segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A Minha Alma Está Enterrada na Curva do Rio

Ao atravessar o rio não tenha saudade...Deixe que as águas levem as emoções...Olhe o teu jardim que a cada dia está mais florido...A alma de um poeta é como um jardim...A cada dia que passa encanta cada vez mais...Porque é abençoado pelo Universo...Ele é como um barquinho...Deixa ser levado pelas águas de um rio caudaloso...O poeta é também um instrumento musical que os anjos utilizam para cuidar das almas em tratamento...Ele sempre esta afinado com os mestres do céu...

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A Chuva

Dia de chuva...É quando lemos as cartas guardadas dentro do coração...A chuva deixa a pessoa introspectiva...Somos levados ao mundo que um dia foi criado por nós...Em momento que a nossa vida era uma eterna primavera...Cada gota de chuva que cai no telhado é o som da saudade que respinga nas emoções...Na estrada que caminhamos...Tudo encontramos e tudo passa por mais escura que seja a noite...A chuva também tem o seu momento de chegar e ir embora...

domingo, 14 de setembro de 2014

Roupagem da Alma

Entre o lago e o mar, construiu uma casinha de madeira com capricho e amor. Em volta dela, plantou um imenso campo de girassol, tornando a paisagem deslumbrante e ao mesmo tempo, repleta de uma magia transcendental. Quando o vento soprava do norte, os girassóis faziam um bailado, jogando o aroma para as planícies e vales da região. Ao amanhecer, os raios do sol se confundiam com as imagens da plantação de girassol, e no meio passava um pequeno rio, que desembocava num lago, tornando a paisagem ainda mais linda e aconchegante. Distante da cidade e perto da natureza aceitou viver e aprender as lições da solidão e da saudade. Para uns, Mané era um caboclo destinado a morrer agarrado às coisas do sertão e para outros, não passava de um nômade fugindo do progresso ou de um grande problema nunca revelado. Entre uma opinião e outra, na verdade, ele era uma pessoa feliz, porque entendia a razão e os motivos da sua situação, não reclamando dos infortúnios. Nessa bucólica paisagem, morava Mané, refugiado da vida, que escolheu um recanto para viver. Ele guardava no coração passagens vividas, quase sempre como protagonista. A vida para Mané não foi nada boa, fez dele um laboratório, onde as experiências eram colocadas em prática, sem piedade. Mesmo assim, nunca se importou com as dificuldades, fez das mesmas, escola de aprendizagem. De tudo que passou, nunca reclamou, sempre teve senso de humor, ria dos problemas e continuava vivendo, sempre acreditando que um dia tudo iria mudar. Tinha claro na mente, que alguma coisa sempre tem sentido nas ondas do destino. Nunca teve sorte com mulher, talvez pela sua aparência física, um pouco desajeitada. Mané, em alguns momentos, até achava engraçada a sua situação. Nas noites de lua cheia, Mané pegava a gaita de boca e tocava melodias caboclas, que aprendeu quando era moço lá na sua terra natal. As estrelas, com o brilho cintilante, jogavam raios de luz sobre o seu rancho, que numa mágica serenata, atraía os pirilampos. Parecia um mundo criado para acalentar a sua alma. Muitas vezes adormecia sentado na varanda, quase sempre acompanhado pelo olhar sereno da lua... Depois de um sono repleto de sonhos, acordava cedo, ligava o radinho para ouvir os clássicos caipiras e, junto com os raios do sol, pegava a enxada para trabalhar no campo de girassol. Criava algumas galinhas e patos e, junto com eles, formava a sua família. Com barba longa, pele morena e massacrada pelo tempo, Mané tinha as mãos cheias de calos, porque trabalhou a vida inteira no pesado. Ao dormir conversava com o Pai do Céu, agradecendo o dia, a saúde e acima de tudo, a vida. Era figura serena, bondosa e alegre, que atraía imagens e energias de pura tolerância. Com essas qualidades, Mané tornou-se o conselheiro da região e do campo. Todos gostavam de conversar com ele nos finais de tarde, na frente da sua casinha simples e ao mesmo tempo protegida pelas energias benéficas