segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

A Saudade é Engraçada

Aqui estou/ Sentado na esquina da vida/ Olhando para todos os lados/ Viajo com os meus olhos/ Procuro imagens que passam velozmente/ A minha mente/ Luta para fixar/ Mas nada acontece/ O tempo não passa/ A eternidade toma conta de mim/ O meu coração palpita/ Estou perdido/ Ao meu lado senta a saudade/ E aos poucos ouço as histórias/ Que marcaram o destino/ A saudade é engraçada/ Abraça a gente/ Logo faz a gente/ Sentir dor/ Uma dor gostosa/ De algo bom que ficou distante/ Ela é invisível/ Vive no lado escuro da mente/ Caminha como uma sombra/ Um fantasma sem nome/ Mas sempre avisa que somos/ Prisioneiros do passado/ Um passado que gostaríamos de/ Esquecer para sempre/ Mas não é isso que acontece/ Porque floresce nos momentos/ Que estamos debilitados emocionalmente/ A saudade conversa muito comigo/ Ouço silencioso/ Sou um ouvinte educado/ Que ao seu lado/ Apenas concordo/ Não consigo discordar/ Porque fui autor das/ Histórias relembradas por ela

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Niemeyer Foi Para o Céu

Um grande revolucionário. Um poeta das formas e curvas. Ele disse uma vez que "a vida é pequena e dura. É preciso não desistir dos sonhos e dos ideais pelas lutas políticas e sociais". Niemeyer morreu aos 104 anos, deixando uma obra inestimável no Brasil e no mundo. Comunista convicto, Niemeyer foi perseguido pela Ditadura Militar. Viveu na França onde recebeu inúmeras homenagens. Foi radical até o fim em defesa de seus ideais. Obras e prêmios marcaram a sua vida. Pessoa simples, honesta, idealista, poeta, enfim, grande gênio da arquitetura. A boemia e a poesia, faziam parte da sua vida. Amigo dos boêmios e intelectuais, Niemeyer deixa um belo legado que dificilmente será substituído.

sábado, 17 de novembro de 2012

EXTREMA SENSUALIDADE DA DAMA

Agora vou escrever sobre você... Mulher que muda de acordo... Com o momento... Durante o dia você é uma mulher... Igual as outras que caminham pelas... Estradas da vida... Durante a noite... Só eu sei quem é você... Só nós dois sabemos de tudo... Dois perdidos... Envolvidos pelo desejo fatal... Você é uma louca pelas fortes emoções... Que vai da sensualidade ao sexo... Totalmente desnorteado... Não se preocupe... Eu não vou citar o teu nome... Até porque o verdadeiro amante não fala... Se esconde nos segredos dos encontros... Você é uma deusa na cama... Faz tudo que um homem mais deseja... Aquilo que os amantes mais almejam... O sexo total... Sem tempo para terminar... Porque faz do fim O início de tudo... Ontem à noite... Quando a lua cheia dominava o mundo... Quando o luar penetrava nos recantos da escuridão... Você e Eu estávamos fazendo a guerra... Da sensualidade e do sexo... Olhando para o teu corpo... Nu e suado... Nem parece ser a dama sóbria e serena... Que vai à igreja todos os domingos... Entre beijos molhados... Gemidos sem fim... Gritos pedindo muito mais... Você puta dos segredos... Prostituta nas horas vagas... Que nada cobra... Apenas quer sexo e mais sexo... Eu sei que teu marido... É daqueles que não gostam de sexo Talvez não te ame... Fazendo com que você abrace... O desejo na sua mais profunda emoção... Porque você precisa ser amada... De todas as longitudes... E latitudes... Mesmo que para isso... Necessite trair aquele que... A sociedade chama de esposo... No fundo dos teus olhos... Lindos e pretos... Brilha um mundo que somente... Eu conheço... Um mundo que você abriu a porta... Num momento de desespero... De uma mulher carente... Depois daquele dia... Você mudou totalmente... Deixou de ser a dama discreta e séria... Para ser uma louca... Que procura e necessita... Ser internada toda noite... Na clínica da sensualidade... Eu sou o teu médico... O teu psicólogo... Que acalma os teus anseios sexuais... Ao olhar você caminhar pela rua... Não se percebe o que tem dentro do teu corpo... Uma imensa sede... Uma profunda fome de amor e paixão... Com beijos ardentes... Soluçando e implorando... Para ser acariciada e amada... Você mulher dos amantes... Vai formando uma linda poesia... Onde as palavras se misturam... Com toques embriagantes...

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Morena

Venha me ver/ Linda morena/ Para dançarmos a noite toda/ Não me deixe descansado/ Perdido na saudade/ Quero ficar suado e cansado/ Grudado nos teus braços/ Sentir o teu corpo/ Totalmente arrepiado/ Pedindo longos beijos molhados.../ Venha louca Morena...!/ Não deixe para depois/ Vamos namorar/ Linda morena.../ Eu sei que você está querendo/ Sinto a tua vondade/ Trazida pelo vento/ Mas tem medo da perdição/ Que uma noite pode proporcionar/ A dois amantes perdidos nas armadilhas/ Da sensualidade/ Morena dos meus sonhos/ Olhos pretos/ Cabelos longos/ Boca sensual/ Corpo de princesa/ Totalmente convidativo/ Para uma imperdível/ Noite de amor.../ Estou aqui!/ Bela morena/ No lugar de sempre/ Local dos nossos encontros/ Endereço dos amantes/ Ponto das longas loucuras/ Onde você se entregou/ A este poeta da noite/ Em algum momento do passado.../

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Pensamentos Para um Novo Tempo

Não sei qual o momento/ Que estou vivendo/ Às vezes meus pensamentos são bloqueados/ Por mentes equivocadas/ Doentes e tristes/ Que não estão satisfeitas com o meu/ Novo rumo.../ A todo instante entram/ No meu pensamento/ Semeando estranhas sensações/ Que vão de doenças a loucuras desenfreadas/ Jogam ideias que não correspondem/ Com a minha realidade/ Tenho pena dessas mentes estranhas/ Estão perdendo o tempo/ Sei o caminho do universo/ Vim de lá.../ Fui criado nas entranhas do tempo/ Percorri milhares de caminhos/ Muitas vezes vivi solitário nas montanhas/ Convivendo com as ovelhas/ Dormindo com a chegada da noite/ Acordando com o nascer do sol/ Participei de dezenas de guerras/ Levando falsa verdade/ Oprimindo povos/ Venci quase todas as lutas/ Que participei/ Perdendo a principal guerra dos seres humanos/ A guerra moral.../ Sou um velho guerreiro/ Em final de carreira/ Talvez seja um exilado de outros mundos/ Qual deles eu não sei/ A única coisa que sei/ É que irei/ Avançar na direção do/ Grande paraiso celestial/ Procuro deixar o passado/ No arquivo da história/ Não quero levar mágoa, rancor e vingança/ Viajarei sozinho/ À procura de outros mundos/ Onde possa sorrir das/ Adversidades do passado.../ Depois de tudo/ E de todas as lutas que enfrentei/ Aprendi que existe momento para tudo/ E tudo passa/ Inclusive a dor/ Neste mundo que estamos vivendo/ Nada é eterno/ Tudo é passageiro/ Porque somos viajantes/ Bandeirantes à procura de novas terras/ Aqui onde moro/ Penso que o tempo está a meu favor/ Converso com guerreiros de outros tempos/ Aprendo novas lições/ Observo os erros cometidos/ São mostrados os meus defeitos/ Os meus vícios.../ Mostram um novo caminho/ Tranquilo e sereno/ Com humildade no coração/ Parto para nova jornada.../ Cuido do meu instrumento corporal/ Que recebi do Arquiteto do Universo/ Procuro ficar distante das anomalias da doença/ Como caminhante visionário/ Não olho para do passado/ Vou em direção ao futuro/ Como filho e aluno da criação/ Faço a lição dos aprendizes/ Agradecendo as energias recebidas/ Como aprendiz da imensa engrenagem/ Ao nascer de um novo dia/ Baixo a cabeça e sigo o caminho traçado/ Pelo visionário celestial.../ Assim vou levando a vida/ Participando da construção de um novo projeto/ Sempre pensando no dia de amanhã/ Com a alma serena/ Deixo de ouvir as lamentações/ Das tristes mentes que ainda não/ Aprenderam que o importante é/ Deixar de lado tudo que deu errado/ Em nossas existências/ E seguir em frente/ Com os olhos voltados para um/ Novo tempo.../

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Corpos Exaustos

A cama ainda está desarrumada/ Local onde você foi amada/ O teu perfume também/ Permanece na cama/ Espalhado pelo quarto/ O suor do prazer continua molhado/ Do lado esquerdo da cama/ A tua calcinha está jogada/ Do lado direito o travesseiro/ Tem um fio do teu cabelo/ Mostrando a selvageria do nosso prazer.../ O criado mudo continua repetindo/ Palavras censuráveis.../ Ainda não abri a janela/ Muito menos a porta do quarto/ Quero morrer sentindo o cheiro/ Do nosso doido amor/ O lençol continua lá/ Jogado nos pés da cama/ Porque o calor era intenso.../ Mas gostosamente suportável/ Para dois amantes/ Em total sintonia com/ A putaria.../ A nossa música não parava de tocar/ Só parou no instante/ Que você declarou que/ Um dia morreria nos meus braços/ A cena era muito louca/ Muito mais louco/ Eram os protagonistas daquela cena amorosa/ Onde o fim passou a ser o prazer/ E o prazer o fim de tudo/ Porque depois de tudo/ Não restaria mais nada/ Somente o aroma de dois amantes/ Que o vento da noite levou embora/ Junto com a desavergonhada madrugada.../ O meu corpo continua molhado/ O teu desarrumado.../ Os nossos corpos foram amados/ As nossas bocas cansadas dos beijos quentes/ As nossas línguas ficaram doloridas.../ Cada membro dos nossos corpos/ Ficou exausto.../ Cenas de um grande amor/ Cenas de um prazer fatal/ Imagens que serão depositadas/ Na história do nosso grande amor.../

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A Solidão do Inverno

Quando o inverno chegar Vou estar esperando por você Estarei quentinho Enrolado nas cobertas Tomando um vinho seco Ficarei atento ao som Dos teus passos Em direção da minha casa De vez em quando Olharei da varanda Para ver se você está chegando... Quando o inverno chegar E o frio tomar conta Das noites escuras Irei aquecer o nosso amor... Vou preparar o meu coração Para que você seja aquecida Em todos os sentidos... Eu sei que você Vive por ai... Procurando os meus rastros... Também já sei Que as vezes encontra alguém Para tentar esquecer o nosso louco amor Mas não consegue... Fiquei sabendo que você Já chorou por mim inumeras vezes... Ficou triste e chorona Porque soube Que saio nas madrugadas a procura De outro amor... Enquanto o nosso é levado pelo vento...

domingo, 2 de setembro de 2012

Estação das Folhas Mortas - Anna Karenina

Quando chegar a estação das folhas mortas estarei lembrando de ti. MEU ETERNO AMOR. levantarei meus olhos ao alto das montanhas eternas acharei consolo. acharei chão onde eu possa pisar sem medo dos animais rastejantes que podem me ferir vestirei minha túnica ,esvoaçante de alegrias a saudade já não me faz refém comerei dos frutos ,que plantei pleitearei minha verdade,perante o segredo da vida... enxugarei as lágrimas ,que por ventura me afloram nos olhos seguirei minha estrada. de amargura. mas que agora ,já não mais é... estarei nos braços das arvores centenárias o meu carvalho jogará seus galhos para que eu possa me apoiar cantarei a melodia branca,das folhas amareladas pelo sol sentirei em minha alma um eterno arrebol e levarei meus passos em direção as campinas

