terça-feira, 25 de novembro de 2014

FLORES DO LAMAÇAL

Nós somos como flores do lamaçal.../Têm momentos que exalamos profunda podridão.../Em outros exalamos perfume do campo.../Pendemos muito mais para o lado podre da vida.../Dependendo da situação somos muito mais violentos que os felinos.../Os animais matam para saciar a fome.../Nós matamos por vingança e ódio.../Tristes seres humanos...!Se esquecem que a sepultura será o final de todos.../Enquanto a alma residirá no lodo do umbral ou numa imensa planície de girassóis...Mesmo assim acreditamos que no final da estrada.../As flores do lamaçal exalarão somente o perfume do campo e dos mais belos jardins...

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Embriagante Magia da Noite

A noite tem uma magia e um grande mistério que emociona a mente e o coração das pessoas que frequentam as noitadas. Cada noite tem um segredo que pouca gente consegue saber e entender. As pessoas se transformam. Mudam de atitude. São mais livres e libertinas. Tudo acontece e tudo vira um mito ou mesmo uma lenda. Os poemas da “Embriagante Magia da Noite” foram inspirados nos memoráveis momentos noturnos deste poeta. Ali desfilam personagens que se perderam pela madrugada, morreram de tanto amar ou desfaleceram agarrados em copos de bebidas. Dançarinos que ainda hoje dançam sem parar, procurando o par que fugiu, ou mesmo morreram abraçados com a saudade. Cada noite era um novo dia e cada dia era uma nova noite. Nos anos em que passamos casados com os amantes da vida noturna, a existência parou no tempo. O relógio foi jogado fora porque os ponteiros quebraram de tanta emoção. Ao chegar aos bailes, na porta de entrada, este poeta dizia: - “boa noite meia noite! Cá estou para te namorar e, se for preciso, morrer nos teus braços”. É também uma homenagem que faço aos boêmios e aos desatinados que enlouquecem as embriagantes noites. É fundamental lembrar que para tudo na vida há um tempo e enquanto esse tempo não acabar, que seja intenso, sem medo de degustar todos os momentos. Esta obra, que será lançada em 2015, tem o objetivo de mostrar o coração da noite e as várias nuanças que permeiam os seus frequentadores. Portanto, quando ler, poderá adentrar e viajar sem receio de ser censurado pela hipocrisia.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Bento Maurício e Letícia

