domingo, 6 de novembro de 2016
VIVÊNCIA DE MATURO
Na solidão do mato.../
Onde o único barulho/
É o cantar dos pássaros.../
E o corococó das galinhas.../
O matuto vive.../
Distante do progresso.../
Cria o seu próprio mundo.../
Conhece o tempo de plantar.../
Percebe quando a chuva/
Está para chegar.../
E a época da geada../
Foi sempre assim.../
Nunca quis morar na cidade grande.../
Herdou as terras/
Que cuida com carinho.../
Nesse tempo mágico.../
Ele vive.../
Como artista da terra.../
Remexendo aqui e acolá.../
Criando os mais variados/
Desenhos na roça.../
Onde vai plantar a semente do milho.../
Do feijão.../
Para o seu sustento.../
O matuto é a última figura.../
De um tempo.../
Que não volta mais.../
Até mesmo a música caipira/
Símbolo da inspiração cabocla.../
Está desaparecendo.../
Com o vento que sopra/
Lá pelo cantão da serra.../
Época dos nossos avós.../
Onde o respeito era sagrado.../
Tempo em que os filhos.../
Respeitavam os pais.../
Só lembranças.../
Nada mais restou.../
Dos dias maravilhosos.../
Onde o caboclo era respeitado.../
Trabalhava para levar alimentação/
Aos habitantes da cidade.../
Ele sabia fazer quirera.../
Moendo o milho no pilão.../
Cozinhava o feijão no fogão a lenha.../
No final de semana.../
Ia à vila de carro de boi/
Trocar a colheita do milho/
Por corda... Fumo... Banha.../
No final do ano.../
Matava porco.../
Fazia salame.../
Reunindo a família/
Para comemorar o Ano Novo.../
Todo final do dia.../
Juntava os ovos.../
Um pouco era vendido na vila.../
O resto ficava para o alimento da família.../
Na roça.../
O caboclo sabia como lidar com a formiga.../
Até parece que conversava com elas.../
Era um mundo sem o veneno do progresso.../
No dia de São João.../
Pegava o cavalo mais veloz.../
Ia à raia.../
Disputar corrida.../
Entre um gole e outro de pinga.../
O caboclo tocava a vida.../
Sem falar de ninguém.../
Tinha um coração puro.../
Simples e sem malícia.../
Contador de histórias.../
Sabia reunir numa roda de amigos.../
Contar os misteriosos causos do saci-pererê/
No mês de junho.../
Levantava uma grande fogueira/
Entre cantos e quentão.../
O caboclo alegrava o coração/
Da sua gente.../
Esse tempo faz parte da história.../
Ninguém mais quer viver no interior.../
As máquinas estão fazendo tudo.../
Mas não fazem a magia.../
O encanto daquele tempo.../
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