domingo, 22 de dezembro de 2013

Os Fecundos Caminhos

Têm noites/ Que a minha alma vagueia/ Como brilhante vagalume/ Às vezes imagino que são sonhos/ Ou viagens que a minha alma/ Realiza para rever os insustentáveis/ Locais que um dia/ Tive a felicidade de viver.../ Imagino que a minha alma/ É igual a sonhos e eternos paraísos/ Locais de plena leveza/ Onde descanso e revejo os/ Anjos que caminham ao meu lado/ Nas tardes que os anos não trazem mais/ Quando o sol teima em não ir embora/ Fico sentado na varanda da minha casa/ Assistindo às imagens que a minha alma/ Traz para acalentar a vida/ Que recebi dos céus como dádiva/ Que devo cuidar/ Como se cuida de um cristal/ Às vezes os meus olhos choram/ Ficam perdidos no horizonte/ Nas profundezas do meu coração/ Onde é possível ver que a minha alma/ Deixou rastros de uma época/ Que teima em transcender os lagos do tempo/ Nos fortes momentos de emoção/ Não sei distinguir um belo sonho/ Onde observo os jardins do céu../ E a minha alma/ Que caminha ao lado/ Da lua cheia em noites/ Repletas de estrelas/ Que viajam pelo firmamento.../ Em pura leveza espiritual/ Na confusão desses maravilhosos instantes/ Me deixo navegar.../ Por águas serenas e cristalinas/ Onde observo peixinhos brincando/ No fundo de um rio caudaloso.../ Nesse estado de embriaguez espiritual/ Que até parece uma profunda magia/ É para mostrar que alguém muito superior/ Criou as belezas fecundas do universo/ Ouço suavemente/ Uma linda melodia/ Que aos poucos/ Acalma os últimos redutos/ Nervosos da minha alma/ Que se curva perante a grandiosidade dos céus.../ Nos lentos suspiros da minha alma/ E na imensidão do tempo/ Deixo que as cicatrizes desapareçam / Do meu caminho.../ Com o olhar/ Ao lado da felicidade/ Vou caminhando/ Sem nenhum peso na consciência/ Porque me curvei/ Pela beleza do perdão/ Porque deixei que fosse embora/ Aquilo que nunca me pertenceu/ Deixei que o ódio/ Se transformasse num grande gesto/ De generosidade/ Fiz do esquecimento uma palavra de ordem/ Limpei o meu coração dos rancores/ Que se parecem/ Como amargos licores/ Que queimam a garganta/ Depois de tudo/ Percebi que sou um lindo sonho/ E uma bela alma/ Um espírito leve/ Sem amarras/ Que não se prende a correntes.../ Como caminhante do universo/ Ajudo aqui e acolá/ Talvez um dia/ Estejamos todos lá/ Na casa da paz celestial/ Onde possamos viver fecundamente/ Com a mente livre de tudo/ (Pelo espírito: Viajante do Universo)

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Casa Simples

Quando viajo pelo interior/ Ando pelas estradas empoeiradas/ Vejo casas simples/ Analiso um mundo que está desaparecendo/ Com o coração apertado/ Sou atropelado por imagens/ Do mundo moderno/ Que esmaga a simplicidade/ Do homem interiorano/ Casa de madeira/ Branca e com janelas verdes/ Ainda retrata um mundo de/ Pura magia humana/ No terreiro galinhas caminham / De um lado para o outro/ Ciscando à procura de alimento/ No fundo um riacho serve/ Para matar a sede dos animais/ Ao lado da casa simples/ Uma fonte de água pura e cristalina/ Abastece o lar do homem/ Que ainda acredita num mundo/ Onde o ser humano possa viver/ Com aquilo que o Patrão do céu/ Disponibiliza aos seus filhos.../ Ainda tem a vaquinha/ Que todos os dias ao amanhecer/ Doa leite/ Ao homem simples e de coração bom/ O porquinho é engordado/ Para a festa de final de ano/ Quando a família se reúne/ Para a chegada do Papai Noel.../ A saudade é profunda por uma época/ Que nunca mais vai voltar/ Tenho vontade de voltar/ Ao tempo de criança/ Quando não conhecia a maldade/ Que para mim/ Todos eram bons de coração/ Mas os anos foram passando/ A ingenuidade foi desaparecendo/ Entre as lágrimas de um menino/ Sem beira nem lar.../ A monstruosidade de um mundo/ Surgiu no lugar.../ De uma época que até parecia ser/ A casa dos nossos sonhos.../ Enquanto ainda existir/ Lugares que reflitam esse mundo/ Irei visitar/ Para que o meu coração/ Volte a ser criança/ Volte a ser a alma que veio ao mundo/ Para crescer/ Evoluir e fazer parte/ De uma terra onde/ Os seres humanos vivam/ Felizes na companhia de seus irmãos.../

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Poema ao Vento

O meu coração é igual uma tenda/ Que não se contenta/ Em viver mergulhado/ Nos recantos da solidão/ Procura bater a porta/ Da dança e do canto/ Onde quer que se encontrem.../ Na sombra dos olhares tristes/ De uma linda morena/ E com um violão na mão/ Mergulho o pensamento/ Ao lado do vento/ Ando de mãos dadas em/ Direção dos prazeres escondidos.../ Não sou prisioneiro de nenhum coração/ Como pássaro andante/ Nesse montante de emoção/ Vou selecionando um monte/ De amor que acaba/ Como numa longa noite de verão.../ Não pedi para ser assim/ Foi assim/ Que a vida/ Nas estradas desumanas/ Me ensinou/ Que o homem é um vendedor de ilusões.../ Que caminha a passos largos/ Na direção do destino/ Projetado pelo Pai Eterno.../ Não adianta chorar/ Pelos tristes acontecimentos/ Somos fortes/ Como guanxuma em terra árida/ Para suportar as tempestades/ Que se abatem em nossas vidas/ Temos que deixar a tristeza de lado/ Porque somos criaturas sem medo/ E sem nenhuma covardia/ Que os fracos morrem de medo.../ Sai do ninho/ Da terra natal/ Muito cedo/ Agarrado na esperança/ Sem nenhuma lágrima a derramar/ Fui a procura do grande mar/ Para lá.../ Mostrar que não nasci em noite de trovão/ Para ter medo/ Dos tornados de nossas existências.../