do universo. Era uma casa abençoada, onde a natureza se curvava pela simplicidade que irradiava do campo de girassol. Nas janelas da casa, colocou floreiras de gerânios de todas as cores, que mostrava a beleza em sua plenitude. O sol, depois de iluminar os homens na Terra, estava se preparando para ir embora, quando Mané recebeu uma visita inesperada. Era o Padre José, que estava em frente a sua casinha e queria conversar com ele, para pedir alguns conselhos. - Boa tarde, Mané! Desculpe por não ter avisado que viria, mas preciso da tua ajuda. – disse o Padre. - Boa tarde, Padre! Que bom receber a visita do Senhor na minha casa. Não tenho muita coisa para oferecer, a não ser a minha companhia e amizade. – avisou Mané. - Bondoso Mané, você tem a maior riqueza do mundo, que poucos têm. É o tesouro da bondade e do amor ao próximo; coisas que eu nunca consegui ter, mesmo falando em Deus em todos os momentos. – revelou o Padre José, feliz por estar conversando com Mané. - O Senhor é uma pessoa boa e vive dentro da casa de Deus, enquanto eu vivo distante, sozinho, sem nunca ter colocado o pé numa igreja ou em outro templo. – disse Mané, tentando se desculpar por nunca ter assistido missa. - Mané, escute! Tem gente que não sai da igreja, mas vive fazendo mal para os outros e com ódio no coração. São os lobos com pele de cordeiro, como dizia Jesus. – revelou o Padre José. - O Senhor acha? Será que tem gente assim? – questionou Mané, surpreso com a declaração do Padre. - Tem sim, Mané. Usam o nome de Deus para prejudicar os outros. Muitas guerras são e foram feitas em nome de Deus. Às vezes, acredito que o mais importante na vida é a prática. – explicou o Padre. - Tudo bem, quem sabe eles estejam plantando, para colher um dia. Eu acho que Deus não precisa de nós, mas nós precisamos Dele, porque foi Ele que nos criou. – disse Mané, com fisionomia serena e brilho nos olhos. - Concordo com você. São essas compreensões que eu ainda não tenho, por mais que faça oração todos os dias. Não consigo entender o comportamento humano. Por isso eu vim aqui para pedir a tua ajuda. Preciso dos teus conselhos. – assinalou o Padre. - Pode falar Padre, estou a tua disposição. Se puder ajudar, ficarei feliz. – respondeu Mané. - Eu sou Padre há mais de 30 anos e sempre procurei ajudar os outros, sem olhar a quem. Para mim, todos são filhos de Deus. Acontece que na semana passada, o Coronel Vidal veio me procurar dizendo que eu estava proibido de aceitar as prostitutas na Igreja, porque são filhas do demônio. Ele afirmou que se eu aceitá-las irá conversar com o Bispo para me tirar da Paróquia. Tentei convencê-lo do contrário, mas nada adiantou, inclusive, me ameaçou dizendo que os seus comparsas poderiam fazer uma visita surpresa na calada da noite. Desde aquele dia eu não consigo dormir. Qualquer barulho penso que são eles que estão vindo para me matar. Aí veio uma voz ao meu ouvido, dizendo que eu lhe visitasse. O que você me diz? – perguntou Padre José, com ar de amargura, medo e insegurança. - Meu amigo, não conheço nada de religião e nunca li coisa alguma a respeito da vida de Jesus Cristo. A única coisa que aprendi, na escola primária, foi que Ele foi morto pelos romanos, porque pregava o amor, o perdão e a tolerância entre os homens. O Coronel Vidal, para mim, está sendo igual aos romanos, quer comandar a vida dos outros, tirar a liberdade e não deixar que todos assistam à missa aos domingos. Não tenha medo, você tem o exemplo de Jesus. Quem sabe é o momento de você provar a sua fé. Não só aceite as ditas “mulheres da vida” na missa, como dê hóstia e faça a confissão. Assim, você estará mostrando que Deus é de todos e não dos poderosos. E ainda, um dia será recebido pelas mãos do Pai Eterno. – mostrou Mané, com profundo pensamento no infinito... - Se eu fizer isso o Coronel vai me matar. – disse o Padre, com muito medo. - O Senhor tem medo da morte? – perguntou Mané. - A morte é o fim de tudo e me parece ser um túnel escuro. As religiões fizeram da morte um grande tormento. – respondeu o Padre. - Eu