segunda-feira, 30 de maio de 2016

HUMILDE RETORNO

O dia não tinha/ Ainda amanhecido/ As estrelas estavam com preguiça/ De adormecer/ Para dar lugar ao Sol/ Que por sua vez/ Vinha informando/ Que o dia seria muito bonito/ Com imensa claridade/ Na terra de chão batido/ As galinhas com sua cantoria/ Anunciavam que estava na hora/ De receber mais um/ Quinhão de ração.../ Tudo no sertão/ Tinha aquele jeitão/ De começar/ Tudo bem cedinho.../ Minha vida/ Simples e humilde/ Não conhecia/ Nada além da porteira/ Da minha terra/ Que não era muita coisa.../ Depois de tratar os meus/ Irmãozinhos que nós chamamos/ De animais.../ Peguei a minha viola/ Sentei num banquinho/ Na varanda da minha casinha/ De madeira de cedro/ Construída há mais de cinquenta anos/ Recebendo os raios do sol/ No rosto cansado de uma vida rude/ Comecei a chacoalhar as cordas/ Do meu violão/ Enquanto a moda saía/ Lá de cima/ Da montanha/ Vi dois vultos/ Aproximando-se/ Quanto mais a viola gritava/ Mais fui percebendo/ Que os vultos que vinham/ Eram os meus pais/ Que por muito tempo/ Daqui foram embora/ Quando ainda eu era um menino/ Com passos cansados/ Vinham/ Para pedir perdão/ Dos erros do passado/ No meu pensamento/ Eles nunca erraram/ Porque acreditaram no/ Sonho da cidade grande/ Na época fiquei quieto/ Deixei que eles fossem/ Se aventurar nesse mundão afora/ Fiquei na terra/ Cuidando.../ Com fé no criador/ Tudo cresceu/ Multiplicou/ Os filhos vieram/ Também foram embora/ A minha companheira/ Foi na conversa de um violeiro.../ Hoje.../ Aos poucos estão voltando/ Para meu aconchego/ Pois conheço a vida/ Enquanto eles foram/ Para as aventuras da vida/ Eu cuidei da minha amada terra/ Que nunca me negou/ Os frutos que me sustentam.../

PERPÉTUOS MOMENTOS

Ontem quando a chuva caía/ Lentamente na terra ainda úmida/ Meus pensamentos aproveitaram/ O silencioso momento.../ Foram nas filmagens do outono/ De um tempo que não retorna jamais.../ As cores eram tão vivas/ Que não conseguia ver claramente/ Se eram reais/ Ou fictícias.../ Ou talvez a força da minha/ Leveza emocional.../ Os outonos sempre foram cativantes/ Nos meus dias de outrora/ Naquela tarde/ De um preguiçoso sábado/ Quando não sabia.../ Dormia.../ Ou saía.../ Vi você chegando/ Subindo a longa escada/ Da minha casa/ Pronta para sair/ Ou ficar/ Curtindo nossos ardentes desejos/ Ficamos um tempo/ Olhando-nos/ Bem dentro/ De nossos olhos/ Captando os reais motivos/ Do nosso embevecido encontro/ Enquanto a chuva fina caia/ Caímos no nosso leito de amor/ Entre ruídos carnais/ Orgasmos lentos e penetrantes/ O tempo lento/ Andou.../ Não vimos a tarde chegar/ Quando nos demos conta/ A claridade da lua cheia/ Veio nos lembrar/ Que estava na hora/ De persistir com as emoções/ Em outro canto/ Seguir os rastros da dança/ Que iria madrugada adentro.../ Tudo aconteceu/ Na lentidão apaixonante/ Agora.../ Depois de rever o filme/ Das minhas saudades/ Olho para fora/ Em vez da chuva fina/ O sol informa/ Que o tempo ainda não passou/ Ainda é dia/ Mas logo/ A noite vai chegar/ Talvez possa/ Encontrá-la/ Para assistirmos juntos/ Ao filme dos nossos/ Memoráveis encontros.../