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Silêncio das Folhas Secas

Têm dias que o silêncio é mais forte que o canto/ Têm horas que a alma chora tanto/ Que a lua nos momentos de maior brancura/ Abre a porta para os cantos deste poeta/ Nos dias que o sol demora para dormir/ E a noite escura e triste/ Demora para escurecer as planícies/ Da imensa terra dos homens.../ Caminho em direção da grande montanha/ Olhando para o cume de imensa terra/ Faço uma oração/ Pedindo proteção/ Ao Pai eterno/ Que nunca esqueça/ Que os poetas/ São almas que andam pelo mundo Largando palavras / Como folhas secas ao vento/ Que um dia formarão um grande tapete/ Para servir de cama/ Aos andarilhos sem proteção...

sábado, 20 de julho de 2013

O BEIJO ARDENTE DA NOITE

O frio ardente da noite/ Arde a pele/ Sedenta de desejo/ Que nas noites frias/ Aparece louca e desnorteada/ Corpo querendo calor/ Boca pronta para ser sugada.../ Beijada desesperadamente/ Porque na escuridão nada é proibido/ Somente o desejo/ Sabe que nada tem limite/ Talvez nem mesmo o infinito/ Seja o finito das nossas loucuras/ O silencio de uma noite/ Onde o barulho da chuva/ Penetra no solo seco/ De uma terra sedenta por água.../ Não fique somente na vontade/ Se liberte.../ Use as asas da liberdade/ Venha viver a insustentável/ Leveza da tua alma/ Para que no amanhã não olhe/ O passado como pesadelo/ De uma noite quente de verão.../ Sou o teu consolo/ A ponte da tua liberdade/ O futuro que você espera a tanto tempo/ Portanto...Não perca tempo!/ Ao me ver.../ Abra os braços/ Deixe que eu beije a tua boca/ Com muita paixão/ Loucura e desejo sem freio.../

domingo, 14 de julho de 2013

O Canto das Cigarras

Canto que se espalha pelas planícies/ Voz que viaja pelos rios/ Nos dias mornos de outono/ Melodia que surge com os andarilhos/ Emoção que aperta o coração/ Dos homens nas longas conversas/ Em noites que nunca terminam/ O violão chora/ A gaita grita/ A lua derrama lágrima/ E a cigarra canta/ Com saudade dos dias/ Do tempo que não volta mais.../ Tudo parte.../ Vai embora para nunca mais voltar.../ Longe dos nossos corações/ Saudade dos amigos que se foram/ Dos familiares que foram morar na eternidade/ Quem sabe esperando pela nossa chegada/ Que um dia vai chegar.../ No invisível das sombras/ Nos jardins do Éden/ Eles relembram um tempo/ Que achavam que nunca terminaria/ Cante cigarra.../ Com o teu canto/ Vai matar a saudade que maltrata/ O nosso caminhar/ Faça do teu canto/ O recanto que tanto precisamos/ Para ultrapassar o rio selvagem/ De nossas vidas.../

sábado, 29 de junho de 2013

Fantasmas

A tua imagem é do passado/ Pele branca e macia/ Cabelos crespos/ Loiros como espigas de milho/ Olhos verdes e tristes/ O teu corpo parece/ Uma música clássica/ Tocada nos jardins do éden/ Lábios carnudos e convidativos/ Para um longo beijo/ Me fazem parar no tempo/ O teu caminhar faz com que/ Uma longa história seja contada/ Ao olhar você andando/ O meu pensamento viaja/ Como um trem bala/ Sem destino/ Sem parada/ Veloz e louco/ Quem é você?/ Onde mora?/ Por que me procuras/ Nas madrugadas de lua cheia?/ Exatamente quando eu sempre volto/ De viagens siderais.../ Quem sou eu para você?/ Fui importante em outras vidas?/ Ou quem sabe apenas mais uma paixão/ Que o tempo não deletou/ Quem somos nós?/ Somos dois fantasmas?/ Como você é linda!/ Graciosa e com perfume de jasmim/ Ancas que rebolam o tempo todo/ Seios que se parecem grandes laranjas/ Maduras para serem sugadas lentamente.../ Coxas grossas e lisas/ Como você é sedutora.../ Não desapareça como de costume/ Fique comigo/ Seja moradora do meu coração/ Não cobrarei aluguel/ Serás dona do meu destino/ Porque somos fantasmas/ Criaturas de outros mundos/ Visitando a Terra dos humanos.../

quarta-feira, 26 de junho de 2013

A Flor dos Meus Desejos

A minha cama está esperando por você/ Nos dias frios de inverno/ O calor do teu corpo vai esquentar/ Este corpo carente pelos teus beijos/ O meu quarto quieto e solitário Aguarda a tua presença/ Nada me acalenta nestes dias de chuva/ Somente a tua voz/ Meiga e dengosa.../ Vai acalmar o meu coração/ Triste e vagabundo/ Quanto mais os dias passam/ Mais lamento o tempo perdido/ Distante da Dama de dia e/ Puta nos meus braços.../ Só nós dois sabemos o que/ Significa a total entrega/ Quando a cama vira ringue/ De orgasmos contínuos.../ Caminho de um lado para outro/ Esperando que a minha cama/ Volte a ser ocupada por você/ O travesseiro cúmplice das nossas/ Artimanhas amorosas/ Continua no mesmo lugar/ Aguardando para sentir o teu calor/ De mulher quente e amorosa.../ Nunca mais arrumei a minha cama/ Os lençóis ainda estão desarrumados/ Desde a última vez que você esteve nos meus braços.../ Mulher!!! Linda e de olhos pretos!/ Que quando caminha o mundo referencia/ Sabe onde encontrar/ O templo do amor e das infinitas vontades/ Então...Venha!/ Não demore...Estou esperando/ Mulher dona da minha cama...!/