acho que não. Talvez seja uma ponte, uma travessia, um sonho, que nos leva para outro mundo. Às vezes sonho que a vida continua e que aqui nada mais é do que uma escola. O importante é estar de bem com Deus e Jesus. – mostrou Mané, com profunda certeza do que dizia. - Está vendo? Não sei de onde você tira essas ideias. Lindas palavras, com profundo sentido. Eu também, às vezes, no momento de oração, sinto que realmente a morte é uma travessia... – lembrou o missionário, abrindo o coração ao seu amigo Mané. - Que bom que o Senhor pensa assim. Acho que tudo tem um sentido e uma lógica na vida. Isso não importa de onde venha e de quem esteja mandando, porque as coisas de Deus são diferentes, serenas e eternas. – disse Mané. - Quem sabe você conversa com o coronel Vidal. Ele tem uma grande admiração por você. Ele mesmo me disse certo dia. – ponderou o Padre. Mané, caboclo do interior, sem nenhuma instrução, mas com uma sabedoria extraordinária, aceitou o desafio para conversar com o Coronel. Alguma coisa lhe dizia da importância de ir à casa do Coronel, pois o momento era aquele. A sua alma sempre apontou na direção de uma conversa que iria mudar muita coisa na vida do Vidal e da sua filha. O coronel Vidal morava numa linda casa, nos fundos de um grande lago. Dali, com seus empregados, comandava a politica do Estado, sem nenhuma compaixão. Tudo tinha que ser de acordo com a sua vontade e de mais ninguém. Era temido até mesmo pelos seus amigos mais próximos. Era acostumado a bater e humilhar as mulheres, assim como as pessoas humildes. A primavera estava chegando e Mané admirava a plantação de girassol, regando todos os dias, pois há um bom tempo não chovia. Ao olhar para o lago, viu que vinham em sua direção, três cavaleiros. Quando se aproximaram, percebeu que um deles era o Coronel Vidal. Largou as ferramentas e ficou aguardando a chegada dos visitantes. - Boa tarde, Mané! Como tem passado? Está bonita a tua plantação de girassol. Toda vez que venho aqui, parece que estou entrando no paraíso, se é que existe. – revelou o Coronel Vidal, com alegria em estar envolvido no aroma do campo de girassóis. - Boa tarde, Coronel. Estava pensando no senhor agora mesmo. – respondeu Mané. - É mesmo? – perguntou o Coronel Vidal, surpreso com a declaração do caboclo Mané. - Então, as nossas vontades se uniram. Eu também preciso dar uma prosa com você. Gostaria que conversasse com o Padre José, para que ele não aceite as prostitutas na missa de domingo. É o dia que todas as famílias se encontram e não fica bem que essas filhas do demônio sejam recebidas na casa de Deus. – disse o Coronel Vidal, com ar de arrogância e mágoa. - Coronel Vidal, escute uma coisa: eu não sou ninguém, apenas um simples caboclo, que não entende nada das coisas da igreja e da religião, mas acho que Deus é pai de todos e não faz distinção. - Entende sim. Você tem sabedoria que poucos têm. Eu sei que você é ignorante nas leis dos homens, mas inteligente no conhecimento da vida. E não se faça de desentendido, porque eu já sei que o Padre esteve aqui na semana passada para pedir conselhos. – afirmou o Coronel Vidal, com olhos de tigre nervoso. - Coronel, ele esteve aqui sim, e pediu para que eu conversasse com o senhor para convencê-lo em aceitar as “mulheres da vida” na Igreja. Eu disse que iria conversar, mas o senhor acabou vindo antes. – ponderou Mané, com tranquilidade. - Nem tente me convencer, porque eu já não estou gostando do início da nossa prosa. Eu não quero ser convencido. Estou determinando! – disse o Coronel, falando alto. - Coronel, sente aqui nesse banco e vamos conversar com tranquilidade. Com uma boa conversa tudo se resolve. Tire o ódio do coração. Olhe o mundo com amor, veja as pessoas como irmãs e não como inimigas. – mostrou Mané, com imensa serenidade. - Eu até sento, porque gosto do teu jeito. É diferente, mas às vezes esquisito, mas me deixa calmo. Você tem uma forma que mexe muito com o meu coração. Não consigo ficar com raiva. – disse o Coronel Vidal, demonstrando que estava diante de alguém muito