quinta-feira, 26 de maio de 2016

AS DIFERENÇAS

Por mais velho ou lento/ Que seja um rio/ Um dia vai encontrar/ O caminho que sempre sonhou/ Durante o trajeto/ Enfrentou obstáculos/ Pedras e buracos/ Esses desafios/ Transformou em cachoeiras/ Corredeiras.../ Nunca desanimou/ Para descansar da luta/ Transformou-se em represa/ Para depois seguir o trajeto/ Não perdeu a paciência/ Com os ataques que recebeu/ Em algum momento/ Chegou a pensar que iria/ Definhar ou mesmo secar/ Perante a intensidade da/ Falta de chuva/ Acreditou que um dia/ A chuva cairia do céu/ A vida é igual a um rio/ Chega um momento/ Em que perdemos o encanto/ Pelas pessoas/ Cansamos de acreditar que/ As coisas pudessem mudar/ Mas não mudam/ A diferença entre nós e o rio/ É que o rio tem mais paciência/ Confia e acredita/ Sabe esperar pela mudança/ Nós somos imediatistas/ Talvez porque tenhamos somente/ Uma vida.../ Enquanto que o rio/ Vive milhares de anos/ Quando cansa de uma paisagem/ Cria outra.../ Recomeça outro caminho/ Nós temos o tempo/ Que é implacável/ De jovens sadios e fortes/ Transformamo-nos em/ Velhos doentes e fracos/ Quando se sente sozinho/ O rio conversa com a/ Terra e a floresta/ Trocam informações/ Nós somos solitários/ Vivemos tristes/ Doentes da cabeça/ E da alma/ Cansados da vida/ Adoecemos fisicamente/ Ficamos reclusos/ À espera do final/ Já o rio/ Ah! O rio tem uma linda saída/ Depois de viajar longo caminho/ Entrega-se aos braços/ Do oceano/ Que o leva/ Para viajar pelo mundo/ Sem pagar passagem/ Conhece outras paragens/ Outras paisagens.../

DIVAGAÇÕES DE UM VIAJANTE

Às vezes sinto/ Que sou um viajante/ Não carrego malas/ Nem dinheiro/ Ando pelas estrelas/ Pelas estradas/ Prefiro caminhar pela noite/ Na companhia de seres silenciosos/ Percebo que na Terra/ Tenho prazo de validade/ De tão inexpressivo/ Que chego a ser descartável/ Viro pó/ Numa cova/ Sendo alimento/ Para os vermes da terra.../ Ou queimado/ Num crematório/ Dessa maneira/ Sou eterno aprendiz/ Por isso gosto da liberdade/ Vivo este minuto/ Porque sinto no meu ser.../ As sensações do/ Amor e da paixão/ São coisas temporárias/ Como brasa forte/ Que chega a queimar/ Depois de tudo/ Transformam-se em cinzas/ Que o vento se/ Encarrega de levar/ Para bem longe.../ Percebo ainda/ Que não adianta/ Ficar preocupado/ Com o inusitado/ Independe de mim/ Posso até fazer/ Um mapa com o trajeto/ No meio do caminho/ Tudo muda/ É melhor fazer da vida/ Uma viagem/ Vou para o mesmo lugar/ Que os outros vão/ Só não quero/ Ficar preso numa cama/ Sem movimentos/ Morrendo de dor/ Esperando que a dor/ Mate-me de uma vez.../

