domingo, 1 de julho de 2018

OS CHICOTES DA VIDA

Nasci na costa do Rio Uruguai/Na cidade de Nonoai/Rio Grande do Sul/Mas registrado em Chapecó/Comecei os meus dias/Comendo peixe frito/Polenta com leite/Carne de porco com mandioca/Na beira de rio/E andando pela terra vermelha/Acompanhado pelos amparadores do universo/Enfrentei todas as tempestades possíveis/De pé descalço/Ou quando muito/Usava uma velha alpargata/Doada por uma tia/Que mais parecia ser minha mãe/Que nunca tive/Saía bem cedo/Para vender pé-de-moleque e doce-de-leite/Nas ruas empoeiradas da minha terra/Para ajudar nas despesas da casa/Muitas vezes com frio e fome/Chorava/Porque tinha medo de chegar à casa/Isso porque muitas vezes/Era espancado com vara de marmelo/De uma Senhora que se dizia/Minha avó/Que na verdade foi o carrasco da minha infância/Que me privou de conhecer e conviver com o meu pai/Se chegasse com a sexta cheia/Tinha que vender tudo/De qualquer jeito/Minha infância/Foi violenta/Nunca relatei o que estou relatando/Faço desses versos/Uma porta aberta das minhas angústias/De que viver/É apanhar da vida/Não de pessoas estranhas/Muitas vezes da própria família/Foi nesse meio social oprimido/Que cresci/Repleto de cicatrizes/Marcas na alma/Cortes profundos no coração/Reflexos de uma infância violentada/Como guanxuma nunca quebrei/Me dobrei com o ataque dos inimigos/Sem conhecer o que era brincar/Nunca fui tratado como criança/E sim como homem/Que precisava trabalhar/Era cobrado pela falta de alimento/Dormia no chão batido/Acumulei muitas revoltas/Erros/Que foram responsáveis pelas desesperanças/Dos equívocos da caminhada/Hoje quando o sol da existência/Caminha para o final da tarde/Não me resta outra alternativa/A não ser/Mudar/Procurar o canto da alegria que nunca existiu/Dentro do meu coração/Esquecer os carrascos da infância/Olhar com olhos de águia/Afiar as garras/Voar bem alto/Sozinho/Sem ninguém por perto/Para ditar o tamanho dos passos/Prefiro morrer na solidão de um caixão/Do que ser policiado/Por um mundo/Que nunca me valorizou/Foi assim que o Pai do céu/Escreveu o meu destino/Talvez por saber que poderia suportar/Ficar distante de pessoas/Que querem chicotear os restantes dias da vida/Correndo maratonas/Aqui e acolá/Vou pintando de branco/As partes escuras da alma/E costurando os cortes/Do meu coração/Fazer das lágrimas/Canção que acalente os meus últimos dias/As minhas noites/E os sonhos de um vivente/Que viveu uivando/Como lobo das noites sem lua...

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