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Quando o Sol Nascer

Por mais que eu queira ficar longe de você, o meu coração teima em deixar a emoção tomar conta. Em todos os momentos procuro pensar que estou viajando para um lugar bem distante, mostrar que os meus sentimentos já não são os mesmos, mudaram totalmente. Lutamos para encontrar uma brecha nas nossas vidas, mas não foi possível. A boemia venceu. Não posso ficar longe dos bares e você sempre soube disso. Na primeira vez que saímos, falei sobre o meu desejo de ser amante das madrugadas. E você, dos ideais revolucionários que permeia a consciência. Também sempre concordei com as suas loucuras humanitárias. Nunca neguei esse lado que tanto amo. Está no sangue a imensa vontade de morrer ao lado da boemia. E você, morrer numa revolução defendendo os oprimidos. Irei apanhar da solidão e serei prisioneiro da saudade. Tenho certeza que vou sentir a tua falta, principalmente nos sábados à noite, ou nas madrugadas de domingo. É a segunda carta que tento escrever a ela. Talvez nem precise, o silêncio irá dizer o que estou pensando. Os anos estão passando, e amanhã mais um dia fará parte do tempo que estou longe dela. Tenho muita vontade de bater à porta da sua casa e dizer que erramos ao nos separar. Deveríamos esperar mais e dar uma nova chance ao destino. Penso e repenso sobre o que aconteceu. Entro nos bares onde batíamos o ponto nas noites frias de inverno, mas só encontro névoas do passado. Uma leve poeira ainda separa as mesas do bar, demonstrando que o local ainda é frequentado por boêmios. Enquanto viajo pelo caminho do passado, o meu celular toca: - Boa noite! Era uma voz feminina e conhecida. Procurei na memória de longa duração e a resposta veio imediatamente. - Boa noite. Quanto tempo que não ouço o teu “boa noite!” - Eu sei. Eu também jamais pensei que um dia iria ouvir esse som que tanto me fez feliz em momentos de grande leveza amorosa. - Maria, minha menina das longas noites, agora mesmo estava tentando escrever uma carta para você. Não estava conseguindo. Já tentei várias vezes. - Pedro, eu mandei três cartas para você, mas o correio as devolveu. O endereço não fechava. - Eu não moro mais no local que você me visitava. A única coisa que não mudou foi o número do meu celular. - Mesmo que você tenha escrito a carta, o meu endereço também mudou. Aliás, a minha vida mudou radicalmente. Você nem imagina o que aconteceu depois do nosso último encontro. - É mesmo? Fale um pouco desses acontecimentos. Gosto de ouvir você. A tua voz vai acalmar a saudade que sinto. - Pedro, escute bem o que vou dizer: você lembra sobre as minhas ideias de esquerda e de lutar em favor dos povos oprimidos? Na medida em que Maria ia conversando, o meu pensamento retrocedeu. Maria, além de ser uma bela mulher, sempre foi muito inteligente e determinada. Falava coisas que não correspondiam com a realidade, era muito idealista. - Eu sempre amei você. Foi é o único homem que o meu coração acelera muito. Como não foi possível vivermos juntos, procurei o meu destino. Inscrevi-me numa organização para libertação dos povos africanos, que luta contra a opressão capitalista. Participei de várias batalhas, libertando vários presos políticos. Em meio a grandes escaramuças, o meu pensamento era sempre em você e nas nossas noites de boemia. Até que um dia fui presa e barbaramente torturada. - Minha Maria, parece que você não gosta da vida! - Gosto sim, meu Pedro. Gosto tanto que sempre procurei lutar para mudar a vida de muita gente. - Você foi libertada, pois está falando comigo... - Não, eu não estou libertada. Fui condenada à morte por fuzilamento. Como todo condenado tem direito a um último pedido, pedi para ligar para você. Estou falando da minha cela, numa cidade do interior de Uganda. Amanhã, ao nascer do sol serei levada a um paredão para ser fuzilada. Estou feliz porque serei morta por ter lutado pela liberdade e igualdade entre os povos. Não posso negar, tenho muita saudade do Brasil, principalmente da minha cidade, lá no interior de Santa Catarina, a pequena Seara. A saudade das pessoas que amo é que está me dando forças para suportar os momentos que se aproximam da minha morte. É claro que vou morrer pensando no homem da minha vida. Também sei que estou sacrificando a questão amorosa por uma boa causa. - Maria, por que você fez isso? Os dez anos que passamos na boemia, bebendo e escrevendo poesias, foram os mais importantes de toda a minha vida. Os teus olhos verdes, a tua pele branca, o teu jeito italiano de falar, não me saem da memória. Tenho saudade dos teus beijos e a forma de ser amada. Chego a sonhar! - Pedro, meu amado Pedro, não posso mais me demorar. O guarda da prisão, bem simpático, está me dizendo que o meu tempo está acabando. - Mas, assim tão rápido? Você me liga, diz tudo isso, e ainda revela que ao nascer de um novo dia será fuzilada... Como sempre, imprevisível, até mesmo na hora da morte. - Até logo, meu amado Pedro. Fique com os nossos melhores momentos. Amanhã, quando o sol nascer, pense em mim, reze pela minha alma, porque não sou uma pessoa má e sim uma mulher apaixonada pela liberdade e felicidade de todos. Em seguida o telefone foi desligado. Não dormi, acompanhei a morte da noite, esperando a chegada dos primeiros raios do sol. Olhei para o alto, senti uma fina brisa, acariciando o meu rosto.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Adeus...

Não quero cantar a canção do adeus/ Apenas quero afirmar que/ Um adeus nunca é um adeus/ Sempre haverá o reencontro/ Em algum momento da longa/ Estrada das nossas existências/ Em algum lugar da eternidade/ Haverá o nosso reencontro.../ Por mais que agora/ Estejamos tristes e magoados/ O destino se encarregará de promover/ O reencontro das almas que/ Se sempre se amaram/ Você não conseguiu entender/ Nunca menti para você/ Os momentos da minha vida/ Foram os responsáveis pela nossa separação/ Fizeram a diferença.../ Preferi sufocar o amor que tenho por você!/ Tivemos oportunidade e/ Não reconstruimos nossas vidas/ Em algum momento da nossa paixão/ Você não me levou a sério.../ Talvez eu também não tenha levado você a sério.../ Não adianta deletar a imagem/ De alguém que foi muito importante/ Na tua vida.../ Não adianta tentar apagar um belo passado/ Não adianta virar a esquina/ O ponto da distancia e da saudade um dia/ Se encontrará.../ Ontem aconteceu o adeus/ Foi um adeus triste/ Mas não definitivo/ Porque definitiva é a morte do corpo/ Lá na frente.../ Quando a poeira baixar/ E as nuvens negras forem embora/ O adeus se transformará num belo olhar/ Do rencontro.../ O coração dói/ Sinto uma dor profunda/ Mas acredito no amanhã/ Acredito numa vida futura/ Acredito que haverá outra oportunidade/ Porque não se mata um sentimento/ Nem mesmo o tempo extermina um grade amor!/ De longas existências.../ Um sentimento de amor não morre/ Ele apenas adormece/ Para um dia acordar mais forte/ Hoje estou jogando para bem longe/ Os momentos ruins que passamos juntos/ Vou guardar somente as embriagantes noites/ Que vivemos intensamente.../ Levo comigo as lembranças/ Jamais jogarei fora as tuas fotos/ As declarações de amor/ Escritas no apageu da nossa paixão/ Farão parte da minha história/ Eu sei que você/ Em vez de mandar um adeus/ Chorou copiosamente.../ Porque sabia que não haveria volta/ Pelo menos nesta vida.../ O teu coração também ficou dolorido/ A tua alma sangrou/ Talvez tenha preferido morrer/ Em vez de dizer adeus.../ Mas não esqueça de uma coisa.../ Você jamais será esquecida!/