O UIVO DA FLORESTA

Ouço o grito dolorido/ Que vem do cafundó/ É o gemido da floresta/ Avisando que resta/ Pouca coisa.../ O restante tem que ser/ Semente/ Para uma nova floresta/ Que ninguém conteste/ Para que o desmatamento cesse/ O homem do mato luta/ Planta e pesca/ O que ainda resta/ Dos rios e florestas/ Sabe que a briga/ Não será inglória/ Que a glória/ Está por vir O homem pode até crescer/ Mas não poderá esquecer/ Que a natureza precisa/ E deverá ter/ O cuidado para permanecer/ Intocável/ Com as raízes inesgotáveis/ Vertentes repletas de árvores/ Centenárias.../ Ele necessita compreender/ Que não vai sobreviver/ Sem que a natureza viva/ Eternamente oferecendo/ O necessário/ Para a sua sobrevivência.../

segunda-feira, 23 de maio de 2016

A VOZ QUE VEM DO CAMPO

Quando o dia amanhece/ E o sol resplandece// No alto da montanha/ Meu coração aperta de saudade/ Lembro do tempo que morava/ No meio de gente cabocla/ Pessoas pobres/ Bonitas e limpas.../ Ouvindo o cantar do galo/ Avisando que um novo dia/ Ia chegar.../ Lá no mato/ Ao lado das plantas/ Das mandiocas e das batatas doces/ Das galinhas poedeiras/ Das vacas leiteiras e/ Dos carros de boi.../ Perto dos rios e cachoeiras/ De águas cristalinas/ A vida demorava bastante/ Para passar/ Tudo era mágico/ Nada era trágico/ Existia qualidade de vida/ Vida que na cidade/ Com o progresso desenfreado/ A solidão é grande/ Mesmo no meio da multidão/ Ninguém conversa/ Todos interligados com/ Aparelhos frios/ Vivem na imaginação/ Da internet.../ Que os remetem/ A mundos distantes/ Da generosidade e da amizade/ Ainda guardo na memória/ A época em que vivia no campo/ A conversa acontecia/ Enaltecia-se o carinho/ O calor humano/ Coisa que na cidade/ A desumanidade não tem idade/ Pela idade/ Que tenho/ Conheci as duas etapas/ A do campo/ Simples e amoroso/ E a da cidade e do progresso/ Com pessoas despreocupadas/ Com o capricho e a limpeza/ Porque tudo faz parte da modernidade/ Onde faltam simples gestos/ Que torna as pessoas mais amáveis/ Tudo isso passa pela minha cabeça/ Quando o dia amanhece/ Tenho que enfrentar a modernidade/ Fazendo com que o gosto pela vida/ Fique mais amargo/ Frio e desumano/

TERRA CABOCLA

Terra...!/ Elemento essencial/ Imparcial/ Alimenta a todos/ Vê nascer/ Crescer/ Envelhecer/ Morrer/ Terra...!/ Tem várias corres/ A da minha terra natal/ É vermelha/ Cor da paixão/ E do sangue/ Essenciais/ Para uma vida/ Terra...!/ Não vivo sem você/ Amo-te tanto/ Que quando morrer/ Quero ser consumido por você.../ Porque vim de você/ Terra...!/ Nunca me deixe sozinho/ Sou carente pelo teu cheiro/ Pelas tuas formas sensuais/ Que muitas vezes/ Reflete o corpo da mulher amada.../ Terra...!/ Nunca morra/ Perdoa aqueles que te/ Menosprezam/ Eles não sabem/ Ou não querem valorizar/ A mãe da vida/ A mãe de todos/ Os elementos orgânicos e/ Inorgânicos que vivem do/ Teu seio.../ Terra...!/ Cabocla/ Cortada pela enxada/ Para plantar a semente/ Que um dia vai alimentar/ O teu filho/ Chamado de homem...!/ Terra...!/ Da costa do rio/ Da beira do mar/ Alegra-me ver você/ Abraçar as águas/ Tanto doces/ Quanto salgadas.../ Terra...!/ Até os pássaros/ Alimentam-se de você/ Colhem as sementes jogadas no chão/ Cantam ao nascer do dia/ Enaltecem o teu valor/ Nas noites estreladas/ A lua faz de você/ O maior espelho do mundo/ Refletindo as belezas da natureza.../

