quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A Luta dos Valentes

Mão calejada/ Olhar triste e perdido no tempo/ Corpo magro/ Queimado pelo sol/ Muitos anos vividos Experiência acumulada/ De uma vida vivida/ Sem tempo para descansar/ Estômago vazio/ Mas com força/ Para prosseguir/ Sem motivos para desistir/ De uma luta que no final/ Sabe que vai vencer/ Homem forte/ Que vive no Norte/ Sul, Leste e Oeste/ De um grande país/ Trabalha de dia para comer à noite/ Quando a madrugada dá os últimos suspiros/ De despedida/ Levanta com ar de valentia/ Alma destemida/ Em paz e serenada/ Mas carcomida/ Por centenas de batalhas enfrentadas/ Em penosas experiências/ Porque os fortes são calmos e tranquilos/ Ao vê-lo trabalhar na terra/ Debaixo de sol forte/ Remexendo com a terra/ O coração dói/ Dá vontade de trabalhar por ele/ Mas não dá para fazer nada/ Temos que deixar o gigante trabalhar/ Ele não se acovarda/ Não tem medo de tempo feio/ Não nasceu em dia de trovão/ Ele sabe que vai morrer de pé/ Como os grandes gigantes que o mundo conheceu/ Homem do campo/ Explorado e teimoso/ Como guanxuma das encostas dos rios/ Não se deixa dominar/ Com lágrimas correndo pela face de/ Um rosto marcado pelo destino/ Ele vai vivendo/ Vendo o mundo passar e mudar/ Vendo os filhos desaparecerem/ Para viverem na cidade grande/ Mas ele continua/ A sua lida/ Sua maravilhosa vida/ Abençoada pelo Grande do Universo/ Se um dia conversar com um desses/ Grandes homens/ Não se esqueça de dizer/ Que os poetas/ Escrevem e cantam em verso e prosa/ Sua caminhada pela Terra/ Fazem de sua vida/ Uma esplêndida cena/ Que transcende os marcos do mundo/ Homem caboclo/ Homem do campo/ Seres caminhantes/ Com determinação abundante/ Não se deixam aprisionar/ Pelo medo/ São corajosos/ Valentes com arma nos dentes/ Sangue forte/ Sem contaminação/ Porque fazem da valentia/ O antídoto para combater os males/ De uma humanidade cada vez/ Mais fraca e pobre de espírito/