superior. - Primeiro, me diga, porque tem tanto ódio contra as pobres mulheres? – perguntou Mané. Nesse momento o ambiente se tornou mágico. O Coronel, antes autoritário, aceitou sentar-se no banco. O céu se tornou azul, sem nenhuma nuvem escura, e os pássaros ficaram em silêncio, como se estivessem querendo ouvir a conversa. A garça embalou um belo bailado no lago, tudo para tornar o momento de embriagante magia espiritual. - Eu vou responder a você. Não revele nada para ninguém da nossa conversa. Leve para o túmulo as coisas que vou dizer. Eu guardo um profundo remorso no coração. Faz cinco anos que a minha única filha resolveu se entregar para um negro, descendente de escravos. Engravidou dele. Não tive alternativa a não ser matar o negro e o filho que a minha filha tinha parido. Ela ficou profundamente raivosa e resolveu me enfrentar. Peguei o cinto e dei-lhe uma grande surra. No outro dia, ela desapareceu. Mais tarde, fiquei sabendo que ela é uma das prostitutas da cidade. A vergonha e o ódio são grandes. Pensei em matá-la, mas não tive coragem. – relatou o Coronel Vidal, com o coração estraçalhado. - Depois do erro, não adianta lamentar. Agora é preciso que o Coronel se perdoe, depois peça perdão a Deus e que Ele lhe dê uma segunda chance. – afirmou Mané. - Jamais irei fazer isso. E sou o Coronel Vidal! – disse o Coronel, mostrando os últimos resquícios de prepotência. - Todos nós somos filhos de Deus, tanto o negro que você mandou matar, que era o grande amor da filha que você jogou na perdição, como o seu neto, filho do negro e da tua filha, que você também mandou matar. – exemplificou Mané. Na medida em que a conversa ia avançando, o Coronel Vidal ia demonstrando que tinha algo de bom no fundo do coração. - Sabe, Mané, eu tenho outros segredos. Já que estamos conversando, vou contar outra coisa horrível que fiz e que até hoje me arrependo profundamente. Eu estou com 60 anos e tinha outro irmão, que se chamava Paulo José, e acredito que deve ter hoje 45 a 50 anos. O meu pai faleceu e colocou a maioria dos bens em nome dele e pouca coisa em meu nome. Não aceitei o testamento. Falei com Miguel, meu capanga, e ele montou uma emboscada para assassinar meu irmão e com isso toda a herança iria ficar para mim. Certa noite, quando Paulo José vinha da igreja, Miguel se aproximou dele para disparar o revólver e não conseguiu. Segundo me disse, um clarão apareceu na sua frente, fazendo com que os seus olhos fechassem de repente. Depois do episódio, nunca mais vi Paulo José, a não ser nos sonhos, onde aparece sorrindo, dizendo que me perdoa. - E você, não tentou encontrá-lo? – perguntou Mané. - Eu não teria coragem. A consciência pesa. – respondeu o Coronel. - Mesmo assim, você continua praticando erros, sem nunca mudar. Acredito que você ainda tem tempo para rever a filha e procurar o teu irmão. – mostrou Mané. - A minha filha vive na prostituição. Deve ter muita raiva de mim. Depois, não levaria ela para morar comigo. – ponderou o Coronel, já com o coração mais leve. - Impossível não é, desde que você os procure e peça perdão. – disse Mané. - Você vai me ajudar a resolver essa questão? – perguntou o Coronel Vidal. - Não sei. Preciso pensar, por que afinal, quem sou eu, para servir de ponte entre você e a sua filha? - Converse primeiro com o Padre José. Ele é uma pessoa boa. – assinalou Mané. - Engraçado, Mané, parece que conheço o Padre há muito tempo. Às vezes fico pensando e algumas imagens aparecem. Talvez seja a minha consciência que esteja reagindo. – revelou o Coronel Vidal, perdido no tempo. - Então, quem sabe não seja a oportunidade de aprofundar o conhecimento, ou até mesmo descobrir essas impressões? – revelou Mané. - Tenho medo e vergonha, fiz ameaças a ele. – lembrou o Coronel Vidal. - Não se preocupe, Coronel, quando a gente tem boa vontade para resolver algum problema que aflija a alma, os anjos ajudam. – disse Mané, mostrando ao Coronel que tudo é possível no reencontro das almas. Na simplicidade em que vivia Mané, de repente se via diante de uma situação de profundo conflito