domingo, 22 de maio de 2016

A TUA CARTA

A carta é uma vida/ É uma orquestra/ Dirigida por nós/ Somos os maestros de/ Nossas atitudes.../ É parte de um momento/ É escrita para ser registro/ Endereçada a alguém/ Ou guardada como diário secreto.../ É responsável pela emoção/ De um tempo registrado/ Ontem lembrei de uma carta/ Que desapareceu do arquivo/ Mas arquivada na memória/ Não era muito grande/ Poucas linhas/ Profunda e sincera/ Recebi e não li/ Achei sem importância/ Não acreditava na pessoa/ Que a havia enviado/ Depois de algumas semanas/ Resolvi ler/ As primeiras palavras/ Eram proféticas/ Céticas para mim/ Fedidas/ Porque relatava coisas feias/ Que aconteceram.../ Dobrei e a guardei novamente/ Não dei nenhum valor/ Ela desapareceu/ Mas as suas palavras/ Continuam martelando/ Em minha cabeça/ De um certo tempo para cá/ O que ela profetizou/ Vem acontecendo/ Desconcertando e até/ Desconstruindo o que/ Achava que era certo/ Interessante que a autora da/ Carta até gostava de mim/ Mostrou-me um caminho/ Que não acreditei/ Desacreditei numa verdade/ Talvez porque tivesse medo/ De encarar a realidade.../

sexta-feira, 20 de maio de 2016

PROVA DA COSTA DA SERRA

Meia maratona/ Da Costa da Serra/ Desafio para os abençoados/ Filhos de Deus/ Natureza presente/ Presente do Pai Eterno/ Onde senti a presença/ Do Arquiteto do Universo/ Em todo o trajeto/ Corri acompanhado/ Pelas divindades do céu/ Emoção profunda/ Fiz a prova chorando/ Agradeci pela vitória/ Um terceiro lugar/ Que vai ficar na história/ Cada obstáculo vencido/ Era como/ Um poema entoado/ Incentivando a/ Continuar a luta/ Prova sofrida/ Vinte e um quilômetros/ Entre rios/ Riachos/ Florestas/ Centenas de atletas/ Todos imbuídos/ De vencer todos os tropeços/ Alegria no coração/ Fé na criação/ Certeza que sou/ Dileto do Criador/ Saúde perfeita/ Aos sessenta anos/ Expresso com emoção/ A minha gratidão/ Pela oportunidade que Ele/ Está me oferecendo.../ Obrigado e obrigado...!/

DOS FRACOS COLHE-SE A COVARDIA/ DOS FORTES A GALHARDIA...

Corre menino do rio/ Na estrada estreita/ E pedregosa.../ Se você tem fé/ Transforma os obstáculos/ Da corrida em/ Estrada repleta de rosas.../ A estrada da vida/ É tua.../ A luta é tua/ O Mestre te acena/ Acompanha você nos/ Momentos mais difíceis/ Das corridas/ Ele é o amigo fiel/ E protetor das tuas provas/ Corre que ele te chama/ Na reta final/ Terá a vitória/ Ele entregará a medalha para você/ No deserto/ Nas trilhas/ No asfalto/ Ele será o vento forte/ Que vai empurrar você/ Ao final.../ Das provas mais/ Longas e difíceis/ Ele é um facho de luz/ Que está dentro de você/ Poeta iluminado/ Corredor abençoado/ Veio para a Terra/ Para ser exemplo/ De luta e superação/ Não tenha medo da dor/ Porque ela é temporária/ Lá na frente/ Vai colher os frutos/ Da linda vida/ Que está levando.../ Quando vejo você correr/ A minha alegria enche/ O meu coração/ A emoção é grande/ Quem diria/ Que um dia/ Você seria/ Esse guerreiro renhido/ Destemido/ Amado pelos/ Guerreiros do além/ Vai menino do rio/ Termina a prova com/ Muito brio.../ Porque dos fracos/ Colhe-se a covardia/ Dos fortes a galhardia...!/