sexta-feira, 14 de junho de 2013

A Sepultura da Paixão

Eu sei que as águas/ Não voltam mais/ Foram embora.../ Desceram o desfiladeiro do tempo/ Rasgaram as margens do rio do meu coração/ Detonaram as esperanças/ As águas que um dia foram caudalosas/ Hoje navegam violentamente/ Alterando o leito do rio/ Que selvagemente/ Não obedece mais as minhas vontades/ A única coisa que resta/ Na residência da vida/ É lembrar e escrever em forma de poema/ A dor que sinto.../ A saudade que mata o meu destino/ Eu sei que hoje você vive com outra pessoa/ Não poderia ser diferente para uma mulher/ Que conhece o coração dos homens/ Mas na calada do silêncio/ Na calmaria da tua alma/ Na solidão da cama.../ Quando o sono não vem/ Você lembra de mim.../ A recordação bate a porta do teu coração/ Silenciosamente você traz junto do teu peito/ As emoções da nossa paixão/ Porque tudo pode passar/ O que não passa/ É a história de grandes momentos/ Que duas pessoas viveram/ Isso também acontece comigo/ Quando o silêncio toma conta do meu quarto/ E a cama é a única companheira/ O céu fica estrelado/ E a lua cheia/ Alegre e bela/ Lança luz nos recantos escuros do mundo/ Vejo você vindo ao meu encontro/ É a minha amante da noite.../ Que vem saciar os nossos desejos/ De vestido preto e colado/ Rebolando e sorridente/ Abraça longamente o homem dono do teu destino/ Chego a sentir o teu perfume/ Corpos grudados.../ Bocas e línguas se misturam.../ Depois rasgando a noite/ Como dois loucos amantes/ Vamos matar todas as saudades/ Dançar nos locais de sempre/ Para acabar a noite.../ Somos guiados para um quarto qualquer/ De um motel na beira da estrada/ E ali.../ Morremos num desejo sem freio/ Desenfreados e exaustos/ Gostosamente mortos.../ Esperamos a noite adormecer/ E surgir o primeiro raio do sol/ Para abrir a sepultura/ Nossa eterna residência... /