Há pessoas que nascem para alguma missão na vida, ou para transformar o caminho de outras pessoas. Outras vêm para provocar nos seres humanos, momentos de tragédia e angústia. Cada pessoa carrega na bagagem, grandes e pequenos projetos, que ao colocarem em execução mudam a trajetória dos seus semelhantes. É a roda da vida que gira, determinando as noites e os dias dos habitantes da Terra. São seres especiais porque fazem a diferença por onde andam. Atraem grandes multidões, através da voz, ou de um dom artístico, ou mesmo pela magia da sua presença. Ao mesmo tempo em que são admiradas, amadas, são também invejadas e odiadas por pessoas que não admitem o progresso dos outros. Nasceu no dia em que o mundo cantava e as cigarras encantavam, com o seu canto, os transeuntes. Ele possuía brilho nos olhos, com uma imensa vontade de cantar e fazer da sua voz o símbolo da alegria. Não era rico nem pobre, simplesmente tinha o necessário para viver. Desde que colocou os olhos nas luzes da vida, sentiu que sua missão era cantar em cima de um palco, num baile, ou mesmo nas paradas de ônibus, pelo interior, para fazer as pessoas mais alegres. Quando completou seis anos de idade, ganhou do pai um violão, e com este presente fez dos seus dias, tempos de aprendizagem. Quem o via tocar, imaginava que nasceu com o dom musical, pois conhecia bem o instrumento. Não possuía vaidade pela sua capacidade de arregimentar pessoas em sua volta para ouvir o som do violão, ou de outro instrumento musical. Na visão do artista que era, percebeu que a cidade onde morava estava ficando acanhada, precisava mudar de endereço, ou mesmo de ares. Depois de uma despedida repleta de emoção e lágrimas, onde cantou a canção “Chalana”, Bento Maurício embarcou em direção à capital, para subir na escada artística. Na nova morada teria condições de aprender e mostrar ao mundo que nasceu para brilhar. No meio da viagem, na medida em que o ônibus avançava na direção do destino, Bento Maurício, adormeceu e teve um sonho. Nesse sonho, recebeu a informação que sua vida já estava desenhada, enquanto permanecesse vivo, teria que cantar nos mais diversos pontos isolados das estradas. Os hotéis de beira de estrada, as rodoviárias, os bares, seriam o palco, onde os versos e os cantos poderiam ser apresentados aos ouvintes solitários e desgarrados da vida. A cada passo que dava, não estava se despedindo, apenas caminhando para o futuro. O presente se alongava, porque a emoção exigia que assim o fosse. Percebeu que o sonho foi um recado, quem sabe, um aviso dos donos do destino, ou um compromisso assumido em algum ponto das existências. No coração e na alma de Bento Maurício, o som musical sempre foi o companheiro da longa caminhada. Nos momentos de sofreguidão, quando o caminho se tornou solitário, foi na música e nos instrumentos musicais que buscou a certeza de melhores dias. Ao parar para abastecer numa pequena cidade do interior, o motorista do ônibus, olhou para Bento Maurício e disse: - E aí violeiro, não vai descer para tomar um café? - Boa ideia. É isso que vou fazer. – respondeu Bento Maurício. Enquanto os demais passageiros foram fazer lanche, Bento Maurício pegou o violão e ali mesmo, na Rodoviária, cantou uma linda melodia, despertando a atenção dos transeuntes noturnos. Era quase meia noite, soprava um leve vento frio, tornando o local propício para ouvir canção romântica, ou mesmo aquela que leva a alma a descansar. Após cantar algumas músicas, Bento Maurício embarcou no ônibus, deixando para trás uma imensa saudade nos habitantes da rodoviária. A madrugada reinava silenciosa, e pela janela do ônibus, Bento Mauricio ia observando a paisagem do interior, fazendo com que seu coração ficasse cada vez mais triste. Porque foi no interior que ele cresceu e, naquele momento, grandes emoções o aguardavam; talvez profundamente diferentes de tudo o que já tinha vivido. No final do corredor do ônibus, uma jovem, com pouco mais de 18 anos, observava o violeiro e sua viola. Ouviu atentamente as músicas tocadas por ele e, silenciosamente, deixou que seu coração abrisse a porta para que a musicalidade adentrasse na alma. Para conhecer melhor Bento Maurício, a moça se aproximou, dizendo: - Boa noite, cantador! Adorei ouvir as tuas melodias, cheguei a viajar pelo tempo. Fiquei atraída por tua cantoria, que deixou meu coração apertado. - Obrigado, minha jovem. Que bom que você gostou. – respondeu Bento Maurício, feliz em ouvir as palavras elogiosas. - Achei bonito você ter parado na rodoviária e cantar para os passageiros que aguardavam a chegada do ônibus. Você parece ser alguém especial, pela forma que canta, passa uma energia forte e bela para as pessoas. – acrescentou a moça. - Você é jovem e já tem esse pensamento sobre a vida. Desculpe, mas como é o seu nome? – perguntou Bento Maurício, com os olhos vidrados na linda moça a sua frente. - Eu sou Letícia, estou indo para Florianópolis visitar parentes que faz tempo que não vejo. – Revelou, com interesse em aprofundar a conversa com o violeiro. - Bento Maurício, às suas ordens. Na verdade, sou natural de São Miguel do Oeste e pretendo conhecer todas as cidades do nosso Estado, e depois seguir viagem pelo Rio Grande do Sul. Quero cantar em todas as cidades, de bar em bar, de salão em salão, pretendo fazer da minha vida uma longa apresentação musical. – afirmou ele, abrindo o coração para