quarta-feira, 18 de maio de 2016

VERDADE SOTERRADA

O velho portão se abriu. Ouvi um rangido meio perdido. Fazia tempo que o portão permanecia assim, parado. Desde àquele tenebroso inverno, ninguém mais o abriu. Quantas vezes ele fora aberto para deixar adentrar as mais diversas pessoas. Olhei para o lado, observei o local, não pretendia entrar. Tudo estava quieto, somente um suave vento mexia os galhos das árvores que circundavam a casa. Fiquei ali por muito tempo. Imagens apareciam e desapareciam com o balançar dos galhos. Cenas que aconteceram naquele local estavam presentes em cada metro quadrado da casa. Queria saber de tudo, nada escaparia da minha observação. Seria necessário que assim fosse, pois muita mentira foi dita e a verdade ficou escondida, ou colocada em segundo plano. Eu sabia que havia pessoas que não gostariam que a sujeira que estava embaixo do tapete fosse retirada e mostrada. Tinha vindo de longe para averiguar e escrever sobre os acontecimentos daquele tempo, que permaneciam soterrados à espera de serem levados para a luz do dia. A poeira tomava conta do local. Teias de aranha dificultavam a minha entrada, mas, com determinação e coragem, fui entrando. Não nego que o medo se fazia presente. A casa continuava a mesma, só mais velha e descuidada. Acho que já passa de 40 anos, desde o violento assassinato. A polícia esteve no local para fazer a perícia e depois nunca mais apareceu. Não fez uma diligência adequada, pois queria esconder os verdadeiros assassinos. Tudo era carta marcada para dar satisfação à sociedade. Foi usado um pobre coitado para ser o responsável pela tragédia. Tinha certas coisas que aconteceram na vida das pessoas que mudaram a realidade daquela comunidade para sempre. E essa mudança foi perfeitamente visível. As almas das pessoas que viveram ali caminhavam pela noite, nos aposentos da casa. Algumas delas ainda guardavam os acontecimentos. Gritavam por vingança, queriam ver os assassinos mortos ou condenados pela justiça. Outras preferiam apenas esquecer, deixar que o tempo cicatrizasse as feridas. Esse turbilhão de energia aproximava-se de mim querendo contar os detalhes. Eram os fantasmas que estavam vindo do além, para lutar pela verdade que fora jogada no lixo. Estavam vendo em mim a oportunidade de contar as suas histórias para o mundo. O que mais me emocionou foi ouvir o choro de uma criança pedindo ajuda aos pais. Nesse ambiente triste, era possível também ouvir uma música melancólica que vinha de muito longe. O casarão tinha se tornado um local sinistro, assim como as terras da família Almeida. Sentei num velho banco na varanda. Ali consegui perceber e imaginar como era o casarão nos tempos dos Almeida. Vozes chegavam a mim, angustiadas e tristes, mas ansiosas para relatar todos os detalhes do que aconteceu. Queriam informar que o velho Francisco não era o verdadeiro assassino. Os bandidos tomaram as terras dos Almeida e venderam para os americanos, os maiores interessados. No local foi criada uma mina de cobre, destruindo totalmente a natureza, à revelia dos mais sagrados direitos das pessoas e das leis. Eu era apenas um repórter procurando assunto para escrever uma grande reportagem. Há mais de dois meses que investigava o crime que desencadeou a construção da mina. Ao ler o processo, percebi que inúmeras falhas de instrução aconteceram. O pescador Francisco foi acusado de um crime que na realidade não cometeu. Foram outras pessoas, os verdadeiros assassinos da família, proprietária das ricas terras de cobre. Enquanto conversava com o meu subconsciente, observei que vinha na minha direção um vulto de uma pessoa. Era um senhor com passos tranquilos. Ele parou na minha frente, e disse-me: - Bom tarde, moço! O que faz aqui na casa assombrada dos Almeida? – perguntou, com ar de curiosidade. - Estou aqui para tentar escrever uma história. – respondi. - Que história? – voltou a perguntar. - Sobre o assassinato da família Almeida. – revelei. - É a primeira vez que alguém se interessa pelos fatos que aconteceram há tanto tempo. – informou, com desconfiança. - Estou interessado, mas preciso que alguém que viveu naquela época me conte os detalhes, que fale a verdade sobre a tragédia. – assinalei. - Se o moço concordar, eu conto tudo, desde que me prometa que vai publicar nos grandes jornais da capital. – sentenciou. Liguei o gravador e convidei aquele Senhor para falar o que sabia. Ele sentou-se ao meu lado e, com ar de grande conhecedor do local e da comunidade, iniciou a conversa. O dia estava ajudando, com um lindo sol. No céu, os pássaros sobrevoavam a região, demonstrando total simpatia pelo que estava para acontecer. - Eu me chamo Gumercindo dos Anjos. Moro aqui há mais de 60 anos. Trabalhei nessa casa, que pertencia à família Almeida. Eles eram proprietários de 100 mil hectares de terras, as mais ricas do Estado. Gostava muito deles, principalmente do Pedro. Homem bom e generoso. Casou-se cedo, com Ermida, e teve dois filhos. Eram herdeiros dessas terras e jamais queriam vender. Essas terras vieram da época do Império, como doação do Imperador ao Duque Almeida. Desde àquele tempo, os descendentes do Duque preservaram totalmente a herança. Na época, técnicos