terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

AMANTE DE UMA MORTA

AMANTE DE UMA MORTA O sereno da madrugada beijava as nossas faces. Um leve vento frio bailava sobre nós. Tínhamos saído de um baile, onde dançamos muito. Ainda faltava algo especial, que iria nos fazer felizes por um momento. Caminhávamos pela Rua Conselheiro Mafra, sem nenhuma vontade de ir dormir, mas sim, nos entregarmos amorosamente. Em cada esquina fazíamos uma parada, para degustarmos longos beijos. Ela usava um vestido preto, transparente, mostrando profundo desejo de ser amada do jeito selvagem, diferente e longe de uma cama. Sempre foi assim, desde o nosso primeiro encontro, ela procurava lugares públicos para fazer amor, de preferência, antes do dia clarear. Eu conhecia muito bem os desejos daquela mulher, fazia dela o que bem queria, em troca, recebia ardentes beijos, abraços e palavras sussurradas de elogio no ouvido. Tudo estava quieto e ninguém se fazia presente. Os bares estavam fechando. As prostitutas estavam prestando conta aos gigolôs. Sem dizer nada, ela me pegou pela mão, levou-me para um casarão antigo, onde a luz da lua penetrava levemente nos aposentos rodeados por teias de aranha. Peguei-a pela cintura, encostei-a na parede, sem nenhuma cerimônia, fiz tudo que o momento exigia. Ela, entre gemidos e pequenos gritos de prazer, foi declarando que eu era o homem de sua vida. Cada palavra dita por ela era um carinho que recebia, de forma selvagem. Estávamos exaustos de tanto sexo, sentada no chão, sem calcinha, fez uma revelação, que mexeu profundamente comigo... - Pedro, vou contar-lhe uma coisa que talvez te deixe estarrecido. Eu moro aqui neste casarão há mais de 200 anos. Você não percebeu ainda que nós nunca nos encontremos durante o dia, e, que eu sempre fico por último aqui? Estamos nos encontrando todos os domingos há mais de cinco anos e você nunca se interessou em saber quem sou eu. Nunca quis saber onde moro e quem são os meus pais. Pois escute a minha história: se você realmente me ama, como afirma, vai continuar me encontrando no baile e, depois, a gente vem terminar a nossa noite. A revelação de Leila foi estrondosa. Sem palavras concordei em ouvir a história dela. Enquanto ela ia falando, eu ia levantando as calças, tentando encontrar uma saída. Leila estava praticamente nua, ainda suada, molhada sensualmente, fez a revelação: - Há 200 anos, eu morava com os meus pais neste casarão. Meu pai era militar e, minha mãe, do lar. Como única filha, tinha todos os cuidados que uma moça da época exigia. Linda e desejada pelos homens da antiga Desterro, não faltava quem quisesse me pedir em casamento, mas eu não queria ser mulher de um homem só, os meus desejos iam muito além do que se praticava naquele tempo. Certa noite, num domingo de um verão do ano de 1821, eu saí a caminhar pela rua, pois estava quente demais. Acabei encontrando um homem bem vestido e muito bonito. Iniciamos um romance que durou dois anos. Desde àquela época eu só gostava de fazer amor de pé, encostada na parede ou de quatro, no chão empoeirado de um lugar ermo. Ele satisfazia todos os meus caprichos de mulher fogosa. Num domingo, quando estávamos fazendo as nossas aventuras amorosas, fomos surpreendidos por dois homens violentos. Eles mataram o meu namorado com duas facadas no peito. Depois de me estuprarem de todas as formas, e por muito tempo. Em seguida enfiaram um punhal no meu coração. Eles fizeram isso porque eu os conhecia, eram filhos do Governador da época. Para esconder o meu corpo, fizeram um buraco no mesmo local do crime. O mais incrível é que eu os presenciei enterrando o meu corpo. Fiquei por ali por um longo tempo, para tentar encontrar explicação do que acontecera. Em seguida, fui para casa. Os meus pais estavam aflitos à minha procura. Eu tentava falar com eles e não conseguia me fazer presente. Depois de alguns anos, eles morreram de desgosto e de saudade de mim. Eu vim morar aqui, como alma do outro mundo. Muitas famílias habitaram este local, mas não por muito tempo, porque eu me fazia presente e as pessoas acabavam indo embora com medo. Essa é a minha vida Pedro. Você quer continuar sendo o meu homem, namorando uma morta, um fantasma? Não disse nada para Leila. Levantei-a, encostei novamente na parede, com o rosto virado para a parede, e fiz o que ela mais gostava na arte de fazer amor... Enquanto vivi na terra, todos os domingos eu me arrumava e ia me encontrar com a minha fantasma, a minha namorada do além...

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