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Delírios Assassinos

O grito parecia de alguém em sofrimento ou perto da morte. Acelerei os meus passos, mas, o som do pedido de socorro caminhava perto de mim. O medo tomava conta da minha pessoa, não tinha coragem de olhar para trás. Naquele momento, ninguém iria ouvir o grito do desesperado, muito menos o meu. Já passava das onze horas da noite e a Rua Conselheiro Mafra estava silenciosa, somente o grito ecoava. Ao passar pela esquina da Sete de Setembro, vi uma sombra que me seguia. Era lua cheia, até parecia dia, de tão clara que estava a noite. A claridade me fez corajoso. Parei e olhei para trás com o objetivo de encarar a situação. A sombra desapareceu, mas, o grito continuava martelando na minha cabeça. Encostei-me na parede de um velho prédio, e esperei para ver o que iria acontecer. Um vulto aproximou-se de mim e disse: - Está com medo? Pela voz, parecia ser uma mulher. - Claro que estou. Você não está ouvindo o grito que está vindo do início da rua, lá em cima? – Respondi. Nesse momento escutei uma risada, que demonstrava satisfação pela dor. - É muito pouco pelo que ele me fez sofrer. Vai gemer muito antes de morrer. – argumentou a mulher. Não estava entendendo nada. Simplesmente aquilo tudo para mim estava sendo um grande pesadelo. Ao olhar para o lado, dou de cara com uma moça linda, nem parecia ser a autora do sofrimento e o do grito que atormentava a minha mente. - Eu quero somente a alma dele. – afirmou a moça, sem demonstrar nenhuma piedade. - Não estou entendendo o que você está dizendo. Explique melhor e faça alguma coisa para calar o sofrimento desse infeliz. - Eu explicarei tudo para você. Quanto ao infeliz, deixe que ele sofra mais, assim vai entender o que é dor e impotência. – afirmou a dita justiceira. A moça sentou-se na calçada e me mandou fazer o mesmo. Os olhos e os cabelos eram pretos. Possuía também um porte físico esquisito, magra demais para o meu gosto. Como era noite, não dava para observar melhor os detalhes. - Eu sei quem é você. Todos os sábados, nesta mesma hora, você passa por aqui vindo da casa da tua noiva, que mora na cabeceira da ponte Hercílio Luz. - Você me conhece bem pelo jeito. – disse. - E trabalha numa repartição pública na Rua Tiradentes. Mora na pensão do Mário, que fica na Rua Conselheiro Mafra – acrescentou a mulher misteriosa. Nessas alturas, o grito já estava mais ameno, somente certa agonia tomava conta do infeliz, quem sabe a morte estava perto dele para levá-lo para morar com ela. - O que você fez com ele? Esclareça-me tudo. E, por que você pesquisou sobre a minha vida? Eu não a conheço. Quem é você, afinal? A moça sorriu ao ouvir as minhas indagações. Não estava nem ai para as minhas preocupações. Era dona de si, incrível! Parecia ser “coisa do outro mundo”, que veio para vingar alguma coisa. - Eu vou falar, fique tranquilo, seremos parceiros daqui pra frente. Somente escute e não me questione mais. A minha irmã foi estuprada e morta por esse infeliz. Tinhas apenas 14 anos. Jurei que vinha me vingar dele. Eu também fui morta nessas mesmas condições da minha irmã. As únicas duas filhas do Pedro, meu amado pai, sofreram essas violências e nada aconteceu com os bandidos. Hoje sou uma morta viva que perambula pelo mundo, fazendo justiça com as próprias mãos. Depois de procurar por todos os lugares, ontem à noite encontrei o desgraçado bebendo num bar. Com a ajuda de um amigo seu, empurrei-o para baixo de um carro que passava pela rua e que fugiu sem prestar socorro. Tudo foi feito com a ajuda das sombras. Eu sei que você não acredita, mas, aconteceu. É importante que ninguém acredite, assim posso trabalhar com mais tranquilidade. É mais fácil agir na mente das pessoas quando elas não acreditam no invisível. Enquanto ela falava, eu acreditava que tudo não passava de alucinação da minha cabeça. Não podia ser verdade, eu estar conversando com alma do outro mundo. Só podia ser coisa de louco, ou de alguém, como eu, que tinha bebido algumas doses de pinga. Para ter certeza de que tinha alguma verdade no que ela falou, fui até o infeliz. Chegando lá, não tive dúvida nenhuma. O referido desgraçado tinha sido atropelado e a morte já estava abraçada com ele. Uma coisa me deixou intrigado nessa história: ela não falou do seu assassino, já que ela também foi morta da mesma forma que sua irmã. - Eu não falei para você? – acrescentou a “coisa do outro mundo.” - Não tem sentido tudo isso. – falei com certa raiva por ter presenciado um crime, ou um atropelamento e não ter abortado. - Tudo tem sentido na vida. Você agora é meu também. – revelou. - Como assim? – perguntei. A “coisa do outro mundo” pegou no meu braço e disse: - Você não vai escapar. Eu conheço o teu segredo e posso entregar você para os pais da tua noiva e para a polícia. - Vamos com calma. Você não tem o direito de sair por aí fazendo justiça pelas próprias mãos. Até porque você não existe. É coisa da minha cabeça. Eu tenho problema de bipolaridade, tomo remédios para tratar da minha loucura. – assinalei tentando mostrar que eu era apenas um doente. A “coisa do outro mundo” deu uma gargalhada histérica e afirmou: - Os médicos da Terra acharam um nome bonito para a perseguição das sombras. Eu sou a causa da tua bipolaridade. Que nada rapaz, deixe de ser tolo! Nós somos tão reais que estamos acabando com muita gente que se acha dona do mundo. Você nunca tinha me visto e eu sei o que você fez com aquela menina 15 anos. Nesse momento, o meu coração tremeu. As minhas pernas ficaram bambas. Parei e sentei na calçada. Alguma coisa estava errada comigo. Não podia ser. A Miriam morreu há muito tempo e ninguém descobriu nada. A polícia deu o caso por encerrado, porque não encontrou o corpo. - Não tenha medo, eu vim somente vingar a morte da menina que você violentou e jogou no mar, com uma pedra nos pés. Você é igual a esse desgraçado que acabou de morrer. Não adianta querer posar de bom moço. Vou ajudar a aprofundar as tuas contradições mentais. Você vai viver entre a realidade e a fantasia, falando com os mortos e ao mesmo tempo sendo considerado um louco pelos médicos da Terra. - Você é da polícia, ou uma justiceira dos infernos? – perguntei, tentando dar certo ar de materialidade. - Sou da policia das sombras, ou vingadora das trevas. O nome não importa, e sim o que vou fazer com você. – ameaçou. Eu já estava ficando pálido. A história da menina Miriam é bem diferente. Eu tinha dezessete e ela quinze anos. Éramos dois adolescentes. Ela vivia me perseguindo, mostrando as coxas a toda hora. Queria fazer amor comigo de todo jeito. Tinha pouca idade, mas, já possuía um belo corpo. Acontece que na hora do vamos ver, ela se negou, e foi aí que perdi a cabeça. Fiquei nervoso e chateado. Bati muito nela com força. Em seguida a violentei e joguei o seu corpo no mar. - Mas, você não precisava matá-la. Ela era apenas uma criança. – acrescentou sem que eu tenha pronunciado nenhuma palavra. A “coisa do outro mundo” tinha captado as minhas ideias. Até mesmo sobre os meus pensamentos ela tinha poderes para entrar sem pedir licença. Comecei a ficar receoso e certo medo começou a tomar conta de mim. - Não adianta! Posso ler o que está imaginando e pensando. Agora sou a tua dona. Tens que me obedecer pelo resto da vida. – acrescentou. - Você não é dona de ninguém. Sou livre para fazer o que bem entender. – afirmei, querendo fazer um contra ponto com a ameaçadora criatura. - Vamos ver o que vai acontecer com você. O caminho da tua loucura é longo. – lembrou a “coisa do outro mundo.” Depois de ter falado outras besteiras, e, reafirmando a sua intensão de me manter ao seu lado, foi-se embora, sem dizer um até logo, desaparecendo na sombra da noite. Em seguida apareceram dois policiais e me perguntaram o que tinha acontecido. - E aí rapaz, você viu o que ocorreu? – perguntou um dos policiais. - Acabei de chegar. A vítima ainda respirava, dando alguns gritos de dor. – expliquei. - Recebemos um telefonema anônimo, informando que houve um atropelamento. – disse o policial que parecia ser o mais graduado. - Não sei explicar, como disse para o Senhor, acabei de chegar. – respondi, tentando cair fora da situação. Não demorou dez minutos e surgiu uma caminhonete do Instituto Médico Legal para levar o cadáver. Em seguida fui para casa. Não consegui dormir o restante da noite. Os pensamentos sobre a “coisa do outro mundo” não saíam da minha cabeça. Durante um bom tempo não saí de casa, somente visitava a minha noiva, evitando frequentar os lugares costumeiros, principalmente os bares da Rua Conselheiro Mafra. Mesmo assim, sentia alguém na espreita, como se estivesse observando os meus passos. Mas, alguma coisa não estava indo bem comigo, mesmo tomando adequadamente os remédios que o médico recomendou-me, a minha cabeça girava. Até mesmo a minha noiva já começava a sentir que algo não ia bem conosco. Estava se desinteressando pelo nosso noivado. No verão de 2001, mais precisamente na segunda semana de janeiro, após sair da casa de Maria, caminhando tranquilamente, senti que alguém bateu no meu ombro. Nesse instante, um cheiro forte de mofo sinalizou que era a “coisa do outro mundo” que estava ali mais uma vez. Com uma voz rouca disse: - Achou que eu iria esquecer você? – perguntou. - Achei sim, até porque você é pura fantasia da minha cabeça. – respondi. - É... Você acha que eu não existo? – perguntou. - Acho sim! – afirmei categoricamente. - Quer que eu repita a conversa que você teve com a Maria, agora há pouco? –perguntou. - Que conversa? – indaguei, sem desconfiar de absolutamente nada. - A conversa sobre sexo. A tua noiva não sente mais vontade de transar com você. – disse com ar de conhecedora da minha relação com Maria. Quando ela falou isso, o meu coração bateu mais forte. Realmente a conversa existiu e o assunto era a falta de interesse sexual de Maria para comigo. A minha noiva pediu um tempo, pois não queria continuar mantendo a relação. - O que você quer de mim agora? – perguntei com raiva. - Eu quero que você faça um serviço para mim. – respondeu. - Que trabalho? Não sou teu empregado. - Esqueceu que sou a tua dona? Eu quero que você mate o policial Paulo. - Está louca? Não sou assassino, prefiro morrer a fazer isso! – respondi assustado. - Primeiro você é um assassino e segundo vai fazer o que eu mandar. Você conhece Paulo, é policial civil, trabalha na Delegacia do Estreito. Vocês beberam muitas vezes na noite e são da mesma estirpe. Ele matou uma amiga minha a sangue frio. Ela usava drogas, mas, não traficava. Ele merece morrer e assim será mais uma alma que dominarei. Quero aumentar o meu exército de súditos no inferno. - Não faça isso comigo! Por favor, não peça para eu matar pessoas que nada fizeram contra mim. – implorei. - Não vem com essa conversa de santo, que santo você não é! O teu passado é pior do que o meu. – respondeu com ar de superioridade. Tentei de todas as formas ponderar, para que a “coisa do outro mundo” me deixasse em paz, mas, não teve jeito. Daquele dia em diante, a minha vida tomou outro rumo. Iria caminhar a passos largos para o inferno. Estava atravessando a ponte para a loucura assassina, ou da alucinação infernal. Seguindo ordens de fantasmas, sem dizer não. Talvez a minha consciência pesada estivesse falando mais alto. - Amanhã à noite Paulo vai estar de plantão na Delegacia e estará sozinho. Você vai dizer a ele que quer fazer um Boletim de Ocorrência e num descuido dele, vai esfaqueá-lo pelas costas, sem lhe dar nenhuma chance de defesa. Depois, coloque fogo no corpo. Se você não fizer o que estou mandando conto tudo para os pais da tua noiva e te entrego para a polícia. Outra coisa: se for bonzinho comigo, seguro Maria para você. Faço-a ter vontade de transar. Posso deixá-la igual a uma puta. Vamos fazer esse acordo? – perguntou com um olhar mais sensual e fogoso. Realmente a doença estava me levando para o pior, falava e obedecia a “criatura do outro mundo”. Mas, como não tinha outra saída, e não queria ficar sem a minha noiva, acabei concordando com a ordem da “sombra”. - Tudo certo! Vou fazer o que estais pedindo. Você precisa me ajudar. – respondi, tentando disfarçar a minha insatisfação. - Deixe comigo! Hoje mesmo ficarei grudada ao lado dele. Na hora eu saberei o que fazer. – disse, tentando me consolar. O restante da noite, assim como o dia todo, foi longo. Eu guardava uma faca de churrasco, presente de um grande amigo meu. Não tive duvidas, a referida arma seria utilizada no crime. Engraçado, depois da última conversa com a “coisa do outro mundo”, mudei, fiquei mais corajoso e determinado. Perdi o medo e para mim, o ato de sangrar o policial seria fato corriqueiro. Lá pelas dez da noite, peguei o ônibus do “Canto” e fui até o Estreito. Antes, passei num posto e comprei gasolina. Chegando lá, observei que o policial estava sozinho, não haveria problema para cometer o crime. - Boa noite Policial! - Boa noite Senhor! O que deseja? – respondeu. - Preciso fazer um Boletim de Ocorrência. A minha casa acabou de ser assaltada. – disse. - Tudo bem, sente-se aí nessa cadeira e vamos fazer o Boletim. – afirmou o Policial sem saber que estava a poucos segundos de uma morte violenta. Sentei-me na cadeira e esperei a primeira oportunidade para executar o plano. O policial, sem perceber de nada, ficou meio de lado. Quando se abaixou para ligar a tomada do computador, tirei a faca da cintura e o feri mortamente pelas costas. O policial Paulo deu um grito, tentando sacar o revólver inutilmente. Já sem forças e perdendo muito sangue, caiu ao lado da mesa de trabalho. Não perdi tempo, joguei uma lata com gasolina no corpo dele. Em seguida, risquei um palito de fósforo. Não demorou muito e o corpo do policial estava totalmente tomado pelas chamas. Sem olhar para trás, caminhei a passos largos na direção do ponto de ônibus para voltar para casa. Ao entrar no ônibus, para minha surpresa, “a coisa do outro mundo”, estava sentada no último banco e sorrindo disse: - Bom trabalho, amigo! Você se saiu muito bem. Para um primeiro trabalho, até que não foi fraco. – disse com sarcasmo. - Como primeiro trabalho? – perguntei. - Sim. É o primeiro trabalho de muitos que virão daqui pra frente. Agora, é só comemorar! Vá até a casa de Maria que ela está a tua espera. Vais ter uma surpresa. – disse. Não acreditei no que estava ocorrendo. Tinha acabado de cometer um crime bárbaro e ao mesmo tempo sendo empurrado para a casa da minha noiva, como se nada tivesse acontecido. Meio sem graça, sem jeito, desajeitado, encaminhei-me até a residência de Maria. Chegando lá, a minha noiva veio me receber, dizendo: - Boa noite, meu amado! Estava esperando por você. Estou morrendo de saudade. Hoje vamos comemorar uma nova vida. Serei a mulher dos teus sonhos. Farei tudo que desejares. Deixarei de ser aquela mulher certinha. - Que bom, querida! Esperei tanto por esse dia! Eu também estou com saudade dos teus beijos e do teu corpo. - Tenho uma surpresinha para você. – revelou. - Chegue bem perto de mim e levante a minha saia. Isso... Assim... Está vendo, estou sem calcinha... Quero que você me faça de pé, aqui mesmo na sala. Os meus pais estão dormindo e não irão se acordar. Nem parecia a Maria dos velhos tempos. Estava excitada e totalmente diferente, fogosa, sensual, com um olhar de uma mulher louca por sexo. Fizemos amor durante mais de duas horas, na sala, em cima do sofá, no chão, enfim, as minhas fantasias e desejos foram totalmente saciados. Depois de tudo, já cansados, dormimos ali mesmo. Antes do dia amanhecer senti novamente o cheiro de mofo. Levei um susto. “A coisa do outro mundo” estava ali, de pé, na minha frente. - Levante! A festinha acabou, vá para casa. O dia já vai clarear. - Você estava aqui? Faz tempo que chegou? – perguntei. - Estou aqui desde o início. Aliás, você é ótimo amante. – respondeu maliciosamente. - Não acredito! – exclamei, sem entender o que ela tinha acabado de revelar. - Pois acredite! O tempo todo estive junto da tua insonsa noiva. Outra coisa: pare de me chamar de “coisa do outro mundo”. Pode me chamar de Miriam. - Miriam? – perguntei, totalmente surpreso. - Isso mesmo! Sou a Miriam, aquela menina que você estuprou e matou. Sou o teu demônio, a tua consciência e o teu remorso. Agora, que já sabe de tudo, não adianta fugir. Temos muito trabalho pela frente. – demonstrando que eu estava em suas mãos. - O que farei? Eu serei preso e condenado. Com você não vai acontecer nada, mas, comigo, só Deus sabe. - Nem fale em Deus, porque nas horas que mais precisei dele, nem o seu assessor veio para me ajudar. Vamos parar de chorar. Vá para casa, tome um banho, que o trabalho te espera. – acrescentou. Cambaleando e sem forças, fui para casa. Tomei um longo banho, coloquei uma roupa limpa e me dirigi ao trabalho. No trajeto, as pessoas comentavam do crime da Delegacia do Estreito. A polícia não tinha nenhum suspeito. Alguns achavam que o policial Paulo tinha cometido suicídio. O que mais havia chamado a minha atenção nem era o crime em si, e sim a “coisa do outro mundo” ser a própria Miriam. Tudo se esclareceu. Eu nunca havia acreditado em assombração, ou mesmo demônio. A alma da Miriam veio para se vingar da sua trágica morte e da irmã. Por outro lado, eu era uma pessoa doente. Os médicos já haviam diagnosticado que eu sofria da síndrome da bipolaridade. Há mais de três anos tomava remédio de tarja preta. Chegaram a solicitar ao meu chefe da repartição a minha internação num hospital psiquiátrico. As coisas estavam caminhando por uma estrada perigosa e sem volta. Em alguns momentos de clareza, eu sabia que a policia acabaria chegando até a minha pessoa. Isso iria acontecer, cedo ou tarde. O meu futuro estava sendo escrito com as minhas próprias mãos. Para os crentes em Deus, eu estava sendo usado pelo demônio, para os psiquiatras, era mais um doente da cabeça, ou um louco, colocando pessoas inocentes em perigo. A sociedade não distingue claramente o que é ser louco, doente, ou uma pessoa com índole má. É por isso que acontecem crimes violentos e nada é feito. A minha noiva Maria, mudou totalmente. Agora, ela era outra mulher, mais parecia uma puta no jeito de se vestir e na forma de transar. Usava uma minissaia jeans o tempo todo, e sem calcinha. Queria sexo toda hora e de jeitos diferentes. Às vezes, eu ficava com vergonha, até mesmo na frente de outras pessoas ela se assanhava, demonstrando ardente desejo. Seis meses se passaram da morte do policial. Numa tarde de sábado, eu estava sentado na sala assistindo televisão, quando senti novamente, o cheiro de mofo que vinha lá do quarto. Eu já sabia quem era. Era a Miriam me chamando: - Venha até aqui! Precisamos conversar. – ordenou. Como virou costume, obedeci e fui até ao quarto onde ela estava. - Pensei que nunca mais voltaria. – falei. - Nunca pense nisso. Quero que você traga a Maria para morar aqui na tua casa. Precisamos dela perto de nós. – informou a poderosa das sombras. - Por que? – perguntei meio assustado. - Porque se ela continuar lá na casa dos pais dela, você vai acabar perdendo a noiva. - Não estou entendo. Perdendo? - Isso mesmo! A Maria está indo todos os dias visitar um padre. Ele é forte com os anjos dele. Amanhã mesmo vá até lá e resolva a situação. Agora, venha até aqui. Hoje faça de conta que sou a tua noiva. – se insinuando, vestindo somente uma calcinha vermelha. Como estava sendo totalmente dominado por essa força dos quintos dos infernos, mais uma vez obedeci. Por incrível que pareça, Miriam me satisfez totalmente. Deixou-me alucinando. Era coisa de doido eu estar dizendo isso, mas, para mim, foi tudo real. No dia seguinte, fui até a casa de Maria e tivemos uma conversa. Ela não disse nada. Apenas, falou: - Vou para onde você quiser meu amado noivo. Sou totalmente tua, em todos os aspectos da minha vida. Precisamos ir logo, antes que os meus pais venham. Eles foram até a igreja, estão trazendo o padre Vilson. Acham que estou possuída pelo demônio. Na primeira noite que Maria dormiu comigo, Miriam permaneceu do meu lado, fazendo carinho. A presença dela foi tão forte que num determinado momento Maria questionou: - Querido, engraçado, parece que tem outra mulher aí do teu lado. - É impressão tua querida. Isso está acontecendo porque é a primeira vez que você dorme na minha casa. - Será? Não sei não, a mulher que estou sentindo aí do teu lado, eu já senti inúmeras vez lá em casa. Até já sonhei com ela. - Deixe de ser boba! Quem tem bipolaridade aqui sou eu, não você. – brinquei com ela. - Ela já me sentiu e isso é ótimo. A minha presença na vida de vocês dois está a cada dia aumentando mais. – acrescentou Miriam satisfeita com a nova situação. Durante um ano a relação com Miriam e Maria estava indo bem. Nenhum crime foi necessário executar. Até mesmo o remédio não tomava mais. Mas, no outro lado, no mundo normal da sociedade, eu era considerado um louco e uma pessoa perigosa. Os meus colegas de trabalho evitavam-me de todas as formas. O medo e o receio se faziam presentes. A mesma coisa acontecia com Maria. Os seus pais fizeram de tudo para resgatá-la de dentro da minha casa e não conseguiram. Certo dia, ao caminharmos pela Rua Conselheiro Mafra, numa noite de sexta-feira, eu e Maria, encontramos o padre Vilson. Ele parou a nossa frente, com um crucifixo na mão, ameaçando: - Vocês são filhos do demônio! Precisam sair da cidade e morar no inferno! Saímos em disparada, sem olhar para trás. O padre continuou gritando palavras que, para nós, era tudo besteira. De repente, Miriam surgiu a nossa frente e disse: - Vocês não podem fugir daquele padreco de merda. – gritou com severidade. Nessa altura Maria já sentia e via Miriam totalmente. Até já era sua amiguinha. - Temos que fazer alguma coisa para calar de vez esse padre! – afirmou Miriam, olhando para mim. Com o olhar de raiva de Miriam, eu já tinha entendido tudo. Mais um crime haveria de cometido. Mas, matar o padre Vilson? A situação estava indo para o abismo. A cada dia a minha cabeça doía mais e a Maria falava sozinha o tempo todo e não tirava a minissaia. O meu médico encaminhou um parecer para que eu fosse internado. Ele dizia, pela terceira vez, que o meu caso era gravíssimo e a internação seria a solução. Naquela mesma noite, Miriam me colocou na parede. Agora com a ajuda de Maria. As duas queriam ver o padre vivendo distante de nós. Eu tremia da cabeça aos pés. Não tinha coragem para matar o padre. Depois de mais uma orgia entre nós, coisa que se tornou corriqueira, Miriam disse: - Você, no sábado à noite, vá até a Casa Paroquial, inventa uma história de arrependimento e finca um punhal no peito do padre Vilson. - Não posso fazer isso! Vou para o inferno. – ponderei. - Você já está no inferno há muito tempo. Faça o que eu estou mandando, eu e a Maria vamos te ajudar no plano. - A polícia vai descobrir. Ontem de manhã, percebi que um homem de óculos escuros estava vigiando o nosso prédio. Perguntei para o Zé da Esquina, e ele disse que era um agente da policia. - Mais um motivo para agirmos rápido. Não adiantaram as minhas ponderações. No dia marcado fui até a Casa Paroquial para matar o padre. Chegando lá, o padre Vilson estava sentado na varanda lendo a bíblia. Olhou para mim e perguntou: - O que você quer aqui, na casa de Deus? - Vim pedir perdão. – respondi. - Não acredito nas palavras do filho do demônio. – disse com ar de descrédito. - Mas, o Senhor precisa acreditar em mim. – insisti. - É difícil acreditar nas sutilezas do mal. – olhando com desconfiança para mim. Nesse momento, Miriam se aproximou de nós. O cheiro de mofo tomou conta da varanda da Casa Paroquial. As folhas secas das árvores ao redor caíram no chão, mostrando que alguma energia estava presente. O padre Vilson segurou a bíblia na mão e exclamou: - Senhor me ajude: o demônio está aqui e quer levar a minha alma. Ajude-me. por favor! - O teu Deus não vai ajudar um padre que abusou e ainda abusa de jovens e crianças. Você abusou do meu irmão! Conheço os teus segredos! Esqueceu-se de mim? Sou aquela menina de dez anos, que você colocava no colo aproveitando-se da situação para bolinar. As tuas mãos são sujas, tanto quanto as minhas. – revelou Miriam com os olhos vermelhos de ódio. Não perdi tempo. Peguei o punhal e enfiei no peito do padre Vilson, que gritou violentamente e caiu morto no chão. Com a morte do religioso, tudo se acalmou. Olhei para Maria e Miriam que estavam sorrindo em ver o padre já sem vida, e disse: - Vamos embora daqui, logo a policia vai chegar. Passaram-se dois anos e ninguém nos perturbou. Tudo corria normalmente. Os pais de Maria foram embora de Florianópolis. Eu estava encostado, com atestado médico. Ficava o dia inteiro dentro do apartamento, só saía para fazer compras. Durante a noite, Miriam se juntava a nós. Chegou um momento que eu não sabia o que era coisa da minha cabeça ou coisa do outro mundo. Misturei totalmente realidade com fantasia. Numa noite que jamais foi esquecerei, a porta do apartamento foi arrombada com um pontapé. Era a Polícia na pessoa do Delegado Jacinto. - Vocês estão presos pela morte do comissário Paulo e do Padre! Fiquem em silencio e tudo que disserem será usado contra vocês. Fomos algemados. Maria ria como uma louca. Estava de calcinha e de calcinha foi levada presa. Miriam, com um largo sorriso nos lábios nos acompanhou até a Delegacia. Prestamos depoimento durante uma semana na presença de dois psiquiatras e um advogado. Até um espirita foi chamado para nos ouvir. Para eles nós estávamos sendo obsidiados, e, para os psiquiatras, éramos doentes mentais, precisávamos ser internados num hospital psiquiátrico. O julgamento foi marcado para dali a seis meses. Fomos condenados a passar o resto de nossos dias internados na Colônia Santana, como loucos e perigosos. A pobre Maria, não suportou a nova vida, acabou se suicidando com um lençol. Foi fazer companhia para a Miriam. No meu caso, continuo aqui, tecendo as minhas loucuras. Todas as noites, os fantasmas da Maria e da Miriam vêm me fazer companhia. E a orgia corre solta. Na verdade, eu não sabia onde estava, ou melhor, em que mundo vivia. Às vezes, pensava que tinha morrido há muito tempo, e em outros momentos, me sentia uma pessoa atormentada pelos demônios. Os médicos me encheram de remédios, sem solucionar o meu problema. Eu deveria ter sido preso desde a morte da menina Miriam. Mas, não foi isso o que aconteceu. Deixaram-me solto para cometer outros crimes. Como eu, existem milhares de doentes perambulando por aí, colocando em risco várias pessoas. A partir de hoje não vou escrever mais nada. Vou esquecer esse mundo, quero curtir a loucura para sempre. Amanhã cedo vou entregar este diário para o agente da colônia, quem sabe, ele mostre para algum escritor que possa transformar os meus manuscritos em livro.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