quarta-feira, 12 de junho de 2013

O Punhal

A rua estava deserta e profundamente melancólica, até parecia dia de finados. A Rua João Pinto da velha Desterro, com seus paralelepípedos lisos de tanto receber transeuntes, carroças e carros ao longo da história, estava totalmente encharcada pela intensa chuva que caía aproximadamente há trinta dias. Essa rua guardava inúmeros segredos, vários amores que se iniciaram, e brigas que ainda hoje fazem parte do imaginário das pessoas. Com seu casario em sua volta, a João Pinto possuía certo ar de nostalgia e mistério. Caminhar por ela na década de 1950 fazia bem em todos os aspectos, exceto à noite. Mesmo com lua cheia e o céu repleto de estrelas, e com o barulho do mar, deixava qualquer um com os sentimentos à flor da pele. Era inverno de 1957, o vento sul soprava sem parar, o frio era intenso, fazendo com que as pessoas nem pensassem sair de casa, principalmente durante a noite. O mês de julho prometia, seria um dos mais friorentos da história climática da Capital. No primeiro domingo do mês, numa noite gelada e de chuva, a prostituta Vânia precisava fazer ponto na Rua João Pinto, pois no dia seguinte tinha que pagar o aluguel da pensão. Isso porque Francisco, esposo da rica Fernanda, seu amante, morrera no ano anterior, numa briga com um marinheiro. Vânia era considerada a mais bela prostituta da cidade, só saía com homens ricos e poderosos. Mas fazia tempo que essa fama já não estava mais trazendo dinheiro e sim desamores. Para ajudar, aquele domingo, chuvoso e frio, não iria trazer grandes expectativas financeiras. Quem iria ter a coragem de sair à noite, atrás de uma prostituta para fazer um programa? De qualquer maneira precisava arriscar. Quem sabe alguma esposa se negasse a fazer amor com algum marido e assim, ele iria desafogar as mágoas com ela. Com esse pensamento Vânia colocou um sobretudo feminino de cor preta , por baixo usou somente um pequena calcinha vermelha. Assim, estaria pronta para qualquer posição sexual que o cliente exigisse. A chuva era fina e caía lentamente, acompanhada de um forte vento. A Rua João Pinto parecia a boca do inferno, pronta para engolir qualquer um que se atravesse a caminhar sobre ela. Vânia andava de um lado para o outro, à espera de alguém para fazer um programa. Naquele dia até que ela estava com vontade de fazer sexo, não acontecia sempre, mas quando acontecia, Vânia se realizava profundamente. Já passava da meia noite, quando enfim, um homem se aproximou dela dizendo: - Boa noite Vânia. Como vai você? - Olá, boa noite! Quanto tempo! – Respondeu. Era o médico Paulo, grande amigo do falecido Francisco. Fazia tempo que ele não aparecia, era respeitado na cidade, mas vez por outra procurava os serviços sexuais de Vânia. Sempre generoso financeiramente com ela, exigindo sexo de todas as formas, principalmente um lado que ela não gostava. Isso porque ela tinha um belo traseiro, despertando imenso prazer em Paulo. - Faz tempo sim, como você sabe, hoje é dia apropriado para uns momentos de sexo, e da forma que aprecio. - Você de novo querendo o meu traseiro. A tua mulher não deixa fazer? - Não deixa. Para fazer sexo com ela tem que ser com a luz apagada e pela frente. Na verdade foram poucas as vezes que fiz sexo com a luz acesa. Deixemos de conversa e vamos lá para o teu quarto. Adoro o teu traseiro, que, aliás, é o mais bonito da cidade. Vânia obedeceu ao médico e o levou para o quarto da pensão. Como sempre, Paulo foi bondoso com o dinheiro. Chegando lá, Vânia levantou o sobretudo feminino, tirou a calcinha, ficou de quatro e deixou o médico penetrá-la do jeito que ele mais gostava. Não foi dessa vez que ela se satisfez, porque a forma que o cliente gostava não era a sua. Depois de ter acabado, Paulo pagou Vânia e foi-se embora. A noite continuava escura, chuvosa, fria e cúmplice dos amantes. Alguma coisa estava no ar. Alguém iria morrer de forma violenta. Os olhos negros da morte estavam à espreita, e o silêncio reinava na cidade, exceto pelas prostitutas e velhos marinheiros que se atreviam a andar pelas ruas. A Praça XV parecia um grande bordel, onde homossexuais e putas circulavam à procura de prazer. Vânia não estava contente e necessitava acabar a noite feliz, como mulher. Paulo não fora homem o suficiente. Lavou-se e desceu para a rua. A sua noite tinha que terminar bem gostosa. E foi isso que ela fez. Ao sair do prédio de dois andares onde morava, Vânia deu de cara com um cachorro preto, que ao vê-la, latiu furiosamente. Nunca tinha visto aquele animal. Ficou assustada e saiu correndo. O cachorro ainda deu algumas latidas e desapareceu noite adentro. Esse episódio quase fez com que ela desistisse de procurar alguém para fazer sexo. Com vontade de ser possuída de qualquer jeito, Vânia prosseguiu a sua procura. Quando chegou à Praça XV, ouviu uma voz: - E aí Vânia! Está difícil encontrar algum cliente? Para uma mulher gostosa como você não será complicado encontrar. - Não será, mas o tempo não está ajudando. Eu saí com o Paulo esta noite, mas quero alguém para me satisfazer sexualmente. - O Doutor não deu no coro? - Ele dá no coro sim. Mas gosta do meu traseiro. Eu preciso de um homem que queira fazer a minha “coisinha” e assim ficarei feliz. A conversa estava sendo travada com o marinheiro Douglas, que estava de folga. Ele tinha um belo porte físico, acostumado a exercícios pesados em alto mar. De cor escura, Douglas era pau para toda obra no que diz respeito a sexo. Famoso por ser pé de mesa, o marujo pegava qualquer mulher e até mesmo homossexual que aparecesse na sua frente. Ele nunca tinha feito sexo com Vânia porque ela cobrava caro. Mas naquela noite iria provar do corpo que muitos homens da cidade se babavam. - Vânia, se você cobrar barato eu quebro o teu galho, apesar de já ter pegado a ricaça Fernanda. - Como assim? Que dizer que você traçou a mulher do falecido Francisco, o meu querido amante? - Isso mesmo! Ela me procurou há pouco lá no cais querendo um momento de sexo com um pé de mesa. Ela me pagou bem. Deixei-a toda esfolada de tanto sexo. Agora tem uma coisa que me deixou cabreiro. - O que ela disse? - Sei lá. Achei estranha a conversa dela. Quando acabei o serviço, a ricaça levantou a calcinha dizendo que mataria todas as prostitutas da Rua João Pinto e iria assumir o papel delas, dando para todos sem cobrar nada e que, se for preciso até pagaria para ser comida. A conversa preocupou Vânia, mas deixou o assunto para trás e pegou o marinheiro pelo braço, levando-o até o seu quarto. Ela não tinha sentido a força e o tamanho de um membro tão grande quanto o dele, mas sentiu-se realizada completamente. Depois de uma hora de sexo selvagem, Vânia abriu a porta do quarto e dispensou o amante negro, pois a essas alturas só queria dormir. A madrugada já estava chegando. Tudo estava quieto na Rua João Pinto, exceto os passos da viúva misteriosa. Nua por baixo do sobretudo feminino, e sentindo-se molhada nas coxas, devido ao vigoroso ato sexual com o marinheiro, encaminhou-se até o prédio onde Vânia dormia o sono tranquilo das prostitutas. Cada passo que dava, Fernanda imaginava quantas vezes o marido dela tinha subido aquelas escadas para ter intimidades com a vagabunda da Vânia. Seria o seu primeiro crime, outros estavam a caminho. Iria limpar a rua e a cidade. Ela seria a única prostituta, isso sem cobrar nada de nenhum cliente. Fernanda era filha única de um rico imigrante alemão e herdou uma grande fortuna. Casou-se com o pobretão do Francisco na esperança de constituir uma família exemplar. Não foi isso o que aconteceu. Ele ou ela não podiam ter filhos. Logo após o casamento, Fernanda foi violentada pelo irmão de Francisco. Contou para o marido, mas ele não acreditou. Isso sem falar do episódio que aconteceu quando ela tinha dez anos de idade: um amigo de seu pai, aproveitando-se da ausência de familiares, estuprou-a de todas as maneiras. Essas imagens vinham a sua mente na medida em que subia os degraus da escada. Lá fora o silêncio era total, somente o demônio reinava. Não bateu à porta, ela já estava semiaberta, costume da época. Olhou para Vânia, deitada, enrolada em coberta quente, dormia um sono profundo, nem iria sentir a penetração do fino punhal no peito. Fernanda cursou anatomia no Rio de Janeiro, sabia onde ferir mortalmente com o punhal. Levantou suavemente o cobertor e chegou a admirar o belo corpo de Vânia, que dezenas de vezes fora instrumento de prazer do canalha do Francisco. Sem esperar muito, penetrou fortemente o punhal no peito de Vânia, que deu um suspiro, tremeu um pouco, e parou de respirar. Pegou a coberta e cobriu totalmente o corpo da prostituta. Nada atrapalhou o silêncio da noite, somente a morte fazia o seu trabalho. Fernanda desceu suavemente as escadas, perdendo-se na noite. A notícia da morte de Vânia percorreu a cidade inteira. O delegado Juarez fez perguntas para várias pessoas, mas ninguém indicou alguma pista que o levasse até a viúva assassina. O marinheiro Douglas embarcou no seu navio. Ele poderia dar alguma pista sobre a assassina da João Pinto. O inverno acabou e logo chegou a primavera e consequentemente o verão. Nada de novo aconteceu na cidade. Tudo corria normalmente à espera do próximo inverno, momento onde o diabo descia para a terra. O frio fazia com que as pessoas não saíssem de casa, somente em casos excepcionais. O crime de Vânia já estava caindo no esquecimento, até porque era apenas