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O Silêncio da Tempestade

Havia duas semanas que nada se movimentava. Tudo estava quieto, até mesmo o mar tinha se tornado misterioso. Os pescadores, há dias não pegavam nenhum peixe. Como sempre, na vila as coisas não andavam rapidamente, mas dessa vez era inquietante a maneira como a vida se comportava. Algo pairava no ar. O cheiro da escuridão conversava com a sombra nos dias quentes de um forte verão. As noites demoravam passar e as estrelas se escondiam por detrás das altas montanhas que adormeciam ao lado da Vila das Pedras Grandes. A Vila das Pedras Grandes era um lugarejo pequeno, mas muito antigo. Tudo começou no final do século XIX com a chegada dos portugueses. Cinco famílias vieram da Ilha da Madeira com o objetivo de refazer suas vidas, depois de terem sido expulsas pelo Império Português. Os Oliveira e os Silva eram famílias gananciosas e violentas. Não gostavam de ninguém e, por qualquer motivo, a morte sempre acontecia. No início tudo corria bem na Vila, até que um dia atracou um barco com seis pessoas vindas da Europa, mais precisamente da Itália. Eram os Gotardo, que resolveram viver no recanto onde somente os portugueses viviam. De imediato os nativos não se opuseram aos novos moradores, mas com o decorrer dos dias as diferenças começaram a surgir. Os italianos tinham mais dinheiro e sabiam negociar. Aos poucos, começaram adquirir as terras dos Oliveira, que ao venderem acabaram indo para o Rio de Janeiro, capital da República. A família dos Silva, na pessoa do patriarca José, resolveu bater de frente com os italianos. Receberam propostas tentadoras para venderem suas terras, mas negaram todas. Já o velho Gotardo, homem alto, forte, e de pouca conversa, resolveu ter um diálogo franco com José. Chegando ao portão da morada dos portugueses, disse: - Eu vim aqui conversar. Posso entrar? – Perguntou o italiano. - Pode desde que não faça nenhuma proposta indecorosa. – Lembrou José com ar de poucos amigos. - Mesmo assim vou fazer uma última proposta. Ofereço o dobro do valor oferecido na semana passada. - Acrescentou. - Eu disse que as minhas terras não estão à venda. Aliás, nunca esteve à venda. Pode esquecer. – Respondeu o português. - Mas eu quero comprar de qualquer jeito. Pago qualquer preço. - Reforçou Gotardo. - Por que você quer comprar as minhas terras? – Perguntou o português. - Porque eu quero trazer para este lugar vinte famílias que vivem ao norte da Itália. Lá essas famílias estão passando imensas dificuldades. E aqui tudo é novo, a terra é boa para plantar. – Explicou o italiano. - Eu não tenho nada com isso. Cada um vive de acordo com os seus problemas. – Acrescentou José já cansado da conversa. - Escute, velho teimoso! Eu disse no início da conversa que ficaria com as tuas terras de qualquer jeito. – Afirmou Gotardo com tom de ameaça. - Vamos ver então! Eu não tenho medo de nenhum homem, muito menos de um italiano metido a macho. – Desafiou o português que a essas alturas já estava com um facão na mão. Depois dessa áspera conversa entre os patriarcas, a Vila das Pedras Grandes ficou à espera do próximo lance, que levou quase um ano. Durante esse tempo Gotardo esperou o momento adequado para fazer cumprir sua promessa. No início do inverno de 1923, quando todos iam dormir cedo, o italiano e mais de vinte comparsas bem armados dirigiram-se para as terras dos portugueses. Era lua cheia e o frio campeava, fazendo com que ninguém se atrevesse a sair. Tudo estava planejado. Gotardo tinha mandado vir do Rio de Janeiro trinta galões de querosene; o necessário para queimar todas as casas da família Silva e seus moradores. A família Silva era composta por mais de cem pessoas, entre crianças, idosos e demais adultos. Ainda era madrugada quando do alto da pedra grande, Gotardo sorria ao ver as casas dos Silva virar cinzas. Um forte cheiro de carne humana queimada tomava conta da região. A cena era dantesca. No início da manhã, Gotardo mandou matar vinte cabeças de gado para comemorar a vitória sobre a família Silva. Agora era o todo poderoso da Vila das Pedras Grandes. Ninguém ousaria desafiar o seu poder. O tempo caminhou e dezenas de invernos se passaram na vida dos habitantes da Vila. Estamos no ano de 1976 e a chacina dos Silva apagou-se por completo. Até porque os Gotardo nunca permitiram que ninguém mais viesse viver na Vila. - Eu não estou gostando desse silêncio. – Disse Gotardo Neto, sentado na varanda da casa. - Muito menos eu. – Respondeu Maria Gotardo, esposa e companheira de muitos anos. - Alguma coisa de ruim vai acontecer. Estou sentindo no ar. Acrescentou Juliana, filha mais velha do casal. - Toda noite eu sonho com as histórias do Vô Gotardo sobre os Silva. No sonho, o velho Silva diz que nós vamos morrer afogados e que a Vila das Pedras Grandes vai desaparecer para sempre. – Assinalou Gotardo Neto, com semblante preocupado. Depois dessa conversa os Gotardo se recolheram, pois o frio tinha chegado. O mar, testemunha dos mistérios dos homens, talvez cúmplice, ou justiceiro, recuou uns duzentos metros para dentro. Demorou meia hora e se jogou violentamente contra a Vila das Pedras Grandes. No amanhecer, nada restou da Vila, nem mesmo os animais, tudo desapareceu por completo. O silêncio continuou para sempre e ninguém mais habitou a vila das Pedras Grandes. Hoje, ao passar pela vila, as pessoas ainda ouvem gritos de socorro, choros de crianças, e gemidos de idosos, uns, pelo incêndio de suas casas e outros, pelo afogamento. Todas vitimas das chacinas dos homens sem alma e sem coração.

NÃO VOU ADORMECER SEM DEGUSTAR OS MEUS SONHOS

Ninguém prende um pensamento. Ninguém aprisiona uma alma ou um coração. O amor é livre e o gostar caminha junto com a liberdade. O desejo ...