MORENA DOS MEUS DESEJOS

Você representou o cheiro da boêmia/ O gosto do sexo feito em total loucura/ Nas horas silenciosas da noite.../ Os passos desvairados no final da madrugada/ O desejo de um inesquecível grande baile/ Representou também a alegria de dançar todas as marcas/ A vontade que a noite nunca terminasse/ Que fosse para sempre/ Que o cansaço nunca chegasse perto dos nossos corpos/ Arrepiados de tanta sensualidade.../ Você foi a minha vontade de viver para sempre/ Ouvindo o som do violeiro/ Brigando com o violão/ Dançando com a feia e a bonita/ Fazendo do salão uma academia de dança/ Ou quem sabe num quarto de motel.../ Como se fosse uma grande festança/ Por alguns momentos/ Cheguei a pensar que seria um eterno dançarino/ E morreria dentro de um salão/ Dançando apertadinho no/ Teu lindo corpo.../ Você foi à causa dos meus erros/ Representou muitas quedas na boemia/ Foi a responsável pelas lindas horas de amor/ E as orgias feitas na garagem da tua casa.../ Por outros momentos que ainda povoam a mente deste dançarino/ Mas precisa saber de uma coisa.../ Talvez nem mesmo a morte/ Com seu gosto frio/ Conseguirá superar o calor/ Dos teus beijos molhados.../ Nascemos para ser eternos amantes/ Das noites e dos bailes/ Dos instantes de sussurros nos finais da noite Que sempre foram motivos de alegria e desejos/ Ande os dias e as madrugadas.../ Você jamais poderá ser esquecida/ Porque foi a responsável pelos meus/ Inesquecíveis momentos de boemia e orgia/ Que até hoje vivi.../

terça-feira, 26 de junho de 2012

PEDIDOS

Que a dor seja mais doce/ Que a noite seja menos escura/ Que a amargura seja menos amarga/ Que a melancolia seja mais amena/ Que o sofrimento seja menos doloroso/ Que a estrada tenha menos pedra Como se fosse uma reta sem fim.../ Que a incerteza seja o inicio da certeza/ Que a tristeza seja mais alegre/ Que as dificuldades sejam menos dificeis/ Que o vazio seja repleto de esperança/ Que a morte seja o inicio de uma nova vida/ Que as tempestades sejam o inicio da calmaria/ Que o feio de hoje seja o belo no amanhã/ Que depois da chuva o sol reine sobre a terra/ Que nada seja complicado Na vida de um etinerante.../ Que a guerra seja o começo de um tempo de paz/ Que tudo seja sereno como uma linda noite estrelada/ Que a luz clareia o mais escondido Ponto escuro existente no mundo.../ Que a sede seja mais doce/ Que a fome seja mais resignada/ Que o ódio seja menos cruel/ Que a vingança seja mais doce/ Que o orgulho seja mais tolerante/ Que a saudade seja apenas um sonho De uma noite de verão.../ Que a dança seja o remédio das almas solitárias/ Que os momentos sensuais sejam o cair De infinitos goles de água frescas e limpas.../ Que o amor da mulher amada seja eterno/ Enfim, que tudo seja mais doce Na vida deste Poeta.../

