terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

FOLHA MORTA

Têm coisa que nasce bonita/Parece deslumbrante/Mas não dá fruto/É estéril/Como vem/Vai... / Retorna de onde veio/Porque precisa adormecer/Silenciar nos braços da noite/Necessita ficar enterrada/Sem germinar/Eternamente hibernada na gelada madrugada/Porque teve um tempo/Uma chance/Que não foi aproveitada/Belo momento não volta/Desliza com as águas de um rio selvagem/É porta que nunca mais se abre/Foi importante/Para embelezar/A estação das folhas mortas/E formar um espesso tapete colorido/Onde a saudade vai desfilar/Sem despertar/Nenhuma vontade de renascer/Vai esperar o apodrecimento/De um sentimento/Que nasceu/Para morrer/No colo das sete ondas/Quando a estação primaveril/Surgir/Talvez renasça/Como uma flor/Solitária e triste.

sábado, 24 de fevereiro de 2018

INCONSCIENTES AMANTES

Liguei várias vezes e você não atendeu. Fui à sua casa na esperança de te encontrar. Bati à porta inúmeras vezes, você não apareceu. Bati na janela e nenhum sinal de você. Fiquei plantado o dia inteiro na frente da tua casa. Quando a noite se aproximou e a lua cheia despontava por detrás da montanha, ouvi alguém se aproximando. Ao chegar perto da pessoa que adentrava o portão da casa, perguntei: - Boa noite, senhora! - Boa noite, moço! O que o senhor quer? – Perguntou a mulher, com o olhar nada amigável. - A Senhora conhece a Marlene? E sabe onde ela está? – Perguntei. A mulher, se era estranha, ficou mais ainda. Olhou bem nos meus olhos e disse: - Ela morou sim, mas há muito tempo. – Respondeu, asperamente. - Como? Se ainda ontem, deixei-a aqui nesse mesmo portão. Marcamos um encontro para hoje de manhã. Iríamos passear na terra dos avós dela. – Acrescentei, de forma enfática, e já com raiva da dita mulher. - Impossível! A Marlene faz tempo que não mora mais aqui. – Revelou, com ar de maldade. - A Senhora está enganada. Estou namorando a Marlene há dois anos. Todo final de semana saímos juntos. Acho que a Senhora não foi com a minha cara, por isso está mentindo para mim. Aliás, ela disse que a mãe dela era uma pessoa muito esquisita e ruim, que não gostava dos namorados dela. – Ilustrei para aquela mulher carrancuda. - Olha, eu não vou entrar em detalhes sobre as diferenças que eu tinha com a minha filha, que deve estar nos quintos dos infernos. Mas, se você não está acreditando, vamos fazer uma caminhada, onde vou mostrar o verdadeiro endereço da tua namoradinha. – Afirmou, com uma longa gargalhada. Andamos uns quinhentos metros. Chegamos à frente de um grande portão de ferro, já corroído pelo tempo. Ela abriu, com dificuldade, o portão. Pegou na minha mão e levou-me a uma sepultura, dizendo: - Aqui mora a Marlene. Olhe a foto na sepultura. É essa que você está namorando há dois anos? – Assinalou, com uma gargalhada. - Quer saber como ela morreu? – Perguntou. - A essas alturas já nem sei o que vou querer. Mas conteme a história. – Disse eu, completamente confuso. - Marlene foi uma filha que transformou a minha vida. Ela era bonita e gastava muito dinheiro nas noitadas. O meu marido morreu num acidente aéreo e deixou uma herança que daria para vivermos bem o resto de nossas vidas, mas ela só queria gastar. Vivia cheia de homens por todos os lados e eles só queriam tomar o dinheiro dela. Certo final de semana, ela deu uma grande festa para comemorar o seu aniversário. Nessa época, ela namorava o Fábio, rapaz bom e trabalhador. Era madrugada quando a tragédia aconteceu. O Fábio a flagrou transando, dentro do carro, com um amigo dele. Transtornado, disparou vários tiros nos dois. Depois desse dia, a minha vida não foi mais a mesma. Hoje nem sei onde estou. – Revelou a dita Senhora, agora demonstrando tristeza. Não sabia o que fazer. A noite estava bem clara, com os raios da lua iluminando o local. Eu não acreditava no que estava acontecendo. Por incrível que pareça, de uma hora para outra, aquela mulher desapareceu. Olhei para todos os lados e não vi mais ninguém. Acabei sentando numa sepultura vizinha a da Marlene. Fiquei ali um longo tempo. Ao virar-me para o lado, vi uma foto numa outra sepultura. E para a minha surpresa, a foto era da dita mulher, a mãe da Marlene, que parecia estar zombando de mim. Saí correndo como um louco. Fui direto à casa do meu amigo, Alexandre. Ao me aproximar do portão, percebi que ele estava sentado na varanda. Quando me viu agitado e nervoso, perguntou: - Por que está tão nervoso e assustado, amigo? – Perguntou, com ar de serenidade. - Você acredita que estou namorando uma morta? E, ainda por cima, acabei de conversar com a mãe dela. Elas estão enterradas uma ao lado da outra. Acho que estou maluco e vendo fantasmas. – Revelei para o meu amigo, Alexandre, que em vez de me acalmar, me deixou mais confuso ainda. - Amigo, Pedro, preste atenção! Está na hora de você admitir que já faz parte do mundo dos mortos há muito tempo. Você e a Marlene foram mortos pelo Fábio, quando estavam em cenas impróprias. A mãe da Marlene, Cleonice, ao ver a cena do crime, se enforcou e até hoje perambula pelos restos que sobraram da morada. Você e a Marlene não conseguem se desligar das questões materiais e acham que estão vivos. Agora, entre, e vamos tomar um chá, que eu lhe deixarei inteirado dos assuntos que são do seu interesse. Com as declarações do meu amigo, me senti sem chão. Muitas cenas começaram a vir na minha mente, que não tinha percebido. Como, por exemplo, a facilidade em se deslocar de um lugar para outro. No outro dia, já mais calmo, fui levado para uma região distante dali. Todo dia recebia orientação sobre as engrenagens que jamais iria admitir quando vivia na terra. Não encontrei mais a Marlene e nem o Fábio, que tinha sido assassinado por um membro da família dela, logo em seguida do crime. Já se passaram cem anos e ainda estou no mundo dos mortos. Agora, mais tranquilo, e trabalhando em missões de desenlace de espíritos em acidentes de carro. Deixei de ser namorado de uma morta, porque também sou um morto.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