mais uma prostituta que tinha sido morta. Douglas voltou da viagem que realizou pelos grandes mares e estava ansioso para sentir um corpo sendo subjugado sexualmente. O outono logo iria embora, e as noites frias e chuvosas com o vento sul assobiando na ilha de Santa Catarina, seriam os cenários dos próximos crimes. O marinheiro saiu à procura de alguém e foi até a rua João Pinto, local indicado para as belas aventuras amorosas. Douglas já sabia do assassinato de Vânia, mas não havia lembrado das ameaças de Fernanda. A única coisa que passava pela sua cabeça era sexo e mais nada. Ao dar os primeiros passos em direção à Rua João Pinto, Douglas defrontou-se com uma bela loira, nova, de olhos verdes. Uma joia de menina. Colocou os olhos nela e disse: - O que faz uma linda menina a estas horas da noite? Não tem medo do bicho papão? - Não tenho medo. E não sou uma menina. Tenho 18 anos e já sei o que é ser devorada por um bicho papão. Pietra tinha vindo de Blumenau há dois meses, atrás de emprego. Logo que chegou à rodoviária na Rua Hercílio Luz, não sabendo para onde ir, pediu informações a um taxista. Este, por sua vez, levou-a até a casa do Juanito, um gigolô que morava na Rua Major Costa. Ela saiu dali empregada, mas, não sem antes ter que dormir uma noite com o seu novo patrão. Era o teste do emprego. Daquele dia em diante Pietra trabalhava à noite para aumentar a riqueza do espanhol Juanito. Juanito era procurado pela polícia da Espanha por ter assassinado o Delegado de Madri. Com a ajuda da máfia italiana fugiu para o Brasil no ano de 1954, refugiando-se em Florianópolis. Logo que chegou aqui, fez o que sempre soube fazer: trazia meninas do interior do Estado para se prostituírem e assim ganhar muito dinheiro. Pietra era mais uma, fisgada no seu anzol. - Hoje eu sou o teu bicho papão e quero você inteirinha... - falou Douglas, já imaginando a bela noite que teria com Pietra. - Mas, primeiro você precisa pagar pelos meus serviços. - adiantou a menina de Blumenau. - Isso é de menos. – respondeu Douglas, pronto para mais um gostoso embate sexual. Naquela noite tudo correu como o marinheiro e Pietra tinham combinado. Nenhum dos dois imaginava que algo pairava no ar. Certa noite, quando Douglas saía do quarto de Pietra, esbarrou com Fernanda, que disse: - Por onde andavas velho marinheiro? Estou com saudade da tua grande ferramenta. Está comendo carne nova? Douglas sorriu e falou: - A minha ferramenta está sendo usada no corpo de uma linda menina, que chega a ser coisa de outro mundo. Tudo nela é pequeno, delicia de mulher! Fernanda não disse nada, simplesmente pegou o marinheiro pela mão e o levou até sua casa. Durante todo o restante da noite, eles fizeram sexo e mais sexo. Ela já não aguentava mais, mas, Douglas era insaciável. Enquanto ele a penetrava, ela perguntou: - Quem é essa menina que tem tudo pequeno? Onde ela mora? O marinheiro no auge de seu tesão, falou: - Ela reside no mesmo prédio onde morava a Vânia, assassinada no ano passado e, por incrível que pareça, no mesmo quarto. A viúva do “sobretudo feminino” ouviu tudo, deixou o marinheiro terminar o serviço e foi-se embora. No dia seguinte, ou melhor, na próxima noite, Fernanda foi ao quarto de Pietra e mais um assassinato virou notícia. O fino e longo punhal comprado no oriente entrou mortalmente no lindo corpo de Pietra, que nem sentiu o perfume da morte. Douglas soube do assassinato da menina de Blumenau e não se conformou. Ele estava gostando da menina e até pensava em tirá-la da rua, quem sabe constituir uma família. Caminhando pela Praça XV, lembrou-se das palavras de Fernanda quando transaram pela primeira vez. Não havia nenhuma razão, Vânia e Pietra terem sido assassinadas brutalmente. Alguma coisa estava errada e era preciso tomar alguma providência. Para Douglas, o crime deveria ser desvendado e vingado da mesma forma. A Rua João Pinto já não era mais a mesma. Depois das duas mortes, os frequentadores da noite ficaram mais precavidos. Mas, Douglas matou a charada: Fernanda era a responsável pelos assassinatos. Certa noite, quando o silêncio tomava conta da cidade, o velho marinheiro resolveu sair para investigar as razões dos crimes. Permaneceu um longo período na frente do prédio onde vivia Fernanda, queria observar os movimentos dela. Já passava da meia noite, quando ouviu o barulho de alguém descendo as escadas. Não teve mais dúvidas, era a Fernanda que saía para aprontar mais uma. Ele tentou escapar ou se esconder, mas não conseguiu. A viúva ficou a sua frente e disse-lhe: - Meu adorado marinheiro, está fugindo de mim? - Não estou! Apenas não sabia que era você. – desconversou o marinheiro. - Fiquei sabendo que andas fazendo perguntas sobre o assassino das duas vagabundas que foram mortas? – perguntou Fernanda. - Preciso saber quem foi o bandido ou a bandida que tirou a vida das meninas. Por sinal, eu estava gostando de Pietra e queria montar uma família com ela. - Montar uma família com uma puta que se deita com qualquer um? – questionou Fernanda. - E você? Por acaso não abre as coxas pra todo mundo? – perguntou Douglas A conversa entre os dois estava tomando um rumo perigoso. Douglas queria dar um fim em Fernanda, sabia que era ela a assassina das duas prostitutas. Fernanda percebeu no olhar dele que estava em perigo. Era necessário tomar uma providência. No mundo da noite da Rua João Pinto, tem um momento que existe um limite. Ele entendia as razões de Fernanda, soube que ela fora violentada quando mocinha, mas, fazer disso uma ponte para a vingança vai um longo caminho. Com determinação, numa mistura de ódio e prazer, Douglas encostou Fernanda contra a parede, levantou o “sobretudo feminino” preto, tirou a calcinha vermelha, numa só estocada penetrou a assassina de forma violenta. Com os olhos arregalados, sentindo o cheiro de mofo da parede, Fernanda tremeu de dor e prazer. Não era a primeira vez que sentia o tamanho da ferramenta do marinheiro. Enquanto a noite e a névoa da escuridão reinavam na Rua João Pinto, o casal, entre gemidos e sussurros, esqueciam vingança e ódio, deixando o prazer tomar conta de tudo. Logo após terminarem a selvagem relação sexual, Fernanda, com as pernas bambas, cansada, abaixou-se para levantar a calcinha. Sem perceber, ela sentiu uma dor profunda no lado esquerdo do abdômen. Percebeu que estava sendo golpeada por um punhal fino, longo e afiado. Era o seu punhal sendo usado contra ela. A lâmina entrou no fígado, rasgando-o totalmente e indo na direção do coração. Fernanda, conhecedora de anatomia humana, sabia que o golpe era fatal, mas levaria alguns minutos para morrer e muito sangue iria escorrer. Deixou-se cair suavemente, como se estivesse se arrumando para o leito da morte. Encostou-se na parede, olhou para o chão e viu uma grande poça de sangue se formar. Douglas estava de pé, ainda com as calças no chão, segurava o punhal coberto de sangue. Ele havia roubado o punhal de Fernanda no momento que faziam sexo. Parecia feliz por ter desfechado o golpe final na mulher que matou cruelmente as suas duas amantes. Nesse instante chegou a ver as imagens de Vânia e Pietra sorrindo para ele, como num gesto de agradecimento. O mar, que estava calmo, criou ondas e tornou-se violento. As estrelas desapareceram do céu e nuvens escuras se formaram. O vento que não tinha dado o ar de sua graça assoprou levando os papéis da Rua João Pinto. Ele olhou para Fernanda e disse: - Eu sempre soube que foi você. Agora vai descansar no inferno, numa mistura de prazer mortal. Você não merece viver na terra e sim ser a esposa do demônio, ou melhor, a puta dele. – sentenciou o velho marinheiro. - A morte até que está sendo gostosa. O ferimento no fígado não traz dor e sim desfalecimento. Mas, por que você? – perguntou Fernanda, já com a voz engasgada pelo sangue. - Porque tinha que ser. Não tenho ninguém que chore por mim e já matei várias pessoas ao redor do mundo. Nos portos que desembarquei já tive inúmeras amantes e muitas delas me contratavam para assassinar os maridos em troca de dinheiro. Sou como um animal selvagem, que se alimenta com a dor dos outros. Mas nunca tive a intenção de fazer isso com você. E você não precisava ter matado Vânia e Pietra. - Eu só queria ser a única prostituta da Rua João Pinto. A única forma de atingir o prazer era sendo uma vagabunda, penetrada por qualquer homem, principalmente da forma que acabamos de fazer. A riqueza nunca me trouxe prazer. Fui casada com um homem que nunca se preocupou em me oferecer algum momento de alegria na cama. As damas não são felizes, são apenas instrumentos de seus maridos, cornos e incompetentes. Estou morrendo feliz, atravessada por um punhal que comprei quando visitei o Marrocos há cincos anos. Dizem que esse punhal foi feito para matar os amantes traídos. - Agora está tudo acabado para você. Descanse na Rua 66, no centro do inferno, onde o teu futuro amante vive. Com essas palavras, Douglas despediu-se de Fernanda. Fernanda sorriu com as últimas palavras de Douglas. Sentiu um gosto de sangue que escorria pelo canto da boca. A morte estava descendo a mando do diabo, o seu futuro marido. Douglas levantou a calça, limpou o punhal na roupa de Fernanda e saiu caminhando, desaparecendo em direção à Praça XV. Logo o dia iria nascer e ele precisava embarcar para mais uma longa viagem, só que desta vez, não voltaria nunca mais.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Tempos Errantes

