir buscar você, para vivermos juntos e juntos envelhecermos, como fazem os casais ciganos na minha terra natal. Eu acho que nós já esperamos muito. Preciso do teu amor e preciso que você seja a mãe dos meus filhos. Prometo que serei como o meu pai foi, fiel para com a minha mãe até o fim da vida dela. Nós, ciganos da Iugoslávia, somos fiéis, sempre. Letícia não sabia se falava ou se corria para os braços de Pedro. Não teve dúvida, correu e abraçou longamente o seu amado. Era o reencontro de duas almas peregrinas. Cruzaram os oceanos e enfrentaram todas as vicissitudes para recomeçar algo que ficou nos desfiladeiros do passado. - Pedro, eu também não iria esperar, já comprei a passagem. Só falta você comprar a passagem de volta para a nossa casa. Eu já sabia que as terras do Pontal do Grande Rochedo era onde eu iria morar. Desde criança, quando os meus pais me levaram para conhecer o meu tio Túlio, senti pela primeira vez que ali, perto do mar, na ponta, no grande rochedo, eu iria viver com o homem da minha vida. Durante muito tempo, nos dias que se passaram, nas longas noites, nos sonhos de menina moça, eu via você, vindo ao meu encontro. Moreno, alto, de olhos pretos, cabelos longos e amarrados. Sempre sorrindo, com dentes grandes e brancos, parecendo lobo do deserto. Eu acordava, corria para contar para a minha avó, Matilde, que aos seus 90 anos, acreditava nas minhas palavras. Nunca esqueço o que ela me disse: “Letícia, tem amor que atravessa a morte... passa através dos sonhos, e vem viver novamente.” No início eu não entendi bem, mas aos poucos, compreendi o significado das palavras ditas. Hoje, ela deve estar confortando os meus pais, e quem sabe um dia, ela venha nos visitar na casinha que você construiu para nós morarmos. - Minha Letícia, minha paixão, eu não compreendo bem estas tuas palavras, de vidas e de mortes, mas têm sentido. Como disse para você na primeira vez que nos encontramos, sempre imaginei o local onde estou morando, mas sabia que era longe da minha terra, em algum lugar distante dali. Lembro que, certo dia, o meu primo, Fernando, que hoje é oficial do ditador Tito, disse-me que era a última vez que estávamos nos vendo, porque tinha sonhado que eu iria fugir e morar num lugar distante e que iria encontrar a mulher da minha vida. Não dei muita atenção às suas palavras, não estava gostando mais dele, porque era capacho do Tito. O momento foi de pura emoção transcendental. Tanto Pedro como Letícia estavam radiantes, estavam iniciando uma nova vida, os seus sonhos estavam se concretizando. Sentaram-se no último banco do velho ônibus que, aos poucos, foi em direção a sua futura morada, no Pontal do Grande Rochedo. A estrada era repleta de buracos, mas entre um solavanco e outro, eles tiveram tempo suficiente para namorar e criar uma fina sintonia amorosa. O inverno já se fazia presente no Sul e era preciso comprar roupas apropriadas, assim como cobertores e lençóis e uma cama de casal. Era uma quarta-feira de um lindo dia quando Letícia disse para Pedro: - Pedro, nós precisamos plantar feijão, milho, frutas, criar galinha e porcos para o nosso sustento. Nós não podemos viver das economias da venda das terras dos meus pais. Quem sabe para o ano que vem possamos vender a nossa pequena safra na vila em troca de farinha, banha e outras coisas necessárias para nós. - É verdade, minha querida. Eu já estava ficando preocupado. Amanhã bem cedo vamos até a vila para comprar as sementes, mudas de árvores frutíferas e ferramentas. Mas já vou avisando, não sou tão bom na agricultura, ou melhor, nunca plantei nada. Lá na minha terra, a única coisa que aprendi era fabricar tacho e panela de cobre. O meu pai me ensinou a fabricar e sair no final do mês para vender na cidade. Depois a gente passava na feira e comprava os mantimentos necessários. – revelou Pedro, surpreso com a desenvoltura da sua companheira, mesmo novinha e já preocupada com o dia-a-dia da vida de um casal. - Não se preocupe, meu querido! Eu aprendi a manejar uma enxada, preparar horta e plantar as árvores frutíferas. Precisamos saber que tipo de fruta a terra aqui do Sul aceita para plantar. No