sábado, 27 de fevereiro de 2016

HABITANTE DO GUETO

A sina do andarilho/ Não é linda/ É pura lama.../ É ainda/ O capricho do destino/ Nem mesmo o frio da rua/ Faz com que mude/ Altere sua trajetória/ Vive protestando com o passado/ Carrega a imagem/ De algum triste episódio/ Repleto de ódio/ Considera-se vítima/ Impotente e fraco/ Viu que o caminho/ De andarilho/ Esfarrapado e sujo/ Pinguço e rejeitado/ É a única coisa que resta.../ Mostra ao mundo/ Que discorda da pena/ Que o cruel destino/ Desenhou para si.../ Pesada pena/ Nem julgamento mereceu/ Foi jogado direto/ Na lama/ Da lama fez a sua casa/ Dormindo na calçada fria/ Nos dias quentes e frios/ Conversa sozinho/ Com ódio do mundo/ Criou seu próprio mundo.../ Não pede comida/ Alimenta-se com restos/ Que sobram/ Nos lixos e lixões/ Dos bairros ricos/ Carrega dentro de si/ Profunda revolta/ Enquanto o rico/ Vive de festa/ Ignorando o pobre/ Ele abraça/ E anda de mãos dadas/ Com a sujeira deixada/ Pela sociedade burguesa/ Não fala com ninguém/ É mudo para os burgueses/ Apenas troca algumas palavras/ Com os fregueses/ Das ruelas e/ Recantos escuros/ Da parte pobre e/ Esquecida das frias metrópoles/ Ele não vive muito/ Como frequentador noturno/ Faz dos viadutos/ A sua mansão.../ Não reza/ Não precisa/ O céu esqueceu dele/ As casas de oração/ Foram feitas para os burgueses/ Hipócritas de plantão/ Descarregarem sua pobre e/ Podre consciência.../ Senta na frente das igrejas/ Olha para cada pessoa/ Que sai/ Todos bem arrumados/ No final da missa/ Não vê e não sente/ Nenhuma sinceridade/ Simplesmente foram/ Cumprir uma formalidade/ Depois segue para a escuridão/ Porque a claridade/ Mostra seu corpo sujo/ Rejeitado por um mundo/ Preocupado com a riqueza/ Sua vida/ Logo vai terminar/ Não conseguiu germinar/ Nada em sua volta/ Filho de pobre/ Fez da sua vida/ Um coquetel de tragédias.../ Até que um dia/ O rico.../ Aquele burguês/ O granfino do vale das mansões/ Com seu carrão/ Acabou com sua vida/ Passou por cima de seu/ Pobre corpo/ Dominado por germes/ De todas as espécies/ Não deu socorro/ Nem precisa/ É a limpeza que a sociedade/ Burguesa faz com os pobres e/ Andarilhos do mundo.../

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