Erros do passado/ Que sangram a alma/ Sangue derramado num/ Tempo em que a lei não existia/ Existia somente a lei do mais forte/ Alma sacrificada/ Sem saber o certo e o errado/ Dor da alma/ Dos erros cometidos/ Num momento de um tempo/ Que a ignorância imperava/ Ninguém cobrava/ Quem podia matar/ Matava a sangue frio/ Crianças e mulheres/ Eram violentadas/ Idosos eram atados/ E mortos sem nenhuma piedade/ Hoje a cobrança chegou/ Boleto com data de vencimento/ A lei está presente/ E os viventes não sabem o que fazer/ Porque agora tem lei para tudo/ Até mesmo para viver

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A Montanha Mais Alta do Mundo

Não pergunte para onde vou/ Vou viver no alto de uma montanha/ A mais alta do mundo.../ Ver o Condor voando ao meu lado/ Caminhar entre as nuvens/ Conversar com as estrelas.../ Nas longas noites de lua cheia/ Vou namorar a Lua/ A minha eterna amante.../ Quero dormir numa cama vazia/ Ouvir o forte uivado do vento/ Batendo na janela do meu quarto/ Da montanha mais alta do mundo.../ Quero sonhar com os meus fantasmas amorosos/ Que ficaram perdidos no tempo.../ Da montanha mais alta do mundo/ Quero morar numa casinha branca/ Com janelas verde/ E uma grande varanda/ Ao lado de um caudaloso riacho.../ Nos dias de sol/ Quero me esquentar e/ Observar a ampla planície/ Que adormece nos pés da montanha.../ Se um dia sentir saudade de mim/ Adormeça e sonhe comigo/ Estarei esperando por você na/ Mais alta montanha do mundo.../ Quando eu sentir saudade do mundo/ Quero ser uma andorinha/ Voando por todos os lugares Que marcaram a minha vida de boêmio.../ Depois da visita/ Com lágrimas nos olhos/ Voltarei batendo as asas/ Para a montanha mais alta do mundo.../

terça-feira, 21 de maio de 2013

A Poeira Cinzenta da Morte

Olho ao longe e vejo/ A poeira cinzenta do tempo/ Irmã da morte/ Imagens que vão desaparecendo/ Fugindo dos meus olhos/ Ao lado da distancia/ Fico triste/ Não consigo caminhar/ Estou preso na saudade/ A morte vem ao meu encontro/ Caminhamos lentamente/ Rumo ao cemitério/ A poeira cinzenta da morte/ Deixa o meu corpo gelado/ Duro como uma pedra/ Nada é eterno/ Somente a saudade persiste/ No coração do poeta...