Letícia. - Humm... Que coisa linda! Quando ouvi a tua voz lá rodoviária, senti que estava prestes a conhecer uma pessoa diferente e especial. Muitos jovens, na nossa idade, não têm esse tipo de pensamento. Querem apenas fazer da vida uma viagem sem nenhum significado. E você, assim como eu, que gosto de escrever poesia, temos uma relação profunda com a existência humana. Enquanto o ônibus trafegava suavemente pela rodovia, a conversa entre Bento Maurício e Letícia rolou por um longo tempo, cantaram várias melodias, riram, e se olharam como dois velhos conhecidos. Não restou nenhuma dúvida que ali estava acontecendo algo extraordinário entre duas pessoas. Parecia que era um reencontro de almas que marcaram encontro para continuar a jornada na Terra. Um novo dia estava surgindo quando chegaram à Lages. Bento Maurício pegou o violão, e disse para Leticia: - Eu vou parar um tempo aqui. Quero cantar para esse povo. Depois, vou continuar a viagem. - Bento Maurício, gostaria de ficar com você. Sinto em minha alma imensa necessidade de continuar ao teu lado, para formarmos uma dupla, onde posso fazer a segunda voz. Quem sabe você compõe música escrita por mim. Você me ensina a tocar violão e vamos vivendo, alegrando as pessoas tristes dos vales e das planícies da nossa terra. É assim que meu coração pede e almeja... Quero voar na música e no canto, sempre ao teu lado. Conhecer o mundo, despertar a alegria nas pessoas. – revelou Letícia, totalmente envolvida nas garras da paixão pelo violeiro. - Letícia, eu também fico profundamente honrado com a tua proposta. Até parece que já nos conhecemos há muito tempo. Não conheço nada no sentido espiritual, de reencontro das almas e dos seres que já viveram em outras estações da vida, mas sinto um aperto muito grande no coração só em pensar que você possa embarcar e que nunca mais possamos nos ver. Fique comigo e vamos viver a vida cantando, sem nenhum compromisso, apenas alegrando as outras almas entristecidas. Também quero conhecer todos os recantos do mundo e voar junto com você, como dois passarinhos sem ninho, assim como fazem as aves de arribação, que embelezam as montanhas. – acrescentou Bento Maurício, agradecido por ter conhecido a sua cara metade. - Bento Maurício, no domingo passado, sonhei que estava na rodoviária esperando por alguém que sentia grande saudade. Agora, entendo o significado desse sonho. Nada vai nos separar. Você é dois anos mais velho e tem mais experiência do que eu e, assim, poderemos formar um lindo casal, onde o respeito e o amor serão o norte de nossas vidas. – afirmou Letícia, com os olhos cheios de lágrimas. A vida e o destino não são escritos por nós no momento do caminhar. Tudo é montado em algum lugar que nós não sabemos. Cada um de nós tem uma trajetória, que em certo ponto se junta a alguém para construir uma obra de envergadura existencial. Bento Maurício e Letícia, depois daquele dia, nunca mais se separaram. Casaram, tiveram dois filhos, fazendo do canto e da música, a esperança para outras pessoas nas mais diversas cidades que se apresentaram. Foram dois pássaros que saíram do ninho para, lá na frente, formarem uma dupla de seres destinados a encantar os caminhantes. Conheceram todos os recantos, sempre deixando emoção, saudade e apertos nos corações dos transeuntes. Fosse nos bailes, na TV ou no Rádio, a dupla contagiava, pela forma linda e alegre com que se apresentava, mostrando que a vida, por mais difícil que possa ser, sempre tem um grande significado. As letras, escritas por Letícia, trazia um caminho para as almas viventes da Terra. Nunca entraram em discussão com outras pessoas, eram carinhosos um com o outro. Nasceram para viver juntos; fazendo da jornada uma bela composição musical. A musicalidade e a energia acalmavam o mais triste e raivoso dos seres. Ao completarem 60 anos de carreira artística e 82 de vida, quando seguiam viagem para Dionísio Cerqueira, para se apresentarem, o carro que viajavam se perdeu numa curva indo bater de frente com um ônibus, que seguia para Chapecó. Não viram e não sentiram nada, porque dormiam no momento da colisão. Suas almas, agora, estavam cantando no céu, pois no momento da morte, os anjos fizeram da travessia, um longo sono; sem dor, apenas, a ruptura de uma mágica vida. Para a polícia, o culpado foi o motorista, que também dormia ao volante. Nas rodoviárias do interior, no silêncio da espera do próximo ônibus, alguém ligou o radinho de pilha, e a voz de Bento Maurício e Letícia adentrou nos corredores, transformando a tristeza em momentos de alegria. Já no baile do Pacheco, em São Miguel do Oeste, o gaiteiro João, relembrou a famosa música “Canta Coração”, de autoria de Letícia e Bento Maurício. Lá nas alturas, onde o paraíso é o reino das almas felizes, o casal de violeiros canta as suas melodias, alegrando as almas que viveram na Terra. Por mais melancólica que possa ser uma alma, nesse momento de cantoria, essas almas saudosas ficam felizes, porque tudo passa, até mesmo os instantes de infortúnios vividos na Terra. Nas moradas do Eterno, Bento Maurício e Letícia são criaturas amadas e respeitadas, porque já viveram em diversos mundos, sempre levando o amor e a alegria aos viventes.

NÃO VOU ADORMECER SEM DEGUSTAR OS MEUS SONHOS

Ninguém prende um pensamento. Ninguém aprisiona uma alma ou um coração. O amor é livre e o gostar caminha junto com a liberdade. O desejo ...