familiar. Numa conversa franca com o Coronel Vidal, mostrou da importância da conciliação e do perdão. Já o Coronel, após esse diálogo, sentiu no fundo do coração, que o caboclo Mané tinha razão e era o momento de procurar o Padre e sua amada filha. Não podia adiar mais, precisava ir ao encontro do Padre, e foi o que ele fez. - Boa tarde, Padre. Como vai o Senhor? – cumprimentou o Coronel. - Boa tarde, Coronel! Eu não tenho boas notícias para o senhor. – respondeu o Padre. - Padre, eu vim em paz, preciso pedir perdão. Desde que o Senhor veio para esta paróquia, sempre o ameacei. Eu não sei qual o motivo do ódio. Depois de uma conversa com o caboclo Mané, minha visão da vida mudou radicalmente. – revelou o coronel Vidal. - Coronel Vidal, fico profundamente feliz com a sua vinda. Sempre esperei por esse momento. – revelou o Padre, com lágrimas nos olhos. - Por que sempre esperou por esse momento? – perguntou o Coronel, bastante surpreso. - Coronel Vidal, eu uso barba desde que entrei no Seminário. Há muito tempo que perdoei você. Na verdade, eu sou o teu irmão Paulo José, que um dia você mandou matar. Naquele dia que o capanga Miguel fez a emboscada, estava indo à tua casa, para informar que estava liberando a herança para você. Eu fiz opção pelo caminho de Deus. Não preciso de riqueza. Mas você se adiantou e tentou me assassinar. Depois daquele dia, fui embora para nunca mais voltar. Nas noites de lua cheia e o céu estrelado, quando colocava a cabeça no travesseiro para dormir, pedia a Deus que cuidasse de você, meu amado irmão. Eu estou te perdoando. Agora temos uma família. Falta mais uma coisa que precisamos resolver, para que tudo seja realmente divino. – revelou o padre José. O Coronel Vidal, não suportando a emoção, caiu de joelhos. Ali, no chão, pediu perdão a Deus e ao seu irmão. A vida dá suas voltas e o Pai Eterno conhece o momento dos reencontros de almas, que num passado se desviaram do amor. É a plenitude da paz, do amor e do perdão, que Deus promove aos seus filhos. - Por favor, meu irmão, me perdoe! O que devo fazer para que você me perdoe? – indagou o coronel Vidal, de joelhos no chão e chorando como criança. - Vamos juntos resgatar Justine da vida que leva. Vamos trazê-la para junto de nós. Assim, estaremos montando uma família, que um dia foi destruída pelo orgulho e pela ganância. - concluiu o Padre José. - É isso que mais quero nesse momento. Preciso do amor de Justine. A minha filha amada, que ainda me lembro de quando ela era pequena quando sentava no meu colo, ficava olhando a boiada passar e nos domingos à tarde saíamos para passear nos campos. Tenho imensa saudade daquele tempo. Sabe, meu irmão, lembro também dos dias que brincávamos nos riachos das nossas terras. – disse o coronel Vidal, que naquele momento, parecia outra pessoa, com a alma mais leve e feliz. A vida na prostituição, no tempo dos coronéis, era profundamente cruel. Justine ainda mantinha a beleza de uma mulher nova e com cabelos loiros, pele branca, olhos verdes, voz suave; era a predileta dos homens ricos do interior. Desde que veio para a prostituição, guardava na alma a mágoa pelo que o Coronel Vidal, seu pai, havia feito. Ainda mais que matou seu amor e seu filho... Nunca iria perdoá-lo pelo que fez, desgraçando a sua vida. O sol ainda não tinha ido embora, a noite já jogava os raios de escuridão, Justine estava se preparando para mais uma noitada. De repente, ouviu duas batidas na porta do seu quarto. Abriu a porta para dar uma bronca, pois não estava na hora de trabalhar. - O que vocês querem aqui? Saiam da minha frente. Não quero ver aquele que desgraçou a minha vida. – determinou Justine com raiva. - Justine, minha amada filha, eu vim até aqui para pedir o teu perdão. Não vou embora sem que você me perdoe. – afirmou o Coronel Vidal. - Jamais darei o meu perdão. E você, padre, outro que odeio. Proibiu-me de assistir à missa, obedecendo às ordens desse assassino. Saiam os dois, ou chamarei os donos dessa casa maldita. – esbravejou Justine, com profunda revolta. Enquanto acontecia o