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Os Olhos do Tempo

Eu conheço todas as noites do tempo/ Até mesmo aquela quando/ Maria Madalena foi ao encontro do Mestre/ Declarando amor eterno/ A minha alma foi criada quando a/ Noite apareceu pela primeira vez/ Nesse tempo/ Nada existia.../ Somente a solidão/ Foi a minha companheira/ Vivi com os dinossauros/ Também os vi morrer/ Quando a terra foi bombardeada/ Por milhares de meteoritos/ Vindos do infinito/ Eu conheço a lua/ Desde a primeira vez que iluminou o mundo/ A minha alma/ Sempre se acalma quando a luz da/ Lua ilumina os recantos mais/ Escondidos dela/ Eu conheço o velho mundo/ Desde a época do nascimento do homem/ Quando ele vivia nas cavernas/ E se alimentava comendo carne crua/ De animais selvagens/ Participei de todas as guerras/ As justas e as injustas/ Dos grandes descobrimentos/ Que ajudaram o homem na sua história/ No renascimento e no iluminismo/ Levantei a bandeira da liberdade/ Nos momentos sangrentos das/ Grandes revoluções/ Fui perseguido até o final dos tempos Isso porque a minha alma/ Nasceu na profundidade da noite/ Na escuridão das sombras/ Acendendendo a lamparina/ Que iluminou os caminhos dos guerreiros/ Quando as estrelas nasceram/ Eu estava lá para testemunhar/ Quando os planetas surgiram no universo/ Participei do batismo de cada um deles/ Vi o sol lançar os primeiros raios sobre a terra/ Clareando os buracos negros/ Contei os inúmeros meteoritos que caíram/ No planeta dos homens/ Caminhei ao lado dos grandes mestres/ Vi os pintores renascentistas pintarem os/ Quadros mais belos do mundo/ Naveguei em todos os mares/ Escutei as músicas clássicas/ Que foram compostas pelos gênios musicais/ Deixei a minha marca nas areias/ Das distantes praias/ Que até hoje encantam as almas/ Mais sensíveis Fui testemunha dos crimes/ Mais hediondos/ Praticados contra os inocentes/ Chorei copiosamente/ Quando o Mestre foi golpeado/ Por uma lança romana/ Nao acreditei em ver Jesus/ Filho do Pai Eterno/ Ser cruficado na cruz/ Nao suportei em ver as crianças/ Serem mortas pelos nazistas/ Nos fornos assassinos/ Gritei ruidosamente/ Quando o cogumelo amarelo/ Queimou os pequenos anjos/ De olhos meigos e serenos/ Eu vi a raça humana nascer/ Matar violentamente/ Crianças e idosos/ Acompanhei o crescimento de cada homem/ Em todos os continentes/ Estava junto quando Cabral descobriu o Brasil/ Fui com o homem na lua/ E lá fiquei por muito tempo/ Fiz juras de amor a ela/ Não sou filho do homem/ Quem sabe um aventureiro/ Talvez nao seja nada/ Talvez seja um curioso/ Quem sabe um metido/ Que viu tudo/ Não decidiu nada/ Isso porque sou sim/ Apenas.../ O tempo que se eterniza/

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A Luta dos Valentes

Mão calejada/ Olhar triste e perdido no tempo/ Corpo magro/ Queimado pelo sol/ Muitos anos vividos Experiência acumulada/ De uma vida vivida/ Sem tempo para descansar/ Estômago vazio/ Mas com força/ Para prosseguir/ Sem motivos para desistir/ De uma luta que no final/ Sabe que vai vencer/ Homem forte/ Que vive no Norte/ Sul, Leste e Oeste/ De um grande país/ Trabalha de dia para comer à noite/ Quando a madrugada dá os últimos suspiros/ De despedida/ Levanta com ar de valentia/ Alma destemida/ Em paz e serenada/ Mas carcomida/ Por centenas de batalhas enfrentadas/ Em penosas experiências/ Porque os fortes são calmos e tranquilos/ Ao vê-lo trabalhar na terra/ Debaixo de sol forte/ Remexendo com a terra/ O coração dói/ Dá vontade de trabalhar por ele/ Mas não dá para fazer nada/ Temos que deixar o gigante trabalhar/ Ele não se acovarda/ Não tem medo de tempo feio/ Não nasceu em dia de trovão/ Ele sabe que vai morrer de pé/ Como os grandes gigantes que o mundo conheceu/ Homem do campo/ Explorado e teimoso/ Como guanxuma das encostas dos rios/ Não se deixa dominar/ Com lágrimas correndo pela face de/ Um rosto marcado pelo destino/ Ele vai vivendo/ Vendo o mundo passar e mudar/ Vendo os filhos desaparecerem/ Para viverem na cidade grande/ Mas ele continua/ A sua lida/ Sua maravilhosa vida/ Abençoada pelo Grande do Universo/ Se um dia conversar com um desses/ Grandes homens/ Não se esqueça de dizer/ Que os poetas/ Escrevem e cantam em verso e prosa/ Sua caminhada pela Terra/ Fazem de sua vida/ Uma esplêndida cena/ Que transcende os marcos do mundo/ Homem caboclo/ Homem do campo/ Seres caminhantes/ Com determinação abundante/ Não se deixam aprisionar/ Pelo medo/ São corajosos/ Valentes com arma nos dentes/ Sangue forte/ Sem contaminação/ Porque fazem da valentia/ O antídoto para combater os males/ De uma humanidade cada vez/ Mais fraca e pobre de espírito/