do governo estiveram na propriedade para analisar a possibilidade de encontrar cobre. Eles sabiam que no passado o Duque chegou a explorar ouro, mas com o decorrer do tempo o valioso metal exauriu-se. Dos estudos que fizeram, chegaram à conclusão de que embaixo da terra existia uma rica e grande mina. Mas, para isso se tornar realidade, precisaria construir uma barragem, para limpar os resíduos do minério, o que causaria um profundo impacto na vegetação do local, pois seria totalmente destruída. - O que o Pedro disse sobre a possibilidade de ficar rico com a venda das terras? – perguntei - profundamente interessado no desenrolar da história. - Pedro era um homem muito ligado à natureza. Ficou furioso com a possibilidade de transformar as suas terras em uma imensa área morta. Isso porque, com a mina de cobre, as florestas, os lagos, os rios, as cachoeiras e as mais diversas vegetações desapareceriam para sempre. Dinheiro algum valeria a pena. Ele foi muito duro com os interessados na compra das suas terras; até mesmo o governo veio procurá-lo, mas não adiantou. - E o que aconteceu depois? – perguntei, com certa ansiedade. - Na capital tinha três advogados que viajaram muitas vezes para conversar com Pedro, e em todas as vezes receberam um não. Eu testemunhei algumas conversas. Os últimos encontros foram de ameaças a Pedro. Ainda lembro do dia em que os advogados vieram acompanhados de dois estranhos e ficaram hospedados no hotel do Mário, na cidade, por um mês. Até fizeram uma última tentativa de compra das terras, mas não obtiveram êxito. - Você participou dessa reunião? – questionei. - Eu era como irmão do Pedro. Conversávamos muito. Ele tinha uma visão maravilhosa sobre a natureza. Respeitava e demonstrava muito carinho pelos rios, pelos oceanos, pelas florestas e pelas terras. Não queria ver a sua propriedade transformada num imenso deserto árido. - E onde entra o Gumercindo nessa história? – quis saber, para poder entender melhor a narrativa. - Quando os compradores tiveram a certeza de que não iriam comprar as terras, para depois serem revendidas aos americanos, resolveram armar uma emboscada. Lembro-me como se fosse hoje. Chovia muito na região. A família dos Almeida estava comemorando o aniversário do primeiro ano de vida da Maria, filha caçula do Pedro. Já passava da meia noite, quando, cinco homens encapuzados entraram no Casarão. A primeira coisa que fizeram foi prender todos os membros da família. Sem dizer nada, amarraram todos num pé de cedro, que ficava às margens do riacho que desce da montanha. Eu acompanhei tudo. Fiquei escondido nos arbustos, sem que ninguém me visse. Foi coisa horrível! Todos foram mortos a golpe de facão. Depois queimaram os corpos. Nada restou. - E a polícia, o que fez? – voltei a perguntar, emocionado com os detalhes do crime. - Foram comprados. Receberam muito dinheiro para encobrir a tragédia. Em seguida, foram à casa do Gumercindo, para plantar algumas provas, com a intenção de incriminá-lo. O coitado do homem ficou preso por mais de 30 anos. Saiu da cadeia para morar no cemitério. As terras foram tomadas, inventaram uma falsa compra, e ninguém questionou. Ficou somente esse casarão, abandonado, que serve como residência para morcegos e aranhas. Depois de dois meses, os americanos chegaram e transformaram toda a paisagem. É só olhar ao redor, para observar o que restou. É triste, mas tudo foi feito com o aval do Governo Federal, que recebeu propina da multinacional. Vários políticos ficaram ricos e até hoje recebem mesadas da mineradora. Ninguém ousou levantar a voz em defesa da família dos Almeida, até mesmo os parentes, que moravam na capital, nada fizeram. Dizem que receberam grandes fortunas, em troca do silêncio. Depois do relato, o meu coração ficou amargurado. Minha alma estremeceu em saber que nada foi feito. Imaginei quantas histórias iguais a essa ainda permanecem soterradas no submundo do Poder. E quantos políticos vivem à sombra da corrupção, sem que ninguém revele. Assim, fiquei obrigado, moralmente, a escrever tudo e lutar pela publicação da história. Já era noite, quando entrei no hotel para tomar meu banho. Ouvi a voz de um homem, que dizia que a verdade, por mais que esteja soterrada, um dia, a Justiça Divina se encarrega de trazê-la à luz, cavando o aterro fétido, criado pela ganância e pela hipocrisia, travestido de progresso. Passei mais alguns dias coletando informações sobre o episódio. Escrevi a reportagem, que foi publicada num jornal de grande circulação nacional. Foi uma bomba. O caso foi reaberto. Alguns políticos foram presos e obrigados a devolver parte da riqueza adquirida ilicitamente. A mina acabou sendo fechada, baseado no novo código florestal. Os verdadeiros assassinos foram presos e julgados. Como já eram idosos, suas penas foram brandas. Na realidade, dos cincos bandidos, somente dois foram presos. O terceiro já tinha morrido, foi assassinado em decorrência de disputas de terras no Maranhão. Os outros dois, foram considerados inocentes. Depois de cinco anos da reportagem, as terras da família Almeida foram devolvidas para um irmão de Pedro, que vivia no exterior.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