OBSERVADOR DA REALIDADE

Vou entrar na profundidade do tempo/Mergulhar na obscuridade/Se distanciar da superfície/Adentrar na escuridão/Conhecer as raízes dos obstáculos/Navegar no limbo/Voar acima das nuvens escuras/Viver introspectivamente/Ser um andarilho/Sem olhar para o passado/Não pensar no futuro/Fazer do presente/Um presente de ocasião/Andar de mãos dadas com os últimos dias da vida/Adormecer ouvindo musica clássica/Ao acordar/Ouvir musica caipira/Durante o dia/Vou sentar na arquibancada/Observar os tristes acontecimentos/Que estão aniquilando a raça humana.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

ECOS EM NOITES DE LUA CHEIA

Nas noites de lua cheia/Saio campeando/Campo a fora/A procura de você/Com o violão na mão/Saio tocando por todos os cantos/Cantando bem alto/Digo que estou sentindo muito a tua falta/E dos teus carinhos... /Na companhia das estrelas/Caminho por todas as estradas/A procura da flor do meu jardim/Desde a tua partida/O meu jardim/Ficou menos bonito/Toda vez que olho para ele/Percebo que você fez a diferença nas flores dos meus passos/E na minha vida/Nas noites de lua cheia/Com o coração triste/Percorro todas as estâncias/Peço pelo teu nome/Somente o silêncio responde/A musicalidade e o suspiro da minha alma/Ainda expressa a profunda saudade que tenho/Daqueles momentos/Que ficaram perdidos nos anos/Que não voltam mais/Quando à lua cheia surge/Por de trás da montanha/Olho pela janela/Ainda ouço os teus passos/Subindo as escadas/Que levam a minha morada/São ecos do tempo/Que teimam em permanecer na nevoa da minha mente/Que jamais desmente o profundo sentimento/Que tenho por ti/Somente o som de uma viola/Consola a melancolia de um amor/Que desapareceu no tempo.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

PORTA TRANCADA

Abre porta/Quero entrar/Sentar para conversar/Falar sobre muitas coisas/Dizer que foi importante/Ter saído da terra natal/Abre porta/Não se feche/Deixe-me entrar/Vamos trocar algumas palavras/Quero ser sincero/Vou contar/Alguns segredos/Que precisam se revelados/Se você proibir a minha entrada/Vou morrer/Levar para sempre/Sentimentos que machucam o meu peito/Se você não me deixar entrar/Vou pular a janela/Porque a janela sempre foi/A minha porta de salvação/Foi pulando janelas pelo mundo/Que muitas vezes/Quebrei a cara/Cara sofrida/Vivida/Destemida/Alguns momentos/Fragilizada/Mas nunca acovardada/Apanhando da vida/Levei imensas surras/Cicatrizes que ainda sangram/Andando ainda estou/Por terrenos repletos de pedras/Ainda estou trocando os passos/Porta não precisa mais se abrir/A janela já se abriu/Falei tudo/Agora faço parte da história.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

NAVEGADORES DE ÁGUAS BRAVIAS

Nós somos dois barcos/navegando pelo mundo inteiro/por águas bravias/com destinos distintos/contra fortes ventos/desatinados/às vezes nadamos/à procura de um porto/que nunca aparece/somos teimosos marinheiros/que em vez de navegarmos juntos/procuramos outros atracadouros/por isso enfrentamos tempos áridos/como árida é a nossa vida/mesmo navegando com o pensamento voltado/para os melhores momentos/que vivemos/nunca esqueçamos/que temos alma/que não é pequena/navegando aqui/E acolá/Vai chegar um dia/Em que vamos cansar/E assim descansar no balanço/Do nosso amor/Venha marinheira/Venha navegar no meu oceano/Que criei para você/Chegue nadando/Que vou te dando um longo beijo/Deixe de lado/Os barcos fortuitos/Porque o barco mais bonito/Sou eu/O navegador do teu coração.....

NÃO VOU ADORMECER SEM DEGUSTAR OS MEUS SONHOS

Ninguém prende um pensamento. Ninguém aprisiona uma alma ou um coração. O amor é livre e o gostar caminha junto com a liberdade. O desejo ...