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O Silêncio da Tempestade

Havia duas semanas que nada se movimentava. Tudo estava quieto, até mesmo o mar tinha se tornado misterioso. Os pescadores, há dias não pegavam nenhum peixe. Como sempre, na vila as coisas não andavam rapidamente, mas dessa vez era inquietante a maneira como a vida se comportava. Algo pairava no ar. O cheiro da escuridão conversava com a sombra nos dias quentes de um forte verão. As noites demoravam passar e as estrelas se escondiam por detrás das altas montanhas que adormeciam ao lado da Vila das Pedras Grandes. A Vila das Pedras Grandes era um lugarejo pequeno, mas muito antigo. Tudo começou no final do século XIX com a chegada dos portugueses. Cinco famílias vieram da Ilha da Madeira com o objetivo de refazer suas vidas, depois de terem sido expulsas pelo Império Português. Os Oliveira e os Silva eram famílias gananciosas e violentas. Não gostavam de ninguém e, por qualquer motivo, a morte sempre acontecia. No início tudo corria bem na Vila, até que um dia atracou um barco com seis pessoas vindas da Europa, mais precisamente da Itália. Eram os Gotardo, que resolveram viver no recanto onde somente os portugueses viviam. De imediato os nativos não se opuseram aos novos moradores, mas com o decorrer dos dias as diferenças começaram a surgir. Os italianos tinham mais dinheiro e sabiam negociar. Aos poucos, começaram adquirir as terras dos Oliveira, que ao venderem acabaram indo para o Rio de Janeiro, capital da República. A família dos Silva, na pessoa do patriarca José, resolveu bater de frente com os italianos. Receberam propostas tentadoras para venderem suas terras, mas negaram todas. Já o velho Gotardo, homem alto, forte, e de pouca conversa, resolveu ter um diálogo franco com José. Chegando ao portão da morada dos portugueses, disse: - Eu vim aqui conversar. Posso entrar? – Perguntou o italiano. - Pode desde que não faça nenhuma proposta indecorosa. – Lembrou José com ar de poucos amigos. - Mesmo assim vou fazer uma última proposta. Ofereço o dobro do valor oferecido na semana passada. - Acrescentou. - Eu disse que as minhas terras não estão à venda. Aliás, nunca esteve à venda. Pode esquecer. – Respondeu o português. - Mas eu quero comprar de qualquer jeito. Pago qualquer preço. - Reforçou Gotardo. - Por que você quer comprar as minhas terras? – Perguntou o português. - Porque eu quero trazer para este lugar vinte famílias que vivem ao norte da Itália. Lá essas famílias estão passando imensas dificuldades. E aqui tudo é novo, a terra é boa para plantar. – Explicou o italiano. - Eu não tenho nada com isso. Cada um vive de acordo com os seus problemas. – Acrescentou José já cansado da conversa. - Escute, velho teimoso! Eu disse no início da conversa que ficaria com as tuas terras de qualquer jeito. – Afirmou Gotardo com tom de ameaça. - Vamos ver então! Eu não tenho medo de nenhum homem, muito menos de um italiano metido a macho. – Desafiou o português que a essas alturas já estava com um facão na mão. Depois dessa áspera conversa entre os patriarcas, a Vila das Pedras Grandes ficou à espera do próximo lance, que levou quase um ano. Durante esse tempo Gotardo esperou o momento adequado para fazer cumprir sua promessa. No início do inverno de 1923, quando todos iam dormir cedo, o italiano e mais de vinte comparsas bem armados dirigiram-se para as terras dos portugueses. Era lua cheia e o frio campeava, fazendo com que ninguém se atrevesse a sair. Tudo estava planejado. Gotardo tinha mandado vir do Rio de Janeiro trinta galões de querosene; o necessário para queimar todas as casas da família Silva e seus moradores. A família Silva era composta por mais de cem pessoas, entre crianças, idosos e demais adultos. Ainda era madrugada quando do alto da pedra grande, Gotardo sorria ao ver as casas dos Silva virar cinzas. Um forte cheiro de carne humana queimada tomava conta da região. A cena era dantesca. No início da manhã, Gotardo mandou matar vinte cabeças de gado para comemorar a vitória sobre a família Silva. Agora era o todo poderoso da Vila das Pedras Grandes. Ninguém ousaria desafiar o seu poder. O tempo caminhou e dezenas de invernos se passaram na vida dos habitantes da Vila. Estamos no ano de 1976 e a chacina dos Silva apagou-se por completo. Até porque os Gotardo nunca permitiram que ninguém mais viesse viver na Vila. - Eu não estou gostando desse silêncio. – Disse Gotardo Neto, sentado na varanda da casa. - Muito menos eu. – Respondeu Maria Gotardo, esposa e companheira de muitos anos. - Alguma coisa de ruim vai acontecer. Estou sentindo no ar. Acrescentou Juliana, filha mais velha do casal. - Toda noite eu sonho com as histórias do Vô Gotardo sobre os Silva. No sonho, o velho Silva diz que nós vamos morrer afogados e que a Vila das Pedras Grandes vai desaparecer para sempre. – Assinalou Gotardo Neto, com semblante preocupado. Depois dessa conversa os Gotardo se recolheram, pois o frio tinha chegado. O mar, testemunha dos mistérios dos homens, talvez cúmplice, ou justiceiro, recuou uns duzentos metros para dentro. Demorou meia hora e se jogou violentamente contra a Vila das Pedras Grandes. No amanhecer, nada restou da Vila, nem mesmo os animais, tudo desapareceu por completo. O silêncio continuou para sempre e ninguém mais habitou a vila das Pedras Grandes. Hoje, ao passar pela vila, as pessoas ainda ouvem gritos de socorro, choros de crianças, e gemidos de idosos, uns, pelo incêndio de suas casas e outros, pelo afogamento. Todas vitimas das chacinas dos homens sem alma e sem coração.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O Infinito

Quando olho para o infinito Procuro trazer de volta Algumas coisas que ficaram para trás Não sei o que é Mas sei o que sinto Porque o meu coração dói É uma suave dor... Uma lenta agulhada O infinito muitas vezes Nada faz Apenas joga faíscas Que embaralham a visão Colocando na frente vultos Que parecem fantasmas Que num bailado sem rumo Fazem com que a dor não vá embora O infinito é misterioso Não tem nome Muito menos obedece/ Simplesmente não sai do lugar/ Não tem tamanho/ Porque é do tamanho da nossa saudade/ Ele às vezes fica belo/ Principalmente quando acontece o pôr do sol/ E à noite larga as primeiras faíscas escuras/ O infinito é filho da sombra/ Filho da distância/ Primo do adeus/ E acima de tudo.../ É invisível/ Assim vejo o infinito/ Gosto de ser abraçado pela sombra/ Das nuvens que surgem nos braços/ Do infinito.../ Porque sei que um dia/ Viveremos no reino do infinito/ Caminhar pelos jardins/ E lagos criados pela infinita/ Beleza do infinito/ Enquanto ainda podemos observar/ Os passos lentos e belos do infinito/ Vamos aguardar o fim de tudo.../ O fim da nossa jornada/ A jornada que o infinito criou/ Para caminhar a passos largos/ Na direção do grande lago azul/ Onde reside o paraíso/ Sonhado por nós.../

NÃO VOU ADORMECER SEM DEGUSTAR OS MEUS SONHOS

Ninguém prende um pensamento. Ninguém aprisiona uma alma ou um coração. O amor é livre e o gostar caminha junto com a liberdade. O desejo ...