HORAS MORTAS

Tudo tem um momento/ O de nascer e o de morrer/ Tem hora certa para abrir/ A porta de um sentimento/ Também tem a hora/ Certa de sair caminhando/ Deixando tudo de lado/ Em companhia das/ Horas mortas da/ Aurora da madrugada.../ Tudo tem uma hora/ Para um vibrante e/ Inesquecível instante/ De começar/ E depois/ Terminar.../ Mesmo que corte fundo/ A porta do nosso coração.../ Tudo na vida/ Tem um momento programado/ Nada é injusto/ Tudo está certo/ Nada é por acaso/ Tudo são oportunidades/ De amar/ De ser amado/ Assim como/ Ser odiado.../ Muitas lágrimas são derramadas/ No silêncio do segredo/ E na masmorra da solidão.../ Muitos rastros são apagados/ Com o vento da despedida/ E do inevitável esquecimento.../ Não somos donos/ Do que imaginamos que somos/ Somos apenas passageiros/ Com passagem/ Ainda não comprada/ Por nós.../ O remorso é um punhal/ Que nas tocaias da vida/ Fere-nos mortalmente/ Deixando-nos à mercê/ Da escuridão vingativa.../ Nesse balaio existencial/ Somos levados rio abaixo/ Dentro de um simples cesto/ Como filhos jogados/ Em corredeiras selvagens/ À disposição do acaso.../ Como passageiros de/ Um trem desgovernado/ A única coisa que nos resta/ É admirar a paisagem/ Que viaja velozmente/ Sem nos dar tempo/ Para sentir no coração/ E na alma/ De qual mundo/ Fazemos parte.../ Essas palavras/ Que rabisquei/ Num momento de exaustão existencial/ Não são letras pessimistas/ Mas uma visão lógica da vida/ Distante da ingenuidade espiritual/ Porque a fatalidade/ É a espada/ Que sobrevoa a nossa cabeça/ Não nos dando/ Nenhuma chance/ De questionar/ Se era a hora certa/ De cortar a nossa/ Ligação com a famigerada Terra.../

