domingo, 12 de julho de 2015

EXECUÇÃO DA RUA SEM SAÍDA

A lâmpada permanecia acesa, como se estivesse iluminando alguma coisa, sendo cúmplice de algo violento. A claridade era fraca, deixando os cantos da sala na penumbra. O ambiente estava esfumaçado, pois as três pessoas mortas tinham fumado e bebido muito. Tudo foi rápido, sem oportunidade de reagir. O atirador desfechou bala para todos os lados. Após a execução, aproximou-se dos corpos para averiguar se ainda tinha alguém vivo. Veio para cumprir a sentença determinada pelo Delegado. Sempre foi assim, desde adolescente abraçou a função de matador de aluguel. Filho de prostituta, criado por uma tia no sertão nordestino, resolveu viver em Santa Catarina, porque achava que quanto mais longe da terra natal, mais cedo esqueceria a sofrida infância. Agora, aos quarenta anos, cansado de tanta matança, sem nunca ter sido preso, Amarildo queria cumprir o último trabalho, sem deixar rastro. Segundo seus cálculos, foram mais de 80 execuções, sempre de forma fria e sem remorso. Para ele, as mortes faziam parte da vingança de Deus contra os criminosos e jamais matou alguém inocente, pois todas eram pessoas que mataram ou estupraram, por isso mereciam a morte. Considerava-se um justiceiro. Na outra ponta, havia os mandantes. Muitos faziam parte da classe policial, que viam no método uma forma de esvaziar as prisões. Vários delegados conheciam Amarildo e pagavam altas quantias para executar criminosos, porque consideravam que na maioria das vezes as penas eram brandas e não cumpridas. Os próprios delegados encobriam os atos do matador de aluguel. No caso dos carteiros era a mesma coisa. Muitos estupros foram praticados pelos entregadores de cartas. Paulo, Márcio e Jacó tinham como objetivo, todo dia cinco de cada mês, escolher uma menina, moça ou mesmo mulher casada para praticar o estupro. Eles preferiam mulheres recém-casadas, para causar ciúmes ao marido. Durante quatro anos, a cena vinha se repetindo e tudo era planejado, sem deixar nenhuma pista. Colocavam máscaras e partiam para o ataque. Amarravam, sedavam a vítima e depois a levavam para o porão da casa de Jacó, para ser estuprada de todas as formas. A residência do carteiro Jacó era bem antiga, construída há mais de cinquenta anos e ficava no final de uma rua sem saída de um pequeno bairro de uma cidade ao norte de Santa Catarina. Mais da metade das mulheres não denunciavam, porque eram ameaçadas de morte pelos três carteiros. Como nem todo crime é perfeito, eles cometeram um grande erro. Como funcionários dos Correios, usavam botas iguais, de solado alto. Num dos estupros que aconteceu num dia chuvoso, as pegadas foram observadas por um delegado que já tinha alguma suspeita sobre eles. Aos poucos, juntando peça aqui e acolá, a polícia conseguiu chegar aos criminosos. Após inúmeras investigações, o delegado Silva montou as peças e resolveu, de forma diferente, a situação. Como não acreditava na justiça, resolveu chamar Amarildo para cumprir a sentença. O que fez Silva mandar matar os estupradores foi que a última vitima deles era a sua jovem e linda esposa. Ela foi estuprada durante mais de seis horas e largada totalmente nua no mercado público. A partir desse crime, o delegado jurou vingança e fez uma rápida ligação: - Escute, tenho um trabalho para você. Hoje à noite, em frente ao mercado público, entregarei um envelope contendo 30 mil reais e os nomes e endereços dos bandidos. Faça o trabalho sem deixar rastros, que depois faço o meu, para encobrir tudo. Quero que os tiros sejam disparados na testa, na nunca e no peito. Para cada um, três tiros. – falou Silva, de forma rápida e sem meias palavras. - Então são três. Gosto quando tem mais de um para matar. O uivo da morte é uma música para os meus ouvidos, uma sonata na noite sem estrelas. Tenho um imenso prazer em matar bandido, porque sinto que estou fazendo justiça e sou a mão de Deus em cima desses criminosos. Os bandidos merecem morrer. Deixe comigo, não vou deixar nenhuma pista. – assinalou Amarildo, com largo sorriso nos lábios e crente de que era o carrasco contratado pela justiça divina. Amarildo pegou o envelope na hora marcada. Contou o dinheiro e verificou o endereço. Pelos nomes, já conhecia as vitimas, pois haviam participado de festas e orgias na casa de Jacó no último carnaval. Foi lá para fazer um programa com Jacó, que era homossexual. Para ele, não importava o serviço, o importante é que rolava dinheiro. Já passava da meia-noite de uma sexta-feira e os três estupradores estavam comemorando a última festinha com a mulher do delegado e preparando o próximo ataque, quando Amarildo bateu à porta: - Vá lá ver quem é, Márcio! – determinou Paulo. - Boa noite, o que o Senhor quer? Está procurando alguém? – perguntou Márcio. - Boa noite, eu gostaria de conversar um pouco com você e com os teus dois amigos que estão aí dentro. – respondeu Amarildo, com tanta calma, que até parecia que iria falar sobre amenidades. Nenhum dos três carteiros imaginava que estava abrindo a porta para a morte. Amarildo, com jeito tranquilo, foi logo entrando e sentou na primeira cadeira disponível. Os estupradores não estavam entendendo nada, mas a aparência do visitante era tão macia, que nem questionaram nada. - Mas o que o amigo quer conversar conosco? – perguntou Paulo, intrigado. - Coisas normais. – respondeu Amarildo, com sorriso malicioso. - Normais? Como normais? - perguntou Márcio. - Então... Acontece que eu vim, na verdade, cumprir uma sentença. – respondeu Amarildo, com a mão na pistola 45. Nesse instante Paulo entendeu o real motivo da visita de Amarildo, mas não teve mais tempo para nada. O matador disparou um tiro no peito de cada de um, que caíram no chão na hora. Em seguida, ele cumpriu a determinação do delegado Silva, dando um tiro na nunca e um na testa em todos os três. Depois, tomou uns goles do conhaque que estava sobre a mesa e desapareceu na escuridão. Antes que a noite terminasse, o delegado Silva foi até a casa da rua sem saída para ver se tudo havia ocorrido conforme suas ordens. Como não tinha nenhuma falha, e muito menos alguém vivo, espalhou gasolina por todos os aposentos e ateou fogo. A casa era de madeira e não demorou muito para virar um monte de brasas. Quando o dia amanheceu, os três carteiros estavam carbonizados e a vingança do delegado Silva tinha sido saciada. O delegado Silva sabia que a hora de Amarildo também estava chegando. Antes mesmo de entrar em contato com o matador, investigou o endereço do mesmo, bem como o que ele fazia durante o dia e a noite. Isso porque, se Amarildo resolvesse abrir a boca, muita gente graúda iria junto com ele para a cadeia. Esperou trinta dias da execução dos carteiros e montou uma emboscada. Todos os finais de semana, o matador ia à casa de Rosilda, ficando lá sábado e domingo. Isso deu oportunidade para o Delegado agir com tranquilidade. Certo sábado chuvoso e frio, quando Amarildo e Rosilda dormiam, Silva pegou vários galões de gasolina e espalhou em volta da casa. A residência dela era de madeira, já bastante antiga, fazendo com que o fogo se espalhasse rapidamente. O Delegado ainda ouviu alguns gritos de socorro do casal, mas nada poderia ser feito, porque ele havia lacrado todas as janelas e portas do lado de fora. Nada restou da casa, e tudo foi resolvido, restando somente as cinzas dos corpos.

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