quinta-feira, 22 de setembro de 2016

O ARTISTA DO GUETO

Tem que ser assim/ Assim tem que ser.../ É ali.../ Onde sacia a sede.../ Sede que nunca termina.../ Canta para viver/ Escreve para remediar a alma.../ Remédio difícil de encontrar.../ Disputado quando encontrado.../ Até parece ouro.../ A prata encontrada no clarear da lua.../ Com a gaita e o violão/ Vive de canto a canto.../ Nos recantos sujos.../ Decadentes para os moralistas.../ Nos lugares boêmios.../ Canta para os loucos/ Amigos da aguardente.../ Faz da voz/ O som para/ Os degradados da vida.../ É uma parte da sociedade/ Que é desconhecida.../ Sofre preconceitos/ De toda ordem/ Marginal.../ Vive à procura da luz do sol/ Já que vive na escuridão.../ Quando canta/ Os ouvintes/ Com o copo na mão/ Jogam-se nas lembranças do passado.../ Pedem mais.../ O cantor canta outra música/ E assim vai.../ Enquanto acalenta o coração dos outros.../ O seu.../ Continua na sofreguidão da melancolia.../ Sente falta da mulher amada/ Que ficou em casa.../ Ou que fugiu de casa.../ Porque não suportou a ausência do cantor.../ Solitária canção.../ Canção amargurada.../ Que transpassa o coração.../ Fere a alma.../ Mas o cantor/ Não pode parar.../ Porque faz da gaita.../ Do violão.../ Os instrumentos que sustentam a sua vida.../ No final da noite.../ Quando todos vão embora/ Cambaleantes de tanta aguardente/ O cantor/ Cansado de tanto cantar.../ Vai caminhando nas ruelas escuras/ Para bater à porta da sua casa/ Quer amar a mulher da sua vida.../ Mas ela.../ Cansada de tanto esperar.../ Está adormecida.../ Com o som das músicas tocadas/ Durante a noite inteira.../ O cantor desfalece.../ Adormece.../ É assim a rotina/ Dos cantores.../ Dos artistas.../ Confinados nos guetos/ Pela estratificação social/ Assim são eles.../ Sobreviventes da noite.../

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