domingo, 3 de junho de 2012

Saga de Uma Saudade

Ainda ontem me lembrei de uma frase que permanece na vizinhança das minhas recordações. “Por que você embora?” Os reais motivos até hoje não estão esclarecidos. Você não teve paciência e foi impaciente com o tempo. De repente, sem avisar, saiu de mansinho, numa longínqua sexta-feira, pegou a mala e viajou de braços com a aventura. Até tentei procurá-la, não adiantou, a decisão estava tomada. Quem sabe não entendi o real significado das suas palavras no calor das emoções amorosas. Depois de ter andado por tristes descaminhos, voltou para viver o segundo tempo de nossas vidas. Hoje está de volta, como pássaro sem ninho, ou ave de arribação, voltou para o ninho que soube te dar calor e proteção. Quem sabe veio para morrer ao meu lado. Os anos passaram, muita coisa aconteceu, entrei em outras vidas, talvez você tenha também entrado. Os teus olhos estão dizendo que errou em ter abandonado o único barco que o destino deixou em tuas mãos. Não precisa chorar, tenha calma e olhe bem nos meus olhos. Este olhar é o mesmo, é aquele que na primavera cinzenta e de poucas flores de 20 anos atrás, percorreu o teu corpo, e nunca mais deixou de admirá-lo. Entre e sente neste banquinho. Há muito tempo que fico aqui sentado olhando para a estrada, esperando que um vulto se aproxime. Eu tinha certeza de que um dia você voltaria pedindo para entrar na casa que abandonou loucamente. Aqui em casa, nada mudou. Os anos não alteraram a rotinha deste poeta. Durante o dia, leio, e à noite, escrevo e ouço música. Nos finais de semana, como bom dançarino, vou dançar, para deixar a alma lavada das dores existenciais e o corpo em forma. Eu até poderia prender você numa gaiola, como se faz com o passarinho cantador, mas não fiz isso, simplesmente deixei que voasse sem rumo. De repente foi necessário percorresses os caminhos que percorreu. Com certeza alguma lição foi tirada. Eu também aprendi uma grande lição: de que jamais devemos acreditar totalmente nas pessoas. As pessoas são como nuvens, não param. Hoje eu sei, preciso ter um pé dentro e outro fora. O meu coração está amargurado, acredito que o teu também. A conversa com Miriam estava emocionada. Ela nada me dizia. Somente o silêncio de uma mulher que sempre foi apaixonada e não admitia. Preferiu a rua e o sexo descontrolado. Ao mesmo tempo estava vindo para mostrar que nunca deixou de ter algum sentimento por mim. - Posso entrar? Será que mereço pelo menos uma consideração? – Perguntou chorosa. - Pode. Vamos conversar. – Respondi com o coração apertado e com uma imensa vontade de abraçá-la. Ela entrou lentamente, deu uns passos para fora da casa, olhando para o horizonte. Voltou a olhar para dentro, como se dissesse que as peças da casa continuavam as mesmas. Sentou no banquinho e olhou fixamente nos meus olhos, para em seguida dizer: - Estou de volta para nunca mais sair. Eu sei que não mereço ser tua companheira. Todos os dias da minha vida em que permaneci como mulher de todos os homens, em nenhum momento deixei de lembrar-me do homem que me ensinou a amar infinitamente. Quero o teu perdão. Necessito ouvir de você que me perdoa. - Mas primeiro preciso que me responda uma pergunta que até hoje permanece batendo na porta do meu coração. Por que você embora? - Meu amado! Não será difícil responder a tua pergunta. Eu tinha 20 anos. Você tinha o dobro da minha idade. Era nova e não conhecia o mundo, e o primeiro homem da minha vida foi você. - Isso não era motivo da tua fuga alucinada. – Acrescentei. - Eu sei que não. Carlos, para uma menina sem experiência na vida, conhecer o mundo era importante. Recebi um convite para viajar para a Europa com aquele empresário do ramo de importação. Ele me prometeu mundos e fundos, e no final me empregou numa casa noturna de Paris. Fiquei contra a minha vontade. Sofri de todas as formas. Apanhei e fui obrigada a usar drogas. Fiquei endividada com os mafiosos. Todo final de mês aparecia um divida. Todos os dias escrevia alguma coisa sobre você, lia e relia. - Como você conseguiu fugir deles? - Um comandante de avião pagou as minhas dividas com os mafiosos. Ele era meu amante e depois de uns quatro meses morando num hotel de Paris, vim para o Brasil. - E o que você fez com os escritos? – Perguntei. - Num belo dia, mais precisamente no natal de 2002, coloquei dentro de uma garrafa e joguei no mar. Na verdade foram cinco garrafas jogadas no mar com um tipo de diário onde relata a minha experiência como prostituta. Quem sabe um dia essas garrafas apareçam aqui na tua praia. Assim, você saberá tudo que escrevi no pior momento da minha vida. Ali estão as palavras de uma mulher que chorava todos os dias com saudades da vida que levava com um anjo, e que não soube valorizar. Miriam não podia estar mentindo. As lágrimas eram fortes e os soluços dela não podiam ser encenação. As marcas pelo corpo diziam tudo. Para uma mulher perto dos trinta anos, as marcas dos sofrimentos eram visíveis. - Carlos, você precisa acreditar em mim. Necessito de tua mão. Eu sei que você me ama. – Assinalou com veemência. - Eu não tive outra mulher na tua ausência. – Revelei. - Você estava me esperando? – Perguntou. - Não sei se era espera por você ou pelo fim dos nossos destinos. Todos os dias eu também pensava muito você. - Você me perdoa? – Voltou a perguntar com as lágrimas num rosto meigo e triste. - Qual a certeza de que depois de conquistar a minha confiança você não volte a voar como um passarinho sem ninho? - A certeza será a minha morte. Só sairei dessa casa dentro de um caixão. Jamais irei abandonar você! Não poderei dar a você um filho. A orgia, a droga e a bebida destruíram o meu organismo. Essa é a única coisa que não poderei dar a você. O resto será todo teu. - Miriam, você sabe que nunca me esqueci de você. Todas as noites arrumava a cama com dois travesseiros. Nenhum dia a cama ficou com um só travesseiro. Sempre sobrava um travesseiro. Hoje será diferente, o travesseiro será ocupado pela mulher que nunca esqueci. Vou perdoar você. Até porque não consegui tirá-la do meu pensamento durante todos esses anos. - Obrigada, meu amor! Teremos uma vida feliz daqui pra frente. – Assinalou Miriam, agora com os olhos brilhantes de alegria. - Assim espero. - Acrescentei, com um pouco de incerteza sobre o futuro. A minha vida com Miriam daquele dia em diante foi maravilhosa. Foram os momentos mais belos que já experimentei em toda a minha vida. Como eu morava de frente para o mar, todos os dias bem cedo, nós caminhávamos pela praia. Muitas vezes, parávamos para descansar, e como dois amantes apaixonados, fazíamos amor entre as pedras. Enfim, matamos todas as saudades possíveis. O tempo passou. Ela já era outra mulher, mais alegre, mais feliz, mas alguma coisa pairava no ar. Eu não sabia dizer o que era. Miriam estava aproveitando bem a nova vida, isso dava para sentir. No meu caso, estava explícito, mas no fundo, uma nuvem negra estava se aproximando de nossas vidas. As imagens daquele domingo estão ainda muito fortes. Naquele dia eu não fui caminhar com ela na praia. Precisava descansar, pois tinha trabalhado a noite toda numa revisão de um novo livro que pretendia lançar. Miriam estava demorando em demasia. Resolvi ir ao seu encontro, quem sabe tinha sentado na nossa pedra para apreciar o pôr do sol. Ao chegar perto da pedra me deparei com uma cena apavorante. A areia da praia estava totalmente ensanguentada. O corpo da minha amada estava jogado ao lado da pedra com várias perfurações de faca pelo corpo. Um bilhete foi deixado em cima da pedra, e dizia assim: “a máfia não perdoa. Ninguém rouba a máfia”. A polícia veio e tomou o meu depoimento. Não houve investigação e até hoje ninguém descobriu os assassinos. O enterro foi realizado e nada mais aconteceu. De um momento para o outro a minha vida virou do avesso e a tristeza tomou conta. Já faziam seis meses do episódio. Estava tentando me reequilibrar, e quando caminhava pela praia, como fazia com Miriam, olhei para as ondas e vi algo diferente. Parei um pouco para observar melhor o que era. Depois de alguns minutos percebi que era uma garrafa. Caminhei alguns passos e retirei a garrafa da água e percebi que dentro dela tinha alguma coisa. Abri com cuidado, e para minha surpresa, havia uma carta e uma pequena chave com algumas observações: “se for o meu amado Carlos que encontrou esta garrafa, pegue a chave e vá até o correio de Paris. Lá tem uma maleta com quinhentos mil dólares. É o meu presente como demonstração de amor. Porém, se for outra pessoa, peço com o maior amor do mundo, que o procure, para dividirem o dinheiro”. Não fui atrás do dinheiro, deixei que o tempo resolvesse a situação. Joguei a chave no mar. Preferi ter na minha mente a imagem de Miriam longe do dinheiro que foi o responsável pela sua morte. Não sei e não quero saber que fim levou os dólares guardados numa caixa de correio em Paris. Não tenho nenhuma curiosidade em correr atrás de uma fortuna responsável pelo desaparecimento da mulher dona do meu coração. Ainda continuo caminhando pela praia e, às vezes, sinto que alguém caminha comigo. O trágico desaparecimento, assim como a vida tumultuada dela fez com eu questionasse o valor da vida. Vale muito pouco. Talvez não tenha nenhum. Hoje, passados todos esses anos, consigo entender o olhar profundo de Miriam. Quando estávamos sentados na pedra admirando o oceano, ela muitas vezes ficava envolta com o horizonte. Era possível perceber a tristeza carregada nos olhos negros. Parecia que ao olhar para o oceano ela enxergava os futuros acontecimentos e as razões da sua trágica existência. No fundo, era uma grande mulher, com um belo coração, mas talvez ingênua para um mundo sem alma. A musicalidade de suas palavras quando de sua volta da Europa, até hoje bate forte no meu coração. Miriam viveu pouco e esse pouco foi o bastante para dizer que mesmo me amando, teve a necessidade de conhecer outros homens numa época em que os valores humanos não eram tão importantes. Por isso que sempre esperei por ela, mesmo achando que cometeu um grande erro e que não havia necessidade de sair pelo mundo como uma devassa. A relação com ela foi importante para mim, porque aprendi a conhecer o coração de uma bela mulher, rebelde e insensata.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