áspero diálogo entre pai e filha, Mané caminhava na direção do quarto de Justine. Com sua energia de paz, se aproximou e disse: - Justine, como vai você? – cumprimentou Mané. - Agora estou bem, Mané, com a tua chegada. Estou tentando mandar embora esses dois canalhas do meu quarto. - Escute Justine. Você tem toda a razão do mundo para sentir e pensar assim do teu pai. Ele foi conversar comigo, para que eu intercedesse junto ao Padre, para proibir a presença das mulheres da vida na missa. Depois de uma longa conversa, mostrei a ele a necessidade do perdão entre vocês. Ele procurou o Padre José para pedir perdão, pois, na verdade, Justine, o Padre é irmão do teu pai e, portanto, teu tio. Eu sei que você tem um coração bom e vai aceitar o perdão do teu pai. Justine, aos poucos foi mudando a fisionomia. Estava cansada da vida que levava, sendo explorada de todas as maneiras. Sempre, antes de dormir, pedia ajuda aos céus para que ajudasse a mudar a sua vida. O seu amigo Mané sempre falou da importância da reconciliação entre os inimigos. De repente, abaixou a cabeça e disse: - Mané, meu amigo, eu me lembro da nossa conversa no natal passado. Você veio me procurar e nós dois fizemos uma linda ceia, onde trocamos um monte de conversa. Foi o natal mais lindo da minha vida. Você disse que um dia o meu pai iria me procurar para pedir perdão. – revelou Justine, mais calma, já com o coração mais aliviado. - Então, minha amiga, ouça esse caboclo simples. Abrace o teu pai e o teu tio. Construam uma linda família, onde o Pai Eterno se faça presente em todos os momentos. – conclamou Mané, com brilho nos olhos. Ali, na presença de energia do universo, pai, filha e tio se abraçaram longamente e deram adeus ao ódio, à vingança e à intolerância. Justine, a partir daquela noite, não mais dormiu na boate, foi dormir na sua casa, no mesmo quarto onde vivia. O padre José foi transferido para outra paróquia, e nos natais vem ao encontro de Justine e do coronel Vidal. Mané continuou sua vida simples, cuidando do campo de girassóis, até que numa noite de uma linda primavera, foi morar na eternidade, deixando muita saudade aos que conviveram com ele. Muita coisa mudou na vida dessas pessoas. O tempo passou, muitas noites esconderam o sol, expondo a lua. O coronel Vidal morreu num domingo de chuva, deixando a riqueza para Justine administrar. Lá, no outro lado do tempo, Mané esperava pelo Coronel, para fazer-lhe uma grande revelação. Em algum lugar do passado, o Coronel foi seu filho, que num momento de raiva, tirou-lhe a vida. A motivação foi riqueza, terra e dinheiro. Depois de ter assassinado o pai, matou também, sem piedade, a sua mãe, que nesta vida era a própria Justine. Mané veio para mostrar ao coronel Vidal, que tudo passa e que é fundamental o perdão e a reconciliação. Assim, o crescimento espiritual acontece, mesmo que sejamos cruéis e descrentes. No emaranhado das vidas, temos muitas coisas em comum e nada é por acaso. Hoje, pai, mãe, irmão, irmã, em outras existências com roupagens diferentes, mas sempre o mesmo espirito. Pela Bondade Divina, temos oportunidades de seguir em frente, amando e sendo amados, perdoando e sendo perdoados. São os laços existenciais determinando os destinos das almas.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Lágrimas do Céu

O céu está triste.../E o coração do Poeta aperta cada vez mais.../As nuvens da beleza não escurecem mais a terra onde mora os lindos amores.../No final da longa estrada dois corações se despedem.../Um dia irão se encontrar/Até lá, as lágrimas do céu cairão para refrescar a imensa saudade dos amantes.../Os anjos tocarão lindas melodias para acalmar os corações dos apaixonados.../Não lamente a despedida.../Porque o amor nunca morre...ele é eterno.../Jamais esquecerei o sabor dos teus beijos.../Se viajar antes de mim...me espere na estação da eternidade...

NÃO VOU ADORMECER SEM DEGUSTAR OS MEUS SONHOS

Ninguém prende um pensamento. Ninguém aprisiona uma alma ou um coração. O amor é livre e o gostar caminha junto com a liberdade. O desejo ...