Fantasma da Noite

Preciso conversar com os pássaros da noite... Sobre o que aconteceu com os viajantes noturnos... Com os caminhantes das madrugadas... Ouvir um pouco mais as suas histórias... Talvez passar algumas horas... Com as miserentas das esquinas... As prostitutas de plantão... Sentir nelas o perfume... Que exala... Após uma longa noite de sexo... Ainda tenho o germe da boemia... O sangue continua contaminado... Com as bebedeiras... Meu pulmão está repleto de fumaça... Mesmo sem nunca ter fumado... Às vezes passo uma noite inteira... Ouvindo conversas... Sussurros vindos dos locais... Outrora visitados... Que hoje não existem mais... Apenas imagens que se perderam na memória... As ruelas... As luzes vermelhas... Símbolos de orgias... Perderam-se pelo tempo... Tudo foi embora... Nada foi registrado... Existem somente no coração do boêmio... Os salões de baile... Onde as borboletas da noite... Cantavam com os fregueses... Foram colocados abaixo... Nada é como antigamente... Somente os poetas da noite... Relembram os grandes momentos... Assim é a vida... Dos homens da noite... Reis que não reinam mais... O tempo mudou suas atitudes... Amantes que perderam o glamour... Já não tem o perfume dos conquistadores... Vivem conversando com os fantasmas... Que teimam em acompanhá-los... Nas suas loucuras... No meu quarto... Ainda tem o perfume da última mulher... Que adormeceu nos meus braços... Não sai do recinto... Talvez por que tenha sido a despedida... Uma lembrança que vive dentro do coração... Com certeza o tempo não vai apagar... Ficará guardado para o resto dos dias... Quem sabe irá para o além...