O Punhal

A rua estava deserta e profundamente melancólica, até parecia dia de finados. A Rua João Pinto da velha Desterro, com seus paralelepípedos lisos de tanto receber transeuntes, carroças e carros ao longo da história, estava totalmente encharcada pela intensa chuva que caía aproximadamente há trinta dias. Essa rua guardava inúmeros segredos, vários amores que se iniciaram, e brigas que ainda hoje fazem parte do imaginário das pessoas. Com seu casario em sua volta, a João Pinto possuía certo ar de nostalgia e mistério. Caminhar por ela na década de 1950 fazia bem em todos os aspectos, exceto à noite. Mesmo com lua cheia e o céu repleto de estrelas, e com o barulho do mar, deixava qualquer um com os sentimentos à flor da pele. Era inverno de 1957, o vento sul assoprava sem parar, o frio era intenso, fazendo com que as pessoas nem pensassem sair de casa, principalmente durante a noite. O mês de julho prometia, seria um dos mais friorentos da história climática da Capital. No primeiro domingo do mês, numa noite gelada e de chuva, a prostituta Vânia precisava fazer ponto na Rua João Pinto, pois no dia seguinte tinha que pagar o aluguel da pensão. Isso porque Francisco, esposo da rica Fernanda, seu amante, morrera no ano anterior, numa briga com um marinheiro. Vânia era considerada a mais bela prostituta da cidade, só saía com homens ricos e poderosos. Mas fazia tempo que essa fama já não estava mais trazendo dinheiro e sim desamores. Para ajudar, aquele domingo, chuvoso e frio, não iria trazer grandes expectativas financeiras. Quem iria ter a coragem de sair à noite, atrás de uma prostituta para fazer um programa? De qualquer maneira precisava arriscar. Quem sabe alguma esposa se negasse a fazer amor com algum marido e assim, ele iria desafogar as mágoas com ela. Com esse pensamento Vânia colocou um sobretudo feminino de cor preta , por baixo usou somente um pequena calcinha vermelha. Assim, estaria pronta para qualquer posição sexual que o cliente exigisse. A chuva era fina e caía lentamente, acompanhada de um forte vento. A Rua João Pinto parecia a boca do inferno, pronta para engolir qualquer um que se atravesse a caminhar sobre ela. Vânia andava de um lado para o outro, à espera de alguém para fazer um programa. Naquele dia até que ela estava com vontade de fazer sexo, não acontecia sempre, mas quando acontecia, Vânia se realizava profundamente. Já passava da meia noite, quando enfim, um homem se aproximou dela dizendo: - Boa noite Vânia. Como vai você? - Olá, boa noite! Quanto tempo! – Respondeu. Era o médico Paulo, grande amigo do falecido Francisco. Fazia tempo que ele não aparecia, era respeitado na cidade, mas vez por outra procurava os serviços sexuais de Vânia. Sempre generoso financeiramente com ela, exigindo sexo de todas as formas, principalmente um lado que ela não gostava. Isso porque ela tinha um belo traseiro, despertando imenso prazer em Paulo. - Faz tempo sim, como você sabe, hoje é dia apropriado para uns momentos de sexo, e da forma que aprecio. - Você de novo querendo o meu traseiro. A tua mulher não deixa fazer? - Não deixa. Para fazer sexo com ela tem que ser com a luz apagada e pela frente. Na verdade foram poucas as vezes que fiz sexo com a luz acesa. Deixemos de conversa e vamos lá para o teu quarto. Adoro o teu traseiro, que, aliás, é o mais bonito da cidade. Vânia obedeceu ao médico e o levou para o quarto da pensão. Como sempre, Paulo foi bondoso com o dinheiro. Chegando lá, Vânia levantou o sobretudo feminino, tirou a calcinha, ficou de quatro e deixou o médico penetrá-la do jeito que ele mais gostava. Não foi dessa vez que ela se satisfez, porque a forma que o cliente gostava não era a sua. Depois de ter acabado, Paulo pagou Vânia e foi-se embora. A noite continuava escura, chuvosa, fria e cúmplice dos amantes. Alguma coisa estava no ar. Alguém iria morrer de forma violenta. Os olhos negros da morte estavam à espreita, e o silêncio reinava na cidade, exceto pelas prostitutas e velhos marinheiros que se atreviam a andar pelas ruas. A Praça XV parecia um grande bordel, onde homossexuais e putas circulavam à procura de prazer. Vânia não estava contente e necessitava acabar a noite feliz, como mulher. Paulo não fora homem o suficiente. Lavou-se e desceu para a rua. A sua noite tinha que terminar bem gostosa. E foi isso que ela fez. Ao sair do prédio de dois andares onde morava, Vânia deu de cara com um cachorro preto, que ao vê-la, latiu furiosamente. Nunca tinha visto aquele animal. Ficou assustada e saiu correndo. O cachorro ainda deu algumas latidas e desapareceu noite adentro. Esse episódio quase fez com que ela desistisse de procurar alguém para fazer sexo. Com vontade de ser possuída de qualquer jeito, Vânia prosseguiu a sua procura. Quando chegou à Praça XV, ouviu uma voz: - E aí Vânia! Está difícil encontrar algum cliente? Para uma mulher gostosa como você não será complicado encontrar. - Não será, mas o tempo não está ajudando. Eu saí com o Paulo esta noite, mas quero alguém para me satisfazer sexualmente. - O Doutor não deu no coro? - Ele dá no coro sim. Mas gosta do meu traseiro. Eu preciso de um homem que queira fazer a minha “coisinha” e assim ficarei feliz. A conversa estava sendo travada com o marinheiro Douglas, que estava de folga. Ele tinha um belo porte físico, acostumado a exercícios pesados em alto mar. De cor escura, Douglas era pau para toda obra no que diz respeito a sexo. Famoso por ser pé de mesa, o marujo pegava qualquer mulher e até mesmo homossexual que aparecesse na sua frente. Ele nunca tinha feito sexo com Vânia porque ela cobrava caro. Mas naquela noite iria provar do corpo que muitos homens da cidade se babavam. - Vânia, se você cobrar barato eu quebro o teu galho, apesar de já ter pegado a ricaça Fernanda. - Como assim? Que dizer que você traçou a mulher do falecido Francisco, o meu querido amante? - Isso mesmo! Ela me procurou há pouco lá no cais querendo um momento de sexo com um pé de mesa. Ela me pagou bem. Deixei-a toda esfolada de tanto sexo. Agora tem uma coisa que me deixou cabreiro. - O que ela disse? - Sei lá. Achei estranha a conversa dela. Quando acabei o serviço, a ricaça levantou a calcinha dizendo que mataria todas as prostitutas da Rua João Pinto e iria assumir o papel delas, dando para todos sem cobrar nada e que, se for preciso até pagaria para ser comida. A conversa preocupou Vânia, mas deixou o assunto para trás e pegou o marinheiro pelo braço, levando-o até o seu quarto. Ela não tinha sentido a força e o tamanho de um membro tão grande quanto o dele, mas sentiu-se realizada completamente. Depois de uma hora de sexo selvagem, Vânia abriu a porta do quarto e dispensou o amante negro, pois a essas alturas só queria dormir. A madrugada já estava chegando. Tudo estava quieto na Rua João Pinto, exceto os passos da viúva misteriosa. Nua por baixo do sobretudo feminino, e sentindo-se molhada nas coxas, devido ao vigoroso ato sexual com o marinheiro, encaminhou-se até o prédio onde Vânia dormia o sono tranquilo das prostitutas. Cada passo que dava, Fernanda imaginava quantas vezes o marido dela tinha subido aquelas escadas para ter intimidades com a vagabunda da Vânia. Seria o seu primeiro crime, outros estavam a caminho. Iria limpar a rua e a cidade. Ela seria a única prostituta, isso sem cobrar nada de nenhum cliente. Fernanda era filha única de um rico imigrante alemão e herdou uma grande fortuna. Casou-se com o pobretão do Francisco na esperança de constituir uma família exemplar. Não foi isso o que aconteceu. Ele ou ela não podiam ter filhos. Logo após o casamento, Fernanda foi violentada pelo irmão de Francisco. Contou para o marido, mas ele não acreditou. Isso sem falar do episódio que aconteceu quando ela tinha dez anos de idade: um amigo de seu pai, aproveitando-se da ausência de familiares, estuprou-a de todas as maneiras. Essas imagens vinham a sua mente na medida em que subia os degraus da escada. Lá fora o silêncio era total, somente o demônio reinava. Não bateu à porta, ela já estava semiaberta, costume da época. Olhou para Vânia, deitada, enrolada em coberta quente, dormia um sono profundo, nem iria sentir a penetração do fino punhal no peito. Fernanda cursou anatomia no Rio de Janeiro, sabia onde ferir mortalmente com o punhal. Levantou suavemente o cobertor e chegou a admirar o belo corpo de Vânia, que dezenas de vezes fora instrumento de prazer do canalha do Francisco. Sem esperar muito, penetrou fortemente o punhal no peito de Vânia, que deu um suspiro, tremeu um pouco, e parou de respirar. Pegou a coberta e cobriu totalmente o corpo da prostituta. Nada atrapalhou o silêncio da noite, somente a morte fazia o seu trabalho. Fernanda desceu suavemente as escadas, perdendo-se na noite. A notícia da morte de Vânia percorreu a cidade inteira. O delegado Juarez fez perguntas para várias pessoas, mas ninguém indicou alguma pista que o levasse até a viúva assassina. O marinheiro Douglas embarcou no seu navio. Ele poderia dar alguma pista sobre a assassina da João Pinto. O inverno acabou e logo chegou a primavera e consequentemente o verão. Nada de novo aconteceu na cidade. Tudo corria normalmente à espera do próximo inverno, momento onde o diabo descia para a terra. O frio fazia com que as pessoas não saíssem de casa, somente em casos excepcionais. O crime de Vânia já estava caindo no esquecimento, até porque era apenas mais uma prostituta que tinha sido morta. Douglas voltou da viagem que realizou pelos grandes mares e estava ansioso para sentir um corpo sendo subjugado sexualmente. O outono logo iria embora, e as noites frias e chuvosas com o vento sul assobiando na ilha de Santa Catarina, seriam os cenários dos próximos crimes. O marinheiro saiu à procura de alguém e foi até a rua João Pinto, local indicado para as belas aventuras amorosas. Douglas já sabia do assassinato de Vânia, mas não havia lembrado das ameaças de Fernanda. A única coisa que passava pela sua cabeça era sexo e mais nada. Ao dar os primeiros passos em direção à Rua João Pinto, Douglas defrontou-se com uma bela loira, nova, de olhos verdes. Uma joia de menina. Colocou os olhos nela e disse: - O que faz uma linda menina a estas horas da noite? Não tem medo do bicho papão? - Não tenho medo. E não sou uma menina. Tenho 18 anos e já sei o que é ser devorada por um bicho papão. Pietra tinha vindo de Blumenau há dois meses, atrás de emprego. Logo que chegou à rodoviária na Rua Hercílio Luz, não sabendo para onde ir, pediu informações a um taxista. Este, por sua vez, levou-a até a casa do Juanito, um gigolô que morava na Rua Major Costa. Ela saiu dali empregada, mas, não sem antes ter que dormir uma noite com o seu novo patrão. Era o teste do emprego. Daquele dia em diante Pietra trabalhava à noite para aumentar a riqueza do espanhol Juanito. Juanito era procurado pela polícia da Espanha por ter assassinado o Delegado de Madri. Com a ajuda da máfia italiana fugiu para o Brasil no ano de 1954, refugiando-se em Florianópolis. Logo que chegou aqui, fez o que sempre soube fazer: trazia meninas do interior do Estado para se prostituírem e assim ganhar muito dinheiro. Pietra era mais uma, fisgada no seu anzol. - Hoje eu sou o teu bicho papão e quero você inteirinha... - falou Douglas, já imaginando a bela noite que teria com Pietra. - Mas, primeiro você precisa pagar pelos meus serviços. - adiantou a menina de Blumenau. - Isso é de menos. – respondeu Douglas, pronto para mais um gostoso embate sexual. Naquela noite tudo correu como o marinheiro e Pietra tinham combinado. Nenhum dos dois imaginava que algo pairava no ar. Certa noite, quando Douglas saía do quarto de Pietra, esbarrou com Fernanda, que disse: - Por onde andavas velho marinheiro? Estou com saudade da tua grande ferramenta. Está comendo carne nova? Douglas sorriu e falou: - A minha ferramenta está sendo usada no corpo de uma linda menina, que chega a ser coisa de outro mundo. Tudo nela é pequeno, delicia de mulher! Fernanda não disse nada, simplesmente pegou o marinheiro pela mão e o levou até sua casa. Durante todo o restante da noite, eles fizeram sexo e mais sexo. Ela já não aguentava mais, mas, Douglas era insaciável. Enquanto ele a penetrava, ela perguntou: - Quem é essa menina que tem tudo pequeno? Onde ela mora? O marinheiro no auge de seu tesão, falou: - Ela reside no mesmo prédio onde morava a Vânia, assassinada no ano passado e, por incrível que pareça, no mesmo quarto. A viúva do “sobretudo feminino” ouviu tudo, deixou o marinheiro terminar o serviço e foi-se embora. No dia seguinte, ou melhor, na próxima noite, Fernanda foi ao quarto de Pietra e mais um assassinato virou notícia. O fino e longo punhal comprado no oriente entrou mortalmente no lindo corpo de Pietra, que nem sentiu o perfume da morte. Douglas soube do assassinato da menina de Blumenau e não se conformou. Ele estava gostando da menina e até pensava em tirá-la da rua, quem sabe constituir uma família. Caminhando pela Praça XV, lembrou-se das palavras de Fernanda quando transaram pela primeira vez. Não havia nenhuma razão, Vânia e Pietra terem sido assassinadas brutalmente. Alguma coisa estava errada e era preciso tomar alguma providência. Para Douglas, o crime deveria ser desvendado e vingado da mesma forma. A Rua João Pinto já não era mais a mesma. Depois das duas mortes, os frequentadores da noite ficaram mais precavidos. Mas, Douglas matou a charada: Fernanda era a responsável pelos assassinatos. Certa noite, quando o silêncio tomava conta da cidade, o velho marinheiro resolveu sair para investigar as razões dos crimes. Permaneceu um longo período na frente do prédio onde vivia Fernanda, queria observar os movimentos dela. Já passava da meia noite, quando ouviu o barulho de alguém descendo as escadas. Não teve mais dúvidas, era a Fernanda que saía para aprontar mais uma. Ele tentou escapar ou se esconder, mas não conseguiu. A viúva ficou a sua frente e disse-lhe: - Meu adorado marinheiro, está fugindo de mim? - Não estou! Apenas não sabia que era você. – desconversou o marinheiro. - Fiquei sabendo que andas fazendo perguntas sobre o assassino das duas vagabundas que foram mortas? – perguntou Fernanda. - Preciso saber quem foi o bandido ou a bandida que tirou a vida das meninas. Por sinal, eu estava gostando de Pietra e queria montar uma família com ela. - Montar uma família com uma puta que se deita com qualquer um? – questionou Fernanda. - E você? Por acaso não abre as coxas pra todo mundo? – perguntou Douglas A conversa entre os dois estava tomando um rumo perigoso. Douglas queria dar um fim em Fernanda, sabia que era ela a assassina das duas prostitutas. Fernanda percebeu no olhar dele que estava em perigo. Era necessário tomar uma providência. No mundo da noite da Rua João Pinto, tem um momento que existe um limite. Ele entendia as razões de Fernanda, soube que ela fora violentada quando mocinha, mas, fazer disso uma ponte para a vingança vai um longo caminho. Com determinação, numa mistura de ódio e prazer, Douglas encostou Fernanda contra a parede, levantou o “sobretudo feminino” preto, tirou a calcinha vermelha, numa só estocada penetrou a assassina de forma violenta. Com os olhos arregalados, sentindo o cheiro de mofo da parede, Fernanda tremeu de dor e prazer. Não era a primeira vez que sentia o tamanho da ferramenta do marinheiro. Enquanto a noite e a névoa da escuridão reinavam na Rua João Pinto, o casal, entre gemidos e sussurros, esqueciam vingança e ódio, deixando o prazer tomar conta de tudo. Logo após terminarem a selvagem relação sexual, Fernanda, com as pernas bambas, cansada, abaixou-se para levantar a calcinha. Sem perceber, ela sentiu uma dor profunda no lado esquerdo do abdômen. Percebeu que estava sendo golpeada por um punhal fino, longo e afiado. Era o seu punhal sendo usado contra ela. A lâmina entrou no fígado, rasgando-o totalmente e indo na direção do coração. Fernanda, conhecedora de anatomia humana, sabia que o golpe era fatal, mas levaria alguns minutos para morrer e muito sangue iria escorrer. Deixou-se cair suavemente, como se estivesse se arrumando para o leito da morte. Encostou-se na parede, olhou para o chão e viu uma grande poça de sangue se formar. Douglas estava de pé, ainda com as calças no chão, segurava o punhal coberto de sangue. Ele havia roubado o punhal de Fernanda no momento que faziam sexo. Parecia feliz por ter desfechado o golpe final na mulher que matou cruelmente as suas duas amantes. Nesse instante chegou a ver as imagens de Vânia e Pietra sorrindo para ele, como num gesto de agradecimento. O mar, que estava calmo, criou ondas e tornou-se violento. As estrelas desapareceram do céu e nuvens escuras se formaram. O vento que não tinha dado o ar de sua graça assoprou levando os papéis da Rua João Pinto. Ele olhou para Fernanda e disse: - Eu sempre soube que foi você. Agora vai descansar no inferno, numa mistura de prazer mortal. Você não merece viver na terra e sim ser a esposa do demônio, ou melhor, a puta dele. – sentenciou o velho marinheiro. - A morte até que está sendo gostosa. O ferimento no fígado não traz dor e sim desfalecimento. Mas, por que você? – perguntou Fernanda, já com a voz engasgada pelo sangue. - Porque tinha que ser. Não tenho ninguém que chore por mim e já matei várias pessoas ao redor do mundo. Nos portos que desembarquei já tive inúmeras amantes e muitas delas me contratavam para assassinar os maridos em troca de dinheiro. Sou como um animal selvagem, que se alimenta com a dor dos outros. Mas nunca tive a intensão de fazer isso com você. E você não precisava ter matado Vânia e Pietra. - Eu só queria ser a única prostituta da Rua João Pinto. A única forma de atingir o prazer era sendo uma vagabunda, penetrada por qualquer homem, principalmente da forma que acabamos de fazer. A riqueza nunca me trouxe prazer. Fui casada com um homem que nunca se preocupou em me oferecer algum momento de alegria na cama. As damas não são felizes, são apenas instrumentos de seus maridos, cornos e incompetentes. Estou morrendo feliz, atravessada por um punhal que comprei quando visitei o Marrocos há cincos anos. Dizem que esse punhal foi feito para matar os amantes traídos. - Agora está tudo acabado para você. Descanse na Rua 66, no centro do inferno, onde o teu futuro amante vive. Com essas palavras, Douglas despediu-se de Fernanda. Fernanda sorriu com as últimas palavras de Douglas. Sentiu um gosto de sangue que escorria pelo canto da boca. A morte estava descendo a mando do diabo, o seu futuro marido. Douglas levantou a calça, limpou o punhal na roupa de Fernanda e saiu caminhando, desaparecendo em direção à Praça XV. Logo o dia iria nascer e ele precisava embarcar para mais uma longa viagem, só que desta vez, não voltaria nunca mais.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Antigo Aposento

(Delio e Delinha) Fui rever a minha terra/ Pra matar minha saudade/ Cheio de felicidade/ Meus amigos encontrei/ A noite estava clara com o seu luar de prata Fui fazer a serenata invés de cantar chorei/ Percebi logo a saudade na memória uma lembrança/ Dos meus tempos de criança que brinquei na cachoeira/ Saracura no banhado bem-te-vi lá no pomar/ Quero ouvir o gorjear do sabiá laranjeira/ Naquela grande varanda na janela debrucei/ E na rede do passado muitas vezes balancei/ Comparando a minha infância com tudo que já passei/ Só da minha meninice que jamais esquecerei/ Quem me dera se voltasse pelo menos aos 15 anos/ Sofri tantos desenganos que nem gosto de lembrar/ Perdi minha mocidade após tanto sofrimento/ Meu antigo aposento regressei pra descansar/ Fiquei triste pensativo no recanto bem sozinho/ Para ouvir os passarinhos num cantar apaixonado/ Parece que eles diziam por que você foi embora/ Hoje é você quem chora recordando seu passado/ Gavião piava triste lá no centro do cerrado/ Pintassilgo no gramado, arapongas lá na mata/ Eu também cantava triste no braço de uma viola/ Não há nada que consola essa dor que me maltrata/

sábado, 28 de abril de 2012

Voz Engasgada

Ninguém foi dormir/ O sono está longe/ Mas o silêncio está tão perto/ Que não dá vontade de falar nada/ A alma quer que tudo permaneça quieto/ Ela precisa ver o fundo do rio/ Deixar que a poeira abaixe/ Os pensamentos falam/ Viajam pelo infinito/ Sabem que o momento requer sabedoria/ A sombra do medo bate à porta/ Todos sabem o que está para acontecer/ Eles estão chegando.../ O silêncio avisou para a alma/ Que preferiu meditar/ Amanhã tudo estará acabado/ Não vai restar nada/ Nem mesmo a velha lareira/ A cabana que serviu de abrigo/ Por dezenas de anos/ Vai virar um monte de entulho/ Os homens fardados querem o nosso fim/ Porque pensamos demais/ Somos diferentes/ Gostamos de escrever/ Mostrando desvios morais/ Queremos vida nova/ Igualdade para todos/ É assim mesmo/ É o preço que vamos pagar/ Tudo na vida tem um preço/ Até mesmo para quem pensa diferente/ Mas o que é ser diferente?/ Diferente é dizer não/ Questionar o momento/ Para que o futuro seja melhor/ Mais livre e encantador/ Quando tudo estiver terminado/ Vamos voltar a cantar/ Mesmo que estejamos no jardim das oliveiras/ Ao lado dos amantes da luz/ Sentados perto dos lírios do campo/ Onde poderemos escrever os mais belos poemas/

sábado, 21 de abril de 2012

A Dançarina dos Meus Desejos

Você representou o cheiro da boêmia/ O gosto do sexo feito em total loucura/ Nas horas quietas da noite.../ Os passos desvairados no final da madrugada/ O desejo de um inesquecível grande baile/ Representou também a alegria de dançar todas as marcas/ A vontade que a noite nunca terminasse/ Que fosse para sempre/ Que o cansaço nunca chegasse perto dos nossos corpos/ Arrepiados de tanta sensualidade.../ Você foi a minha vontade de viver para sempre/ Ouvindo o som do violeiro/ Brigando com o violão/ Dançando com a feia e a bonita/ Fazendo do salão uma academia de dança/ Ou quem sabe num quarto de motel.../ Como se fosse uma grande festança/ Por alguns momentos/ Cheguei a pensar que seria um eterno dançarino/ E morreria dentro de um salão/ Dançando apertadinho no/ Teu lindo corpo.../ Você foi à causa dos meus erros/ Representou muitas quedas na boemia/ Foi a responsável pelas lindas horas de amor/ E as orgias feitas na garagem da tua casa.../ Por outros momentos que ainda povoam a mente deste dançarino/ Mas precisa saber de uma coisa.../ Talvez nem mesmo a morte/ Com seu gosto frio/ Conseguirá superar o calor/ Dos teus beijos molhados.../ Nascemos para ser eternos amantes/ Das noites e dos bailes/ Dos instantes de sussurros nos finais da noite Que sempre foram motivos de alegria e desejos/ Ande os dias e as madrugadas.../ Você jamais poderá ser esquecida/ Porque foi a responsável pelos meus/ Inesquecíveis momentos de boemia e orgia/ Que até hoje vivi.../ O maior prazer da minha vida/ Foi passar o tempo dançando/ Ouvindo o som de uma viola/ Às vezes do teu lado/ Outras vezes com alguem de ocasião.../ Mas não posso reclamar do tempo/ E nem dos ventos enlouquecidos/ Muito menos do Arquiteto do Universo/ Que deixou este dançarino viver/ Trocando os passos e os compassos/ Nas mais variadas danças/ Por um longo período da vida.../

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Rosa Luxemburgo

Quais São as Origens do Dia dos Trabalhadores? Rosa Luxemburgo Fevereiro 1894 Primeira Edição: Primeira publicação em polonês no Sprawa Robotnicza. Fonte: Selected Political Writings of Rosa Luxemburg, tr. Dick Howard, Monthly Review Press, 1971, pp. 315-16.. Tradução: Juliana Danielle. (traduzido da versão em inglês existente no MIA) HTML: Fernando A. S. Araújo. Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License. A feliz idéia de usar a celebração de um feriado proletário como um meio para alcançar a jornada de trabalho de oito horas diárias nasceu na Austrália. Os trabalhadores decidiram, em 1856, organizar um dia de completa paralização juntamente com assembléias e entretenimento como uma manifestação a favor da jornada de oito horas diárias. O dia desta celebração era para ser 21 de abril. Inicialmente, os trabalhadores australianos pretendiam que isto só acontecesse em 1856, mas esta primeira celebração teve um efeito tão forte nas massas proletárias da Austrália, avivando-os e levando a uma nova agitação, que foi decidido repetir a celebração todo ano. Na verdade, o que poderia dar aos trabalhadores mais coragem e fé em sua própria força que uma paralização do trabalho em massa, a qual eles mesmos decidiram? O que poderia dar mais coragem para os eternos escravos das fábricas e oficinas do que a reunião de suas próprias tropas? Assim, a idéia de uma celebração proletária foi rapidamente aceita e, da Austrália, começou a se espalhar para outros países até finalmente conquistar todo o mundo proletário. Os primeiros a seguirem o exemplo dos trabalhadores australianos foram os americanos. Em 1886 eles decidiram que o dia 1° de maio deveria ser o dia universal da paralização do trabalho. Neste dia, 200.000 deles deixaram seus trabalhos e exigiram a jornada de oito horas diárias. Tempos depois, a polícia e o assédio legal impediram os trabalhadores por muitos anos de repetir esta manifestação [em tal magnitude]. Entretanto, em 1888 eles renovaram sua decisão e decidiram que a próxima celebração seria no dia 1° de maio de 1890. Enquanto isso, o movimento dos trabalhadores na Europa tinha se fortalecido e se animado. A expressão mais poderosa deste movimento ocorreu no Congresso Internacional dos Trabalhadores em 1889. Neste Congresso, que contou com a presença de quatrocentos representantes, foi decidido que a jornada de oito horas deveria ser a primeira exigência. Foi então que o representante dos sindicatos franceses, o trabalhador Lavigne de Bordô, propos que esta exigência fosse expressa em todos os países através de uma paralização universal do trabalho. O representante dos trabalhadores americanos chamou a atenção para a decisão de seus camaradas de entrar em greve no dia 1° de maio de 1890 e o Congresso decidiu que esta data seria a da celebração universal dos proletários. Neste caso, como há trinta anos atrás na Austrália, os trabalhadores realmente pensaram em uma manifestação que ocorresse uma só vez. O Congresso decidiu que os trabalhadores de todas as terras manifestariam-se juntos pela jornada de oito horas no dia 1° de maio de 1890. Ninguém falou de uma repetição do feriado para os próximos anos. Naturalmente, ninguém poderia prever a enorme rapidez com a qual esta idéia iria triunfar e como iria ser adotada pelas classes trabalhadoras tão rapidamente. No entanto, foi suficiente celebrar o Dia dos Trabalhadores apenas uma vez para todos entenderem e sentirem que o Dia dos Trabalhadores deveria ser uma tradição contínua e anual [...]. O primeiro de maio exige a introdução da jornada de oito horas. Mas mesmo depois desse objetivo ter sido alcançado, o Dia dos Trabalhadores não foi deixado para trás. Enquanto a luta dos trabalhadores contra a burguesia e a dominação de classe continuar, enquanto todas as exigências não forem conseguidas, o Dia dos Trabalhadores será a expressão anual destas exigências. E quando melhores dias raiarem, quando a classe trabalhadora do mundo tiver ganho sua liberdade, então a humanidade provavelmente irá celebrar o Dia dos Trabalhadores em honra às mais amargas lutas e aos muitos sofrimentos do passado.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Brasileiro Lê Muito Pouco

Segundo Jornal o Globo,em notícia publicada nesta semana, a média de leitura do brasileiro é de apenas 2,1 livros por ano, segundo a 3ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada nesta quarta-feira. O estudo revela que, no total, a média de leitura do brasileiro é de 4 livros anuais, dos quais dois não são lidos até o final. O número é menor do que o registrado em 2007, quando foi feita a 2ª edição da pesquisa. Na época, a média de livros lidos por ano era de 4,7. O levantamento foi feito pelo Ibope Inteligência com 5 mil entrevistados em 315 municípios entre junho e julho de 2011. A pesquisa, encomendada pelo Instituto Pró-Livro, mostra ainda que metade da população - cerca de 88,2 milhões de pessoas - é considerada leitora, ou seja, leu ao menos um livro nos últimos três meses. O índice é menor do que o registrado em 2007, quando 55% da população havia declarado ter lido ao menos um livro nos três meses que antecederam a pesquisa. O Centro-Oeste é a região com melhor média de livros lidos, seguido pelo Nordeste, Sudeste, Sul e Norte. A Bíblia é o livro mais lido no Brasil, seguido por livros didáticos, romances, livros religiosos, contos e livros infantis. As mulheres leem mais do que os homens. Enquanto 53% delas são leitoras, entre os homens o índice é de 43%. Ainda segundo a pesquisa, 75% da população nunca frequentou uma biblioteca na vida. Presente à abertura do seminário Retratos da Leitura no Brasil, no qual o levantamento foi divulgado, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, disse que o governo trabalha para zerar o número de municípios sem biblioteca. - A leitura, quando vai além do livro didático, vai permitir a formação do cidadão, vai dar ao cidadão as ferramentas do conhecimento, permitir a ele desenvolver a capacidade de reflexão e análise, de questionar e desenvolver seu pensamento e sua opinião. A literatura tem essa capacidade. A televisão não permite tanto a reflexão quanto o livro - afirmou a ministra. Durante o evento, fez-se um minuto de silêncio em homenagem ao escritor Millôr Fernandes, que faleceu na madrugada desta quarta-feira. Ana de Hollanda considerou a morte do escritor uma “perda irreparável”.

terça-feira, 27 de março de 2012

Fragmento de um poema de Facundo Cabral

“E me chamas estrangeiro, porque cheguei aqui por um caminho que não conhecias, porque nasci em outra cidade, e conheci outros mares. Chamas-me estrangeiro porque não estás acostumado comigo, já que eu zarpei de um porto distante, e tu pensas que as despedidas existem apenas para que se agitem lenços e se encham de lágrimas os olhos, e acreditas que, quando se vai para longe, todos pensam apenas no dia do regresso, e nas orações que os entes queridos ficam repetindo, dia após dia, anos a fio. Mas eu não sou estrangeiro. Porque despertei em minha alma o que antes não conhecia, e descobri que todos os homens são iguais, que houve uma época em que o mundo não tinha fronteiras. Todos nós trazemos o mesmo grito, as mesmas perguntas, o mesmo cansaço das viagens muito longas. Os que dividem, os que dominam, os que roubam, os que mentem, os que compram e vendem nossos sonhos, são eles que inventaram esta palavra: Estrangeiro. Olha-me no fundo de meus olhos, além do teu ódio, do teu egoísmo, do teu medo, e verás que sou apenas um homem, que precisa de tua ajuda. Não posso ser, nunca fui um Estrangeiro”.