sexta-feira, 6 de maio de 2016

ATÉ BREVE...

Ninguém me explicou/ O caminho da despedida/ Mas deixo você ir sem lágrimas/ Vou segurar a emoção/ Talvez jogue fora/ Na calada da noite/ Quando chegar em casa/ Após dançar muito.../ O inverno vai passar/ O frio da saudade vai desaparecer/ As cicatrizes que ficaram/ Ao longo do tempo do nosso amor/ Vão curar-se.../ O tempo é o melhor remédio/ Para todas as dores.../ Inclusive a dor da despedida/ De um grande amor.../ Sigo a minha estrada/ Sorrindo para não chorar/ Feliz porque um dia/ Caminhamos de mãos dadas/ Nos mais diversos recantos da vida.../ Chegamos a pensar que nada nos iria/ Atrapalhar.../ Esqueci que um dia/ Você me ofendeu/ Esqueça também alguma ofensa/ Ninguém sabe o que vai acontecer/ No final dos nossos caminhos/ Podemos nos encontrar/ Conversar sobre o passado/ Falar das novidades/ Projetar o futuro/ Pode ir.../ Pegue carona com o vento/ Seja feliz.../ Somos livres/ Como pássaros/ Para encontrar o que é/ Melhor para cada um de nós.../ Levo comigo as emoções/ Mais lindas que vivemos/ Estou embarcando/ Para viver um novo tempo/ Quando lembrar de mim/ Pense somente coisas boas/ Pois.../ Esteja onde eu estiver/ Farei o mesmo.../

segunda-feira, 2 de maio de 2016

DEVANEIO

Não precisa mostrar mais nada/ Muito menos falar alguma coisa/ Você fez de tudo/ Mostrou quem era/ Não quero prova/ A prova acabou de dar/ Enganou o tempo todo/ Sempre estive com o pé atrás/ Sobre o que dizia.../ Nunca me olhou/ No fundo dos meus olhos/ Preferia olhar para o chão/ Bebemos juntos por muito tempo/ Fomos amigos de bar/ Algumas vezes/ Sob a influência do álcool/ Falou coisas que me levaram/ A ter a compreensão exata das/ Tuas intenções.../ Não adianta querer negar/ O caminho está aberto/ Aproveite a escuridão da noite e/ Desapareça para sempre.../ Leve contigo a ilusão/ Não esqueça de pegar/ As tuas coisas/ Pare no bar da esquina/ De preferência sente na/ Mesa do canto/ Onde nos conhecemos/ Você pensa que engana/ Mas não.../ É apenas uma mulher da noite/ Vive nos bares.../ Trapaça os tolos/ Com falsas promessas.../ Não posso negar/ Você me ensinou algumas lições/ Como se relacionar com as mulheres/ Após fazermos amor/ No relaxamento amoroso/ Você dizia que as/ Mulheres gostam dos cafajestes/ E canalhas.../ Que é preciso ser duro com elas/ Não acreditar nas palavras macias e meigas/ Duvidar das juras de amor/ Nunca se declare/ Não demonstre sentimento/ Não prometa nada/ Fale pouco da vida/ Quanto mais elas souberem/ Mas você ficará em suas mãos.../

NÃO VOU ADORMECER SEM DEGUSTAR OS MEUS SONHOS

Ninguém prende um pensamento. Ninguém aprisiona uma alma ou um coração. O amor é livre e o gostar caminha junto com a liberdade. O desejo ...