dia seguinte, Pedro e Letícia saíram em direção à vila para fazer as compras. Alegres e sorridentes eles caminharam pela estradinha de areia que circundava a praia. Não era muito longe do Pontal do Grande Rochedo. Laguna, com suas casinhas coloniais tinha um clima sereno e aroma de um local bucólico, banhado pelo mar e com pessoas voltadas para a pesca. A vida de Pedro e Letícia transcorreu como as águas de um rio caudaloso, forte em passar pelos obstáculos e sereno sempre em direção de um fim incerto. Eles transformaram as terras num imenso pomar, com árvores frutíferas de todas as espécies e uma roça onde milho, feijão, mandioca, nunca faltou. Durante dez anos viveram em paz, mas uma coisa preocupava muito o casal. Letícia não conseguia engravidar. Conversou com várias pessoas da vila e todas diziam que às vezes a gravidez não acontece na vida de uma mulher. Pedro andava triste, queria ter filhos, se sentia sozinho, distante da sua terra natal. Seus pais dele não podiam sair da Iugoslávia porque o ditador Tito não deixava os iugoslavos viajar para outros países. O sistema comunista proibia as pessoas de saírem do país. Letícia, da mesma forma, estava se sentindo uma meia mulher, não tinha condições de dar os filhos que seu amado tanto queria. O tempo não estava favorecendo a intensão do casal. As coisas começaram a não ficar bem e Letícia, com o coração entristecido, falou para Pedro: - Querido, tenho uma ideia. Quem sabe a gente volta para a terra dos nossos avós. Vamos deixar tudo aqui. Vamos atravessar o mar e ir ao encontro da minha Alemanha e você da tua Iugoslávia. Sinto que precisamos cumprir essa missão, atravessar o oceano num pequeno barco, ir ao encontro das nossas raízes. Aqui, não somos felizes, não consegui dar o que sempre sonhamos: os filhos que todo casal almeja. Eu sempre tive a intuição que no final de tudo, iríamos fazer uma grande viagem sem volta. Muitas vezes os recados chegam, dizem coisas e nós, orgulhosos, não aceitamos o que tem para nós. - Minha amada Letícia, você captou o meu pensamento. Vamos deixar que o tempo e a solidão tomem conta desse local. Não temos inimigos e sim amigos que moram na vila e irão sentir saudades de nós. Às vezes o destino tem o seu projeto para os seres humanos. Vamos sair do Pontal do Grande Rochedo, junto com a sétima onda que bate nas pedras. Eu acho que estamos sendo esperados, não sei por quem, mas está na hora da nossa partida. Quero viver com você para sempre, quem sabe, como você sempre diz: “a nossa morada não é aqui..” - Meu amado Pedro, eu sei que jamais iremos nos separar. Você me ama e eu amo você... Outra coisa, não somos donos de nada. Na morte não vamos levar a riqueza e sim o que fizemos de bom e de errado. Somos duas almas livres para voar em direção aos nossos sentimentos e compromissos. – acrescentou Letícia, com o pensamento voltado para o horizonte. Pedro e Letícia foram até a vila, compraram um pequeno barco dos pescadores e não disseram nada, apenas conversaram com todos e com olhar misterioso, de despedida, saíram navegando pelo imenso oceano. Sentados numa poltrona do barco, deixaram que a brisa da noite os levasse para o encontro final de suas existências. Felizes, carinhosos, parecendo aves voando na direção do ninho eterno, Pedro e Letícia, sem raiva nem rancor, desprendidos dos bens materiais, estavam à mercê das energias que criaram o mundo. Eles estavam sendo chamados para ajudar outras almas que necessitavam de suas lições e práticas de vida. Era lua cheia e o céu estava estrelado. Naquela noite o frio estava ameno. Em alto mar um barquinho ainda navegava entre as ondas. Numa noite mágica e repleta de luzes que o céu emanava nas águas do mar, duas almas peregrinas estavam sendo recepcionadas pelos anjos. Foram ao encontro das suas moradas, porque vieram na terra para apenas cumprir uma parte de seus imensos compromissos com o universo que comanda os destinos das almas em processo de evolução.

NÃO VOU ADORMECER SEM DEGUSTAR OS MEUS SONHOS

Ninguém prende um pensamento. Ninguém aprisiona uma alma ou um coração. O amor é livre e o gostar caminha junto com a liberdade. O desejo ...