domingo, 18 de março de 2012

A Moça da Lua

Lembro-me como se fosse hoje. Não é possível esquecer aquele momento. Foi muito intenso o que aconteceu comigo. Era início de outono e a temperatura estava amena, depois de um verão forte e chuvoso. Todas as noites, principalmente durante a lua cheia, eu ficava várias horas sentado na varanda da minha casa, de frente para o mar, admirando a lua beijar suavemente a lâmina do oceano. De onde eu estava era possível observar as ilhas Ratones Um e Ratones Dois, meio que perdidas no centro do canal da baía norte. Eu tinha e ainda tenho uma grande admiração pela figura da lua, vejo-a como uma linda mulher admirada pelos poetas do mundo inteiro. Desde criança essa magia me contamina e persegue. Às vezes chego a pensar que no dia em que eu morrer será na lua a minha sepultura eterna. Certa noite, de uma sexta-feira de abril de um ano que não pretendo revelar, estava sentado na minha cadeira, observando os raios lunares, quando uma fina brisa tocou o meu rosto. A princípio pensei que fosse uma pequena folha seca que tivesse caído das árvores ao meu redor, mas não era. Esse toque foi aumentando, e ao mesmo tempo, senti um leve sono tomar conta de mim. Aos poucos, me recostei da cadeira e deixei que os meus olhos se fechassem. Lentamente, fui acordando e me vi sentado no banco do jardim que ficava na frente da minha casa. Dali eu ainda podia ver a bela lua a refletir seus raios sobre o mar. Ao meu lado, vi uma bela moça de cabelos longos e olhos pretos, sorrindo, que disse: - Boa noite, caro amigo! A noite está linda, principalmente com a claridade da lua tomando conta da terra. - É verdade. – respondi, para em seguida perguntar: - Como vim parar aqui? Eu estava sentado na varanda da minha casa e agora estou me vendo no jardim ao lado de você, que nunca havia visto antes. Parece que passei por um sono... - Eu sou aquela que você sempre admirou. - Como assim? Não estou entendendo. - Preste atenção no que vou falar. Durante anos, eu estive acompanhando os teus passos lá de cima, da varanda da minha casa, ao lado do lago lunar, próxima também da grande montanha. Fui testemunha do que você fez e deixou de fazer. - Vamos como calma! Eu não estou ficando maluco. Esta conversa é coisa de doido. Não pode ser! Seja mais clara, por favor! - Eu serei. Hoje iremos conversar bastante. O tempo no sonho é diferente. Muita coisa pode ser dita em segundos. Mas, vamos por etapas. Começaremos quando você era adolescente. Você lembra aquele dia lá na velha rodoviária da tua terra natal? Quando esperava o ônibus rumo à capital? - Lembro sim! Já se passaram vários anos... O que tem a ver a velha rodoviária com a minha vida? - A tua sobrinha chegou correndo e te entregou uma rosa vermelha e um livro. Pediu que você colocasse a rosa dentro do livro, pois representaria a tua vida futura. Pois então: a rosa representava uma linda vida, cheia de alegria, paz e conforto, e o livro, a tua profissão. Mas para que isso acontecesse seria necessário que a rosa morresse no meio das folhas do livro, virasse pó com o tempo. Isso não aconteceu. Depois de oito meses você jogou fora a rosa e o livro. Todas as tuas alegrias, amores, empregos, conquistas se perderam, como a rosa e o livro. A magia foi para o lixo e a dificuldade abraçou o teu destino. - Eu não podia imaginar, e muito menos entender, o toque do destino. Nunca tive nenhum dom, e os deuses não me avisaram que deveria guardar para sempre a rosa e o livro. – acrescentei com pouco entendimento. - O céu mostra sutilmente o rumo de nossa vida. Muitas vezes não damos importância aos pequenos detalhes. Deixamos de lado o aviso e o silêncio nos olhares do universo, que tenta de todas as formas mostrar que estamos errados e precisamos corrigir o curso. Depois disso, o universo concedeu a você outras oportunidades e novamente foram para o lixo. - Por que você, que viu tudo lá de cima, não me avisou? Já que tinha certo sentimento por mim? - Porque era preciso que o encanto se completasse e respeitar o teu livre-arbítrio. - O que farei agora? – perguntei. - Calma, que ainda temos algumas coisas para falar. - Logo depois do teu casamento foi aberta para você uma linda estrada de prosperidade distante de onde você vivia. Organizou-se uma estrutura que transformaria a tua vida numa das mais belas e promissoras. Longe daqui, lá no norte, no meio das grandes árvores e dos grandes rios, onde os deuses das matas protegem os guerreiros, você iria construir um império. Inúmeros guerreiros foram convocados para ajudá-lo na tarefa. Não adiantou. Novamente, e de uma forma brusca, renunciou a oferta do universo e jogou-se nas aventuras mundanas. A frustação foi geral e ninguém entendeu. Eu mesma, certa noite, me aproximei de você e tentei avisá-lo, mas não adiantou. Os teus ouvidos eram para as vozes da escuridão e das trevas. Aos poucos, fomos saindo com tristeza no coração. Enquanto a Moça da Lua ia conversando, o meu pensamento transportava-se para àquele tempo. Por incrível que pareça, realmente ela estava certa. Estava em minhas mãos, a chave do destino, a chave de outra situação, talvez de outra vida, muito diferente dessa que estou vivendo. - As tuas palavras estão me deixando triste. – revelei com muita emoção. - Não fique caro amigo. Demoramos a entender as razões das tuas fugas dos presentes do universo. Também, não estou aqui para te criticar, e sim para te lembrar das oportunidades que perdestes ao longo da jornada. Tem outra situação. Quer que eu lembre? - Fale, agora não resta mais nada, a não ser fazer da vida um longo enredo de fracassos e compromissos que se perderam. - Você não perdeu, são lições que precisam ser apreendidas. Tudo na vida tem um sentido, até mesmo as fugas existenciais. A covardia tem várias facetas. - Diga então: o que resta de revelação? - Depois desse último episódio, você passou por inúmeras dificuldades, perambulando por situações constrangedoras. Os filhos vieram. Como se fosse um arrependimento da fuga dos presentes dos céus, você seguiu o caminho do álcool, tornando-se um alcoólatra doentio. Foram necessárias várias internações para que a cura se realizasse. Após esses tormentos, mais uma vez a bondade do Arquiteto do Universo se apresentou. Um emprego que seria a garantia da tua aposentadoria foi dado a você. A conversa com a Moça da Lua era emocionante. Um filme estava sendo passado para mim. Ninguém cobrava nada, as cenas eram reais, até mesmo as sensações dos momentos vividos eram sentidas. Ela continuou falando, de forma clara e suave: - Os anos se passaram... Algumas dificuldades amorosas aconteceram. Sem ouvir os sinais da tua alma, com soberba e apego ao dinheiro, jogasse fora o que seria a loteria dos céus. Tentastes te aventurar na vida dos jogos de azar. O azarado foi você. Deu bingo contra o teu destino. Depois de tudo, era necessário um tempo, um bom tempo para que algumas lições fossem apreendidas, mesmo que para isso fosse necessário dor e sofrimento. Era importante deixar a água clarear e assim enxergar o leito do rio. Dez anos se passaram, entre noites e boemia, mulheres e sexo. Você, poeta da noite, viveu intensamente a orgia e uma vida voltada ao submundo da sensualidade. Agora, algumas rotas foram corrigidas por você, tirou lições, jogou fora o pesadelo da noite, aceitou humildemente as lições do passado. Esperamos que estejas pronto para a última e grande cartada da tua existência. Com toda certeza não haverá outra chance além dessa que está para acontecer. No meio da conversa a Moça da Lua segurou a minha mão. Senti uma forte energia ser passada, talvez um aroma de esperança, fé, carinho e humildade. Quando ela terminou de expressar as suas últimas palavras, olhei para o lado, para fazer-lhe uma pergunta, mas tinha desaparecido. Deixou-me sozinho no jardim. Acordei. A madrugada já se fazia presente. No mar, um pescador organizava seu barco para iniciar mais uma pescaria. Olhei para o alto, a Lua continuava lá, linda, forte e clara. Tentei por todos os meios enxergar o lago onde mora o meu anjo protetor, mas não foi possível. Eu sei que ela está lá, sentada na varanda da sua casinha branca, cuidando dos meus passos, enquanto eu permanecer aqui na Terra.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Louca Insônia

Paixão solitária/ Vento que sopra/ Como um doido varrido/ Destruindo os raios do meu louco amor/ Construído numa doida noite de verão/ Quieta saudade/ Silêncio que explode meu peito/ Dor que não passa/ Vai além da flor da pele/ E chega a arrepiar o corpo por inteiro/ Nubla totalmente a visão/ Visão que turba as imagens/ Sem que possa enxergar a próxima curva/ Do meu incerto caminho/ Ouço vozes/ Nas noites sem dormir/ O sono fica longe/ Enquanto navego pelas linhas das incertezas/ Procuro relaxar/ Não adianta.../ Meu corpo pede por você Imagino coisas inimagináveis/ Que a censura jamais deixaria publicar.../ Os meus olhos estão abertos/ Fixos no tempo/ Ouço passos pelo quarto/ Os gritos do silêncio.../ Não deixam o sono aparecer/ As lágrimas da noite continuam a derramar/ Sobre a névoa da madrugada/ O sol nunca foi tão esperado/ Para que eu possa largar o leito desta cama/ E sair por aí a procurar a razão da insônia/ Chorar não adianta/ Como não adianta lamentar/ O dia de ontem/ Porque estou vivendo o presente/ Esperando um grande presente/ Que foi prometido e/ Até hoje ficou na promessa/ Antes do nascer do sol/ Passo por um pequeno lapso de sono/ Uma linda música/ Surge por detrás dos galhos das árvores/ E acalenta meu coração.../ Suaviza o cansaço que toma conta do meu corpo/ A melodia traz novas energias para um novo dia/ É o remédio que preciso/ Para enfrentar mais uma jornada/ Esperar por mais uma noite de insônia/ Noite que teima em trazer imagens de você

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Estrada de Chão

A minha vida é igual estrada de chão Repleta de buracos e pedregulhos Entre solavancos e derrapadas Vou caminhando... Entre atoleiros e temporais/ Vou viajando/ Muitas vezes sem rumo/ Os meus dias são tomados/ De poeira intensa.../ Que têm momentos que não/ Consigo enxergar as perigosas/ Curvas que se apresentam pela frente/ Durante a noite/ Quando consigo adormecer/ Por alguns instantes/ Sonho que estou viajando numa/ Linda estrada/ Totalmente asfaltada/ Cercada de flores amarelas/ Com algumas casinhas brancas com varanda/ Onde aprecio o horizonte/ O que me ajuda a continuar andando/ Na estrada de chão/ É a certeza de que um dia/ Ela vai chegar ao fim/ Talvez tenha uma placa/ Indicando “estrada sem saída”/ Para alegrar o meu coração/ Trago comigo um violão/ Que nos finais de tarde/ Quando o sol se põe/ Toco melodias que lembram/ A determinação de velhos guerreiros/ Nas batalhas de belas vitórias/ Se um dia encontrares um caminhante/ Com o rosto castigado de viagens estridentes/ Converse com ele.../ Escute a sua trajetória de vida/ Porque podes aprender lições/ Que poderão ser úteis/ Nas estradas de chão/ Que todos nós/ Temos que trilhar/

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O Castigo do Tempo

Há dias em que o tempo Volta junto com o vento Uivando pelos campos Trazendo a brisa de um dia Que se perdeu na poeira da estrada Há dias em que a emoção de uma época Volta forte junto com a saudade De um momento que demorou a voltar Para dizer que os anos por mais longos que sejam Sempre voltam para dizer que a valeu a pena O tempo também é um julgamento da história Julga o presente de um triste passado Mostra muitas vezes que não plantamos bons frutos É a colheita do presente Que não é de flores... E sim de espinhos que sangram o coração! Têm imagens Têm velhas cartas... Que mostram a história Construída durante forte emoção Que hoje ao assistirmos As lágrimas correm caudalosamente Em nosso rosto castigado pela idad Depois de tudo Que passamos Não devemos condenar o futuro Simplesmente pedir ao tempo Que nos leve junto com o vento Para o interior dos rincões Ao lado da cachoeira divina Onde as almas repousam Depois de terem vivido uma renhida existência

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A Mozart da Poesia Morreu

A poetisa polonesa Wislawa Szymborska, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura em 1996, morreu, seu agente informou nesta quarta-feira. Ela tinha 88 anos. Szymborska morreu "pacificamente durante o sono", disse Michal Rusinek. A poeta viveu desde criança na cidade de Cracóvia, no sul da Polônia. O comitê do Nobel a chamou de "Mozart de poesia", uma mulher que misturava sua elegância na linguagem com "a fúria de Beethoven". Szymborska também era famosa pelo seu lado político e lúdico – pois usava o humor utilizado de formas imprevisíveis.

NÃO VOU ADORMECER SEM DEGUSTAR OS MEUS SONHOS

Ninguém prende um pensamento. Ninguém aprisiona uma alma ou um coração. O amor é livre e o gostar caminha junto com a liberdade. O desejo ...