quarta-feira, 14 de setembro de 2016
TOCADOR DE GAITA DE BOCA
Sento embaixo de uma árvore/
Para tocar a minha gaita de boca/
Que acalenta o coração.../
Cada lembrança.../
Uma música.../
Que ecoa.../
Na imensidão da costa/
Do Rio Uruguai.../
Na época da escola/
Vinha brincar na sombra/
Da grande árvore/
Para me proteger do sol.../
Naquela época/
Não sabia/
Tocar gaita.../
Foi no colégio dos/
Irmãos Maristas/
Que tive a alegria/
De aprender a usar/
Esse instrumento/
Um dos mais antigos do mundo.../
Como bom aluno/
Estudei a arte da música/
Os clássicos musicais/
E a vida dos artistas.../
A árvore ainda existe.../
Até mesmo os/
Velhos trilhos do trem/
Que lutam para sobreviver/
Ao ataque do preto asfalto.../
Uma vez por mês/
A Maria Fumaça fazia/
Percurso de uma cidade/
À outra.../
Para matar a saudade dos/
Idosos/
E a curiosidade dos moços.../
E nesse dia/
Profundamente mágico/
É que eu ia até a árvore.../
Sentava sobre uma pedra/
E lá ficava.../
Tocando a velha gaita de boca/
As músicas mais lindas/
Eram tocadas.../
Tendo como pano de fundo/
O apito da Maria Fumaça.../
Em datas especiais/
Vestia o uniforme de trabalhador do trem/
Aquele que recepcionava os viajantes.../
Com imensa alegria/
Ia dizendo.../
Sejam bem-vindos! Boa Viagem!/
Depois.../
Quando o trem partia/
Para mais uma viagem/
Circundando o caudaloso Rio Uruguai/
Ficava no fim de um vagão.../
De pé.../
Pegava a gaita de boca.../
Ia tocando as belas músicas/
Desde os clássicos sertanejos da época/
Aos remotos clássicos de nossos avós.../
Para os passageiros/
Felizes com o saudoso passeio/
Enquanto isso.../
A Maria Fumaça/
Deslizava suavemente/
Nos trilhos da Ferrovia São Paulo Rio Grande.../
Vivi muitos anos da minha vida/
Trabalhando nesse trajeto.../
Na ocasião.../
A ferrovia ligava/
São Paulo a Buenos Aires.../
Período em que muitos presidentes/
Dos países do sul do continente/
Viajavam com suas comitivas/
Em viagens de negócios.../
O tempo passou.../
Lentamente.../
Tudo mudou.../
Marcou a minha alma.../
Até mesmo o meu endereço mudou.../
Hoje vivo no reino das almas.../
Agora toco gaita de boca/
Para as almas/
Que voltam para a Terra/
Numa nova viagem.../
Tenho certeza/
Que quando elas/
Estiverem viajando/
E virem uma Maria fumaça/
Certamente vão lembrar de mim.../
O tocador de gaita de boca/
Da Ferrovia São Paulo-Rio Grande.../
E a você.../
Poeta das almas.../
Quando voltares para cá/
Vou te recepcionar/
Tocando